Faltando pouco mais de 30 dias para o provável retorno presencial gradativo das atividades presenciais na UFRGS, docentes, técnicos e estudantes experenciam os reflexos de uma Administração Central desinteressada pela segurança e organização dos campi. Cada Unidade tem sido obrigada a planejar protocolos, dinâmicas e agendas de aulas e demais atividades, sem um amparo mínimo e necessário por parte da Reitoria interventora, que joga para as Direções a responsabilidade do retorno seguro.
Unidades adotam diretrizes do Comitê Covid
A Faculdade de Educação (Faced) compôs um comitê de biossegurança para estudar medidas para o retorno, e é uma das unidades que definiu que o acesso ao prédio estará condicionado ao passaporte vacinal – exigência negligenciada pela Portaria nº 5851, mesmo tendo sido apontada pelo Comitê Covid e pelo Conselho Universitário (Consun).
“Conforme determinação do Consun, para a entrada ao prédio e acesso às atividades presenciais, é imprescindível apresentar o comprovante de vacinação contra a Covid-19. Os servidores deverão apresentar para a chefia imediata, e os estudantes para o responsável pela organização da atividade”, diz o plano de retorno presencial restrito, elaborado a partir de questionários, reuniões com vários setores e discussões envolvendo docentes, discentes e TAEs da Unidade.
“Foram analisadas as condições de segurança sanitária; a disponibilidade e as forma de utilização do espaço físico; o número de vagas das disciplinas; conformação de grupos de risco por parte de docentes, discentes e técnico-administrativos; a necessidade de ajustes de horários para conciliar disciplinas presenciais restritas e no formato ERE; a possibilidade de, nas disciplinas eleitas para atividades de presencialidade restrita, manter a oferta da atividade online”, explica Laura.
Lavar as mãos não previne o vírus
“A Administração Central parece ter ‘lavado as mãos’ sobre o retorno presencial em toda a universidade, jogando para as unidades fazerem a sua própria organização”, critica o professor Dilermando Cattaneo da Silveira, que aponta a inexistência de qualquer adaptação sanitária no Campus Litoral Norte (CLN) por parte da Reitoria.
No Plano de Retorno, que está em debate no Conselho da Unidade, também se decidiu pelo respeito às instâncias superiores. “Há pressão da Reitoria com ameaças veladas (ou explícitas) de que a exigência do comprovante de vacina gere inúmeros processos judiciais que irão recair sobre diretores e gestores, além do receio em serem atacados por ‘milícias digitais’ bolsonaristas. Felizmente, apesar de alguns argumentos negacionistas, ‘opiniáticos’ e que buscam somente intimidar, o Conselho do Campus aprovou a exigência do comprovante, restando ainda aprovar o Plano de Retorno na íntegra”, adianta o docente.
Falta de estrutura
Na Escola de Administração, o desafio está em como introduzir a fiscalização, visto que a conferência da carteirinha não pode ser responsabilidade do vigilante por representar desvio de função. “Pensamos em cadastrar os passaportes de todos os servidores ao menos, mas não é algo simples de operacionalizar com a nossa estrutura. Este é o tipo de problema que enfrentamos pela omissão da Reitoria”, pontua Paulo Abdala, chefe do Departamento de Ciências Administrativas.
“Nos sentimos abandonados e preocupados com a relação autoritária estabelecida entre a Reitoria e as Unidades ou o Comitê Covid. Os atropelos e saltos de entendimento, como a polêmica do passaporte vacinal, não contribuem em nada para o já confuso cenário. Minha impressão é que o Reitor interventor não quer a volta das atividades presenciais. Talvez tenha medo das reações contra ele”, avalia.
Conforme decisão da Unidade, a graduação seguirá em modelo remoto em 2021/2. “Entendemos que não temos atividades prioritárias que necessitam ser presenciais. Sobre a Pós, a ideia é realizar algumas disciplinas do PPGA de modo presencial, até para testar os protocolos”, informa o professor, destacando duas preocupações centrais em relação ao prédio: equipe de limpeza com poucos funcionários e salas mal ventiladas. “Foram solicitadas obras de adequação para a Suinfra (Superintendência de Infraestrutura), mas até agora nada”.
Colégio de Aplicação
No Colégio de Aplicação, que enfrenta a pressão para acompanhar o calendário das escolas da rede estadual e municipal, o modelo presencial começou, de forma restrita, em 16 de novembro. Em setembro, o Colégio sofreu uma intervenção do Ministério Público Estadual, a partir de denúncia feita por um grupo de pais e mães.
“Isso acelerou e atropelou um pouco o processo e a organização, mas conseguimos estabelecer o Comitê de Assessoramento à Direção para operacionalização do retorno às atividades presenciais no CAp-UFRGS, que organizou um plano submetido e aprovado pelo Comitê Covid-19 da UFRGS. Cada turma, com número de alunos reduzido pela metade, vai uma vez por semana para a escola para encontros com diferentes professores, e cada equipe organizou esses momentos de acordo com o que era mais demandado pelos próprios estudantes. Mas o foco principal da direção foi acolhimento, respeito aos protocolos e retomada do convívio no espaço escolar”, explica a professora Mônica Bonatto.
Segundo Mônica, ainda não houve adaptações sanitárias no prédio, o que por enquanto não está sendo um problema em função da circulação bem reduzida. Contudo, as perspectivas para 2022 são incertas. “O diálogo entre equipe diretiva, docentes, técnicos-administrativos e famílias foi bastante truncado. Em alguns momentos foram apresentadas propostas prontas que não atendiam as demandas e preocupações da comunidade. O esforço é para que possamos avançar coletivamente, respeitando os processos democráticos de decisão”.
Descaso
“Temos uma interventoria imposta pelo governo genocida de plantão. A gestão tem descumprido decisões do Consun, desrespeitando recorrentemente a instância máxima da UFRGS. Alguém que insiste em se manter num cargo que não lhe pertence, dificilmente ouvirá ou se preocupará com o que pensa a comunidade universitária”, analisa a professora Laura Fonseca, da Faculdade de Educação (Faced).
Próximas notícias
Os professores ouvidos nesta edição são membros do Conselho de Representantes do ANDES/UFRGS. Nas próximas edições do boletim, traremos relatos de outras unidades, para construir um retrato do conturbado, difícil mas necessário retorno à presencialidade na UFRGS.