Sem política de retomada das atividades presenciais com segurança, na UFRGS a Reitoria interventora desvia o foco tentando aprovar o calendário acadêmico antes de qualquer definição sobre como será o ano letivo.
Na sessão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da última quarta-feira (15), vários conselheiros destacaram a importância de ouvir a comunidade acadêmica, que soube da proposta de “três semestres letivos em 2022” por reportagem da Zero Hora. A apreciação do cronograma para o ano letivo de 2022 foi interrompida por um pedido de vista da professora Elisabete Búrigo, do Instituto de Matemática e Estatística. O tema deverá ser retomado em janeiro.
Solidariedade entre mães docentes e estudantes
Um grupo de professoras do Instituto de Matemática e Estatística enviou carta aos conselheiros do CEPE, enfatizando a importância de uma decisão democrática sobre o calendário.
“Sabemos que o calendário afeta toda a comunidade acadêmica, já bastante impactada por três semestres de ensino remoto emergencial e com as mais diversas dificuldades e perdas causadas pela pandemia”, explanam as docentes, avaliando que um semestre letivo compreendendo de novembro a abril poderia penalizar diferentes grupos.
“Chamamos atenção na dificuldade de oferta de creches e escolinhas nos meses de janeiro e fevereiro, prejudicando em especial aqueles que têm apenas as escolas como alternativas no cuidado das crianças durante as atividades acadêmicas. Com relação aos discentes nesta situação, enfatizamos ainda que estes já vêm sendo prejudicados desde o começo da pandemia, com os cuidados necessários via isolamento social, e também com o fechamento das escolas. Por fim, observamos que o semestre 2021/2, que abrange boa parte do mês de janeiro e todo o mês de fevereiro de 2022, já é o segundo verão consecutivo com aulas”, acrescentam.
Discussão invertida
“Temos duas prioridades anteriores: o retorno presencial como uma condição de qualidade e inclusão, porque o ensino remoto exclui muita gente. E precisamos ouvir a comunidade universitária”, afirmou a conselheira Elisabete durante o debate, lembrando que ainda não estão garantidas as condições sanitárias adequadas para o uso adequado dos campi.
“Estamos discutindo o calendário antes de saber se vamos ter o retorno presencial. Temos muitas salas com janelas que não abrem. Vamos precisar de muitas reformas, e precisamos retornar ao presencial porque precisamos das aulas práticas, de convívio entre as pessoas e de condições para estar na universidade, sobretudo para estudantes que não têm equipamentos adequados ou como estudar em casa, e pela qualidade do ensino sobre as quais nós, do CEPE, somos responsáveis”, defendeu a docente.
Calendário
O semestre letivo 2021/2 começa em 17 de janeiro e se encerra em 18 de maio de 2022.
Pela proposta da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), o período 2022/1 teria início em 13 de junho e fim em 27 de outubro, e o período 2022/2 iria de 24 de novembro de 2022 até 19 de abril de 2023. Ao fim e ao cabo, se avançaria um mês em um ano. Cada intervalo entre os períodos teria menos de um mês de duração, além de um recesso de 26 a 30 de dezembro de 2022, para as festividades de fim de ano.
“Claro que há uma motivação justa de reduzir os prejuízos decorrentes de uma pandemia e da nossa resistência de entrar num ensino remoto porque sabíamos que teríamos uma perda importante em relação ao presencial. Mas o momento é de decidir, com calma e em conjunto, como queremos retornar”, enfatizou Elisabete, apelando que o cronograma 2022/2 só seja definido após a provável experiência presencial de 2022/1.
A proposta de adiar a decisão sobre o semestre 2022/2 também foi apoiada pelos conselheiros Pedro Daniel Soares, representante discente, e Daniele Cunha, docente do Colégio de Aplicação.
ANDES/UFRGS reforça importância do retorno seguro
Em carta enviada ao CEPE no mesmo dia da sessão que teve a votação adiada, o ANDES/UFRGS enfatizou que a prioridade deve ser o retorno presencial seguro e com qualidade de ensino. “É preciso conquistar e alocar verbas que viabilizem salas de aula e laboratórios arejados, máscaras para todos e todas, restaurantes universitários com capacidade adequada, em acordo com as diretrizes do Comitê Covid”, especificou a Seção Sindical, lembrando que, mesmo que realinhar o ano letivo com o calendário civil seja um objetivo importante, “não pode ser forçado ou artificializado”.
“No retorno à presencialidade, será preciso reorganizar o acesso aos campi e aos prédios, redimensionar turmas e horários de ocupação das salas. Na interação com a comunidade externa, será preciso respeitar a dinâmica própria das escolas, dos serviços de saúde e de outros espaços nos quais os estudantes da UFRGS realizam práticas e estágios. Haverá muitas situações imprevistas e precisaremos reaprender a ensinar e estudar garantindo, ao mesmo tempo, a qualidade de ensino e a segurança de todos”, afirma o documento, frisando que o calendário de 2022 deve ser construído com a participação da comunidade, ao longo do ano, “considerando a realidade dos diferentes cursos, as condições reais de oferta das disciplinas e de participação dos estudantes”.
A próxima sessão do CEPE ainda não tem data, mas deve acontecer em janeiro.