Universidades questionam flexibilização do isolamento social no Rio Grande do Sul

O Comitê Interno para Acompanhamento da Evolução da Pandemia por Coronavírus da UFPel emitiu nota criticando o relaxamento do isolamento social anunciado pelo governador Eduardo Leite na última terça-feira (21). O texto, embasado em evidências científicas, frisa que não existem as condições necessárias apontadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para flexibilização da quarentena. Cabe lembrar que a UFPel coordena o inquérito sorológico contratado pelo governo do Rio Grande do Sul para analisar a prevalência da doença no estado.

O Comitê também manifestou muita preocupação com a reabertura imediata do comércio em diversas cidades, “sem observância aos seis critérios preconizados pela Organização Mundial da Saúde”. De acordo com os pesquisadores, o relaxamento nas medidas preventivas não deveria acontecer até que, pelo menos, “a disponibilidade de leitos de enfermaria e UTI seja compatível com a demanda estimada e os resultados da segunda fase da pesquisa coordenada pela UFPel, com previsão de divulgação ainda no mês de abril, forneçam estimativas da velocidade de expansão da infecção”. Apenas na primeira etapa, o estudo indicou que o Rio Grande do Sul tem uma estimativa de 4,9 mil pessoas infectadas que não tiveram contato com o sistema de saúde.

Na apresentação do plano de retomada das atividades comerciais, Leite argumentou que as decisões levaram em conta a pesquisa liderada pela Universidade gaúcha. No entanto,  o próprio reitor da UFPel, Pedro Hallal, que é o coordenador do estudo, também condenou o relaxamento.

Em reportagem do portal GaúchaZH, o docente destaca que dados da pesquisa mostram a importância do distanciamento social, e que não concorda com a retomada dos serviços não essenciais neste momento. “Enquanto não tivermos os leitos de UTI que precisamos não é o momento de voltar com a rotina”, ponderou. Na cidade de Pelotas, a reabertura do comércio está programada para ocorrer nesta quinta-feira (23).

O reitor da UFRGS, Rui Oppermann, também se manifestou sobre o assunto. Em entrevista à rádio Gaúcha, o reitor elogiou o governo estadual, avaliando que se baseia “nos pareceres e modelos que a academia está produzindo e que têm mostrado ser bem-sucedidos” e disse que o relaxamento do isolamento social deve estar apoiado em critérios que permitam controlar a infecção pelo vírus. Para além disso, o reitor não estabeleceu um prazo para retomada das atividades presenciais na UFRGS: “se for necessário que as atividades presenciais da universidades se estendam para além daquilo que estamos planejando, nós vamos ter que nos resignar e aceitar. Nós não queremos submeter nossa comunidade a risco maiores e, muito menos ainda, que a nossa comunidade seja um vetor des riscos para outros participantes da sociedade”.

ANDES-SN reforça defesa do isolamento social e da vida

Em reunião conjunta dos Setores das Instituições Federais (IFEs), Estaduais e Municipais (IEES/IMES), realizada de forma virtual na sexta-feira (17), mais de 60 seções sindicais reafirmaram a posição do ANDES-SN em defesa do isolamento social e da vida durante a pandemia.

O Sindicato Nacional tem se esforçado para realizar ações públicas que reafirmam a importância, também, da saúde, da educação, da ciência e da tecnologia públicas como forma de combate ao Coronavírus. “É nas instituições públicas, tão precarizadas e desfinanciadas, que se está conseguindo fazer pesquisas rápidas e fundamentais sobre a Covid-19”, analisa Celeste Pereira, presidente da Adufpel.

O plano de retomada gradual das atividades comerciais no Rio Grande do Sul ainda não prevê o retorno às aulas.

Nesta quarta-feira (22), o Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas lançou 15 propostas para garantir condições mínimas de vida à população durante o isolamento social devido à Covid-19. Participam do Fórum movimentos sociais, estudantis, entidades sindicais – entre elas o ANDES-SN -, e organizações políticas da cidade e do campo. Leia aqui.