“A ida à Brasília foi fundamental como movimento de sequência ao processo para a aprovação da destituição.”

Na última segunda-feira (4), o ANDES/UFRGS participou da entrega, ao Ministério da Educação (MEC), de cópia do parecer do Conselho Universitário (Consun) que aprovou a destituição da Reitoria Interventora da UFRGS.

Acompanhe, abaixo, entrevista exclusiva com o professor José Carlos Lemos Freitas, vice-presidente da Seção Sindical que integra o Conselho Universitário e participou de todo o processo que levou à decisão do maior órgão deliberativo da UFRGS, em 30 de novembro.

Na última segunda-feira (4), o ANDES/UFRGS participou da entrega, ao Ministério da Educação (MEC), de cópia do parecer do Conselho Universitário (Consun) que aprovou a destituição da Reitoria Interventora da UFRGS.

Acompanhe, abaixo, entrevista exclusiva com o professor José Carlos Freitas Lemos, vice-presidente da Seção Sindical que integra o Conselho Universitário e participou de todo o processo que levou à decisão do maior órgão deliberativo da UFRGS, em 30 de novembro.

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O que podemos esperar após reunião realizada nesta semana entre as entidades da UFRGS e o MEC?

A ida à Brasília foi fundamental como movimento de sequência ao processo para a aprovação da destituição no Conselho Universitário da UFRGS da dupla de reitores interventores. O grupo que embarcou para essa importante missão foi constituído pelo segundo Vice-Presidente Nacional do ANDES-SN, Luís Eduardo Acosta, pela segunda Presidenta da Regional Sul do ANDES-SN, Maria Ceci Misoczky, pelo presidente da Seção-Sindical ANDES/UFRGS, Guilherme Dornelas Camara, pelos coordenadores gerais da ASSUFRGS, Gabriel de Freitas Focking e Tamyres Carvalho Filgueira, pelo coordenador geral do DCE-UFRGS, Matheus Fonseca, e pela Deputada do PSOL, Fernanda Melchiona, presença constante desde a sessão do Consun que deliberou pela destituição.

É muito importante dizer que o protagonismo dessas entidades no ativismo político em prol da destituição na UFRGS foi parte da resistência desde a nomeação dos interventores, no início do regime de governo que flertou com o fascismo em nosso país. O ANDES-SN, por exemplo, esteve à frente de todas as lutas políticas contra as intervenções que ocorreram em outras universidades de várias regiões do Brasil. E as assessorias jurídicas destas entidades sindicais foram fundamentais para dar amparo e proteção contra as constantes e covardes intimidações das comissões que trabalharam na compilação das provas para a destituição.

A reunião desta semana teve papel crucial porque informou ao MEC que o processo pela destituição cumpriu e seguiu absolutamente todos os trâmites e normativas, mediante um trabalho sério e plenamente legal. Portanto, serviu para dar a segurança necessária para os técnicos e gestores do MEC de que estão diante da manifestação política de uma comunidade universitária, encaminhada dentro do rigor lícito, justo e democrático permitido pelos parâmetros do instituto da Autonomia Universitária.

Recentemente, o Consun aprovou duas grandes medidas que fazem parte de lutas históricas do ANDES-SN: a paridade por setores na escolha de reitor(a) e a destituição. Qual a avaliação do ANDES/UFRGS desse momento dentro da Universidade?

Sim, é verdade, duas pautas muito difíceis dentro de nossa comunidade universitária. A paridade, defendida há décadas pelo ANDES-SN, venceu por proporções de votos impressionantes no CONSUN em apenas duas semanas. Mas, é preciso dizer, nunca nada ocorrido no campo social é de graça. Sempre é necessário muito empenho e dedicação para a consecução de vitórias. Está claro que vivenciamos o tempo em que sopra uma nova lufada de vento democratizante e de avanços na perspectiva social dos coletivos dentro da UFRGS e em todo o Brasil. Mas é preciso ter consciência disso, enxergar e fazer o que o Sindicato Nacional tem feito muitas vezes como único sindicato docente: trabalhar aplicada e aguerridamente no sentido de alcançar novas vitórias. O ANDES-SN foi a única representação sindical docente que deu amparo a estas vitórias. Não se trata de colher os louros depois do trabalho feito. Esteve presente o tempo todo.

Como tem sido a resposta de Bulhões e Pranke à mobilização da comunidade universitária e, especialmente, do Conselho?

Se trata de um comentário que beira a surrealidade. Dada a resistência que sofreu entre os conselheiros docentes, técnico-administrativos e discentes, o interventor Bulhões foi cessando suas participações no CONSUN, o órgão máximo da UFRGS, chegando ao ponto de neste ano não comparecer nem mesmo a uma única sessão. Descaradamente, tem cumprido seu mandato sem prestar contas de nada ao CONSUN, com amparo muito irregular de seções e órgãos internos da UFRGS. Então, transparece uma gestão esquizoide, que deixa as unidades acadêmicas à míngua, destrói iniciativas consagradas e só se comunica com uma imprensa sensacionalista e ligada a grupos conservadores ou antigos apoiadores do governo negacionista. A vice-interventora compareceu como presidente das sessões do CONSUN em muitas ocasiões, mas como explicar não haver pedido sua própria saída do cargo uma vez que se disse abandonada pelo interventor por toda a gestão? Não parece haver argumento plausível. Em relação ao processo de destituição, eles repetem suas condutas acusando as vanguardas oposicionistas como grupos desmiolados radicais e negativamente ideologizados.

Qual a importância da atuação sindical nesse contexto?

Desde a antiguidade greco-romana, as raízes da palavra sindicato expressam a defesa da justiça e dos direitos de uma corporação, coletividade. Modernamente, surgiu como forma de defender inicialmente os direitos dos trabalhadores das fábricas nas cidades. Daí se expandiu para a defesa e proteção de muitos setores de trabalho. Então é óbvio que a atuação sindical em defesa do trabalho das categorias de trabalhares diferentes, no caso da universidade, docentes e técnico-administrativos, neste momento possui importância capital. Esse conjunto de servidores saiu do grande lapso da pandemia, com todos os seus malefícios físicos e mentais, e que coincidiu com um governo de maldades inomináveis contra o povo. Os sindicatos devem tomar as rédeas da recuperação do ambiente de trabalho desejável nas universidades. O ANDES-SN, como sindicato de docentes, tem exercido este papel sozinho na UFRGS.

Temos apoiado e continuaremos apoiando todas as iniciativas de docentes na construção de uma UFRGS cada vez mais plural, democrática, gratuita e atenta às necessidades e interesses do nosso povo. A paridade e a destituição da reitoria interventora expressam isso. Produzimos, junto com as e os docentes, avanços na democracia em nossa Universidade, em um compromisso ético com nossos colegas e a classe trabalhadora e seus filhos.  No espaço do Consun, demos apoio político e material às e aos conselheiros do coletivo Representação Autônoma Docente (RAD), que protagonizaram esses processos, para que as pautas avançassem. Não se constrói uma luta sozinho.