Universidades e coronavírus: ciência e solidariedade no combate à pandemia

 

Em meio à crescente onda de ataques e cortes, a ciência prova, mais uma vez, que é um investimento essencial à sociedade. Nenhum setor tem papel mais importante no combate ao novo Coronavírus. São diversos os exemplos promissores realizados em instituições e universidades por todo o Brasil.

A Fiocruz, no Rio de Janeiro, tem sido a principal referência nacional na batalha contra a doença. Desde a divulgação de pesquisas e informações relevantes até ações práticas de combate à pandemia, a Fundação coordena treinamentos, construção de leitos e viabiliza equipamentos de proteção.

Universidades intensificam pesquisas

Assim como a Fiocruz, as instituições públicas de ensino superior têm se dedicado energicamente ao entendimento e à supressão do vírus.

UFRJ e UFMG participam do sequenciamento genético do novo vírus, o que permite abrir um banco com informações sobre a identidade que o microrganismo está ganhando desde que desembarcou no Brasil, e contribui para a elaboração de novos testes de diagnóstico. Na USP, pesquisadores estão desenvolvendo uma vacina para o Coronavírus, com expectativa de testar em animais e humanos em alguns meses.

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está recrutando profissionais e estudantes da área da saúde para pesquisa sobre a prevalência do Coronavírus na população de Pelotas. O estudo irá levantar a proporção de casos da doença e auxiliar na elaboração de estratégias de saúde pública no combate à pandemia.

Na UFSM, professores projetaram um adaptador para automatizar respiradores artificiais manuais (foto abaixo), equipamento vital no tratamento da doença. A estimativa é que 20 possam ser produzidos por semana, além de consertos em aparelhos que estejam parados em hospitais e instituições de saúde. O Hospital Universitário foi incluído no plano de contingência como uma das instituições de referência no estado.

Pesquisas e ações de solidariedade na UFRGS

Na UFRGS, laboratórios começaram na terça-feira (24) a fabricação, em impressoras 3D, de máscaras faceshield, que serão utilizadas por profissionais da saúde no atendimento de pessoas diagnosticadas com a doença, enquanto um grupo de trabalho integrado por docentes participa de testes de desinfecção de áreas públicas com drones, para facilitar o controle do vírus.

Outro projeto da UFRGS disponibiliza dois sites de acompanhamento de dados sobre casos de Covid-19, reunindo mapas e gráficos informativos, visando ao combate à desinformação e à subnotificação. No Instituto de Ciências Básicas da Saúde, voluntários se preparam para realizar, a partir da próxima semana, até 500 testes diários de diagnóstico, principalmente em profissionais de saúde envolvidos na linha de frente, para conter a disseminação entre as equipes médicas.

O Instituto de Psicologia da UFRGS divulgou orientações para auxiliar as pessoas neste momento de isolamento social, provocado pelo novo coronavírus.

Além disso, um grupo professores criou a Rede de Solidariedade com e pela comunidade contra o coronavírus. A iniciativa, que surgiu na Faculdade de Farmácia, rapidamente reuniu professores e estudantes de graduação e pós-graduação das mais diversas áreas do conhecimento. A Rede tem angariado donativos e levado álcool gel, equipamentos de proteção e insumos para a higiene até comunidades vulneráveis, como a Vila Cruzeiro e o Morro Santana, em Porto Alegre. A professora Denise Bueno, uma das organizadoras da rede, falou sobre a iniciativa no programa Voz Docente dessa semana. Ouça aqui.

Veja aqui um painel da UFRGS com orientações e informações atualizadas sobre o combate à pandemia.

Carência de recursos

Apesar dos alertas de que iniciativas deste tipo demandam investimentos, educação, ciência e tecnologia foram áreas muito afetadas por cortes orçamentários e, principalmente, por cortes de investimentos e de bolsas para a pós-graduação, responsável por grande parte das pesquisas nas instituições de ensino superior.

O ataque mais recente é uma proposta do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) que anula os recursos para investimento do Conselho Diretor do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em 2020, o que pode paralisar a produção científica do país. Chamado de Plano Anual de Investimentos 2020 para Recursos Não Reembolsáveis, o projeto ignora os recursos para investimento do CNPq orçados pela Lei Orçamentária Anual, que eram de R$ 79,3 milhões.

Em 19 de março, o MCTIC publicou a Portaria nº 1.122, estabelecendo como “prioritárias” as áreas de Tecnologias. Após pressão da comunidade científica, recuou e na segunda-feira (30) publicou a Portaria nº 1.329, que considera também prioritários “os projetos de pesquisa básica, humanidades e ciências sociais que contribuam para o desenvolvimento das Áreas de Tecnologias Prioritárias do MCTIC”.

Em paralelo, o governo publicou nova portaria ampliando ainda mais os cortes de bolsas na Capes, já realizados anteriormente. A determinação, que partiu do Ministério da Educação (MEC), foi repudiada por diversas entidades representativas. “No momento em que o país enfrenta a pandemia da covid-19, a atitude arbitrária da Capes é gravíssima e contrária aos interesses da sociedade, tendo em vista que os pesquisadores têm papel relevante no enfrentamento dessa crise de saúde pública”, alerta a Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades Federais.

“Neste momento de crise sem precedentes, devido à chegada da pandemia de Covid-19 nas Américas, mais que nunca precisaremos de recursos humanos e financeiros nas mais diversas áreas necessárias ao enfrentamento desta situação única, urgente e que trará graves prejuízos econômicos e sanitários”, acrescenta nota dos Coordenadores de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs).

MPF recomenda que Capes suspenda corte de bolsas

O Ministério Público Federal expediu recomendação para que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) revogue a portaria 34, que mudou o critério para concessão de bolsas de pós-graduação. A mudança resultou no corte de vários auxílios para pesquisas de mestrado e doutorado.

Segundo o MPF, a portaria resultou na “abruta suspensão da concessão de bolsas de mestrado e doutorado” e a Capes “não divulgou o número exato de bolsas canceladas/cortadas, tampouco a motivação da edição da Portaria nº 34”. Além da suspensão, o procurador regional dos direitos do cidadão, Enrico Rodrigues de Freitas, solicitou explicações sobre a mudança implementada pela agência de fomento e o impacto que terá.

 

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