Ex-reitor da UFRJ, Roberto Leher repudia criação da Associação dos Reitores das Universidades Federais do Brasil

Foto: Zo Guimarães/Folhapress

O professor Roberto Leher, ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgou, no sábado (5), nota de repúdio à criação da Associação dos Reitores das Universidades Federais do Brasil (Afebras). A entidade, constituída oficialmente em 3 de fevereiro, reúne seis dirigentes nomeados arbitrariamente pelo governo Bolsonaro.

Integram a Afebras  reitores das universidades da UFC, UNIFERSA, UNIFEI, UFRA, UNIVASP, UFVJM, todos empossados à revelia das consultas às comunidades acadêmicas e das listas tríplices aprovadas pelos conselhos das universidades. Leher denuncia que a nova entidade busca enfraquecer a  Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que vem participando da resistência aos cortes de verbas, intervenções e ataques do governo Bolsonaro às universidades. A Andifes reúne 69 universidades federais, dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) e dois Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifets).

Um divisionismo útil ao governo federal

Cristina Carvalho, vice-presidente do ANDES/UFRGS, identifica na Afebras uma manobra do governo Bolsonaro: “uma entidade subserviente ao governo e com a qual ele poderá negociar nos seus termos”.

Outras tentativas de dividir as universidades federais já foram ensaiadas desde 2019: o projeto Future-se acenava para a disputa de recursos entre instituições que já viviam o sufoco orçamentário.

A criação de uma entidade paralela, dedicada a trocar favores com o governo, é uma nova manobra; mas não é uma ideia original, como sabemos pelas tentativas persistentes de dividir o movimento docente.

Necessidade de um movimento nacional contra as intervenções

O ex-reitor Leher prevê que a Afebras não se consolidará, mas chama atenção para a necessidade de um “amplo movimento nacional, articulado e protagônico” para barrar as nomeações interventoras. “As resistências locais, importantíssimas, não foram (e nem poderiam ser) suficientes para reverter o movimento de intervenções”, pontua.

Leher lembra, ainda, que mesmo dentro das IFEs existem aliados do conservadorismo. “É doloroso, mas é preciso observar que, além dos segmentos universitários que ‘assumiram posição pró guerra cultural bolsonarista’, como os que assinam a perniciosa “associação” de reitores, outros, por omissão, conivência e “senso de oportunidade” alimentaram, com seu ‘silêncio obsequioso’ e com acordos subterrâneos, a falsa legitimidade de um governo imbuído do objetivo de empreender uma devastadora guerra cultural contra a liberdade de cátedra, a ciência, a arte e a cultura”.

Por isso, o professor destaca a necessidade de que “a frente de esquerda se constitua e ouse uma agenda construtiva para a educação pública brasileira. Esta agenda é muito mais ampla do que a esfera educacional, exige mudanças na correlação de forças para que seja possível enfrentar os entraves estruturais do capitalismo dependente. No plano imediato, urge unidade de ação para revogar a EC no 95/2016, a autonomia do Banco Central, as (contra) reformas trabalhista e previdenciária e para estabelecer estratégias de universalização de trabalho digno, desconstituir as medidas em desacordo com os valores socioambientais, os direitos humanos etc”.

Leia aqui a nota completa de Roberto Leher.

Ex-reitor da Ufes também critica entidade

Ex-reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) por dois mandatos, o professor Reinaldo Centoducatte também condenou publicamente a criação de uma entidade paralela de reitores.  “Estamos falando de um grupo de reitores nomeados por um governo autoritário, com ausência de projetos e legitimidade. É um ataque direto à autonomia”, publicou nas redes sociais.

“A Andifes é a legítima representante dos dirigentes escolhidos democraticamente, com as referências nos estudantes, servidores docentes e técnicos-administrativos. Essa associação paralela não vai prosperar!”, acrescentou.