Em roda de conversa, docentes criticam insegurança sanitária e falta de democracia nas universidades gaúchas

A falta de diálogo com a comunidade universitária e as ameaças ao futuro das instituições federais de ensino foram temas unânimes da roda de conversa “A Situação das IFs gaúchas quanto à retomada das atividades presenciais e ao orçamento”, promovida pela Regional RS do ANDES-SN na quarta-feira (3). No caso da UFRGS, a intervenção do governo Bolsonaro na nomeação de reitores foi lembrada como ainda mais grave, em um contexto já fragilizado pela pandemia e por sucessivas políticas de sucateamento.

Unidade de docentes, técnicos e estudantes

A importância da resistência unitária de docentes, estudantes e técnicos foi destacada como estratégia de combate à atuação das Administrações Centrais, que vêm implementando à risca as políticas verticais do governo federal. “Muito do que vivemos hoje é fruto desse processo violento que significou e vem significando a intervenção na universidade. Sempre lutamos por uma consulta paritária, é uma luta antiga. Vamos gritar para destituir essa reitoria até o fim desse mandato”, afirmou a professora Magali Menezes, presidenta do ANDES/UFRGS.

“A UFSM já havia conquistado a consulta paritária. Mas, sob o argumento de se blindar da intervenção do governo federal, o Conselho Universitário aprovou a realização de uma pesquisa de opinião. Essa situação foi pouco debatida – praticamente só entre reitoria e conselheiros”, relatou Laura Fonseca, presidenta da Sedufsm, acrescentando que, mesmo com a tática de substituir a tradicional consulta pela pesquisa de opinião eletrônica, o Judiciário interveio e decretou que a pesquisa também fosse realizada conforme a proporção 70/30 (70% de peso para votos de docentes, 15% para votos de técnicos e 15% para estudantes).

“Passado esse processo de escolha, temos observado que o grupo escolhido está sendo inclusive apoiado por deputados bolsonaristas”, critica a dirigente, atentando para o fato de que as políticas do governo podem reverberar dentro da universidade mesmo que o resultado da consulta à comunidade nas eleições à reitoria tenha sido, até certo ponto, respeitado.

Evasão no Ensino Remoto

O modelo remoto de ensino e trabalho tem sido objeto de avaliação permanente por parte das seções sindicais e entidades estudantis, especialmente por desconsiderar a realidade socioeconômica desigual dos(as) estudantes brasileiros(as) e pela falta de condições para um acesso democratizado. Tal preocupação foi reforçada por Rafael Campos, dirigente da Sesunipampa.

“A reitoria não ofereceu estrutura ou acesso aos estudantes para terem suas aulas a distância. Tivemos um índice altíssimo de evasão nesse um ano e meio de pandemia. Percebemos que os discentes não conseguem acompanhar, por falta de estrutura familiar, socioeconômica, e diversos tipos de problemas”, comentou o professor.

Valdelaine Mendes, representando a UFPel, assinalou que a reitoria, tal qual a maior parte das outras Administrações Centrais, também tem tomado decisões relativas à pandemia de forma verticalizada. Enquanto assume externamente uma postura crítica ao governo, explica a docente, a gestão constrói suas políticas internas de forma antidemocrática, baseadas essencialmente em formulários online. A obrigatoriedade de gravação das aulas, aprovada pela UFPel, também foi criticada pela professora pois, além de poder se configurar como instrumento de perseguição, trouxe prejuízo pedagógico ao desobrigar estudantes de estarem presentes nos encontros síncronos.

Segurança sanitária demanda mais verbas

Marcia Umpierre, presidenta da Aprofurg, reforçou a importância da pressão das entidades da comunidade universitária para garantir a exigência de comprovação vacinal para o retorno presencial na FURG, algo que não fazia parte da proposta inicial da reitoria. A seção sindical também vem cobrando da Administração uma discussão séria a respeito das condições de trabalho docente, visto que, neste período, não foram poucas as denúncias de assédio moral e os registros de adoecimento físico e psíquico na categoria.

No IFRS, a pressão também conseguiu a exigência do passaporte vacinal. “Mas ainda não temos expectativas de avanço em relação à aquisição de máscaras ou à testagem para termos rastreabilidade dos casos. A gestão não sabe para onde ir e, diante da pressão principalmente das Câmaras de Vereadores das cidades da serra, compromete nossa segurança sanitária”, critica André Martins, presidente do SindoIF.

Na UFRGS, contrariando o Comitê Covid, a Reitoria emitiu portaria autorizando atividades presenciais restritas, sem a exigência do comprovante de vacina. Magali Menezes relatou que o orçamento para 2021 é menor do que o executado em 2020, e que nas palavras do Pró-Reitor de Inovação, a “economia possibilitada pelo ensino remoto” permitiu que a universidade funcionando. A universidade precisa de um aporte maior de verbas para garantir as condições sanitárias para o retorno presencial restrito no próximo semestre. O que temos, ao contrário, é um quadro de precarização, pois diversos postos de trabalhadores(as) terceirizados(as) fossem cortados, comprometendo a segurança, a limpeza e manutenção de salas, laboratórios e demais áreas comuns.

Já na Sesunipampa, onde as atividades administrativas estão retornando à presencialidade com escalonamentos imprecisos, a discussão do plano sanitário do ANDES-SN foi encaminhada para a reitoria, que não deu retorno à entidade. “Tudo que tem sido feito pela reitoria não tem passado pelo Conselho Universitário. Tudo é feito mediante portaria. Criou-se um conselho particular, que não dialoga sequer com as instâncias regimentais”, lamentou Campos.

“O funcionamento da Unipampa diante das condições mínimas estabelecidas nos protocolos da própria universidade, é impossível e inviável. A Unipampa, como tantas outras IFEs, corre o risco de abrir o ano sem condições de funcionamento adequadas. O cenário é de caos. Eu torço para que o avançar da vacinação evite uma disseminação incontrolável dentro da comunidade acadêmica”, acrescentou.

A roda de conversa promovida pela Regional RS do ANDES-SN foi gravada e, em breve, será disponibilizada para visualização.

Com informações de Bruna Homrich, da Assessoria de Imprensa da Sedufsm