Justiça por Sarah Domingues

Lamentamos profundamente a morte da estudante Sarah Domingues, assassinada a tiros na terça-feira (23), enquanto tirava fotos em um bairro da periferia de Porto Alegre. Estudante de Arquitetura, ela era uma das principais lideranças estudantis de Porto Alegre.

“Sarah foi um vento rápido, que durou pouco, mas que teve um vigor inimaginável, abalou positivamente as esperanças de tod@s que a conheceram. Porque ela realmente, sempre sorrindo, acreditava na força que nos conduziria a uma sociedade melhor, uma sociedade que não fosse absurdamente violenta como a de agora que lhe roubou a vida”, relata José Carlos Freitas Lemos, diretor do ANDES/UFRGS que foi professor da jovem.

Militância

Militante e dirigente da União da Juventude Rebelião (UJR), Sarah também foi coordenadora do Movimento Correnteza, diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Diretório Central dos Estudantes da UFRGS, do Diretório Acadêmico da Arquitetura e membro do Conselho Universitário da UFRGS.

“Sarah dedicou sua vida à luta pela educação pública e uma nova sociabilidade, sem as marcas da violência e da insegurança que, infelizmente, nosso povo brasileiro é submetido todos os dias”, destaca o ANDES-SN em nota publicada na quarta-feira (24). No mesmo dia, foi realizada uma homenagem à aluna no campus central, no qual foi exigida a apuração do crime.

Reforçamos a necessidade de que o Estado investigue o caso e puna os responsáveis, assim como nossa solidariedade e sentimentos a familiares, colegas, amigos e companheiros de luta da jovem.

Sarah Domingues presente!

Justiça por Sarah!

Trajetória

Leia, abaixo, relato do professor José Carlos Freitas Lemos, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS.

“Eu acolhi Sarah em seu primeiro semestre, em 2015, numa disciplina de desenho à mão livre.  Interessante que, mesmo sem considerar o seu desempenho o melhor na época eu nunca esqueci a maneira que ela representava a figura humana. Era diferente dos outros, apenas diferente.

Em 2016, Sarah desabrocha para a política. É o ano das ocupações dos prédios de escolas e unidades nas universidades como resposta e contrariedade ao golpe que destituiu Dilma Roussef do cargo da Presidência da República. Sarah se revelou uma grande liderança na ocupação do prédio da Faculdade de Arquitetura pelos estudantes na época, e passou a orientar outros coletivos de estudantes. Tive muito contato com eles porque era o coordenador do curso. Sempre corajosa, aguerrida, perseverante e risonha (nunca perdia o sorriso).

Em 2017, reencontrei Sarah numa disciplina de projeto arquitetônico do quarto semestre. Ela havia feito a disciplina no semestre anterior e encontrava-se atuando como monitora. Creio que a disciplina foi um ponto de clivagem em sua vida. Tratava-se de uma proposta voltada a coletivos vulneráveis social e financeiramente que empreendiam ocupações urbanas, talvez o mais importante fenômeno sociocultural que age como programa habitacional em nossa contemporaneidade (nossa Constituição Federal garante o direito à habitação e existe uma imensidão de imóveis abandonados sem usos social ou uso algum nas cidades, apenas ociosamente esperando sua valorização pela especulação imobiliária). A disciplina ocorria na Ksa Rosa, e a proposta era os estudantes realizarem trabalhos de crítica, aprendizado e projeto que atendessem as demandas do coletivo ocupador.

Sarah nunca mais fez outra coisa no curso de arquitetura.

Passou a pensar somente no uso coletivo, no acesso democrático a universidade, aos direitos da cidade, a tudo o que ela pudesse interferir, e ninguém duvide da pequena grande Sarah, ela parecia um polvo que atendia a todos os cenários ao mesmo tempo. Atuava em partidos políticos, em movimentos estudantis, nas lutas do conselho universitário, no Movimento de mulheres Olga Benário, na Casa de Mulheres Mirabal, e ainda acreditava num curso que pudesse fazer o bem às pessoas pobres das cidades”.

Campanha para enterro em SP

A família de Sarah está arrecadando doações para que o enterro seja realizado em São Paulo, cidade natal da estudante. Quem quiser ajudar, pode fazer um pix para a chave jornalaverdade.juv@gmail.com.

 

Foto: Reprodução/redes sociais

 

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