Unidade dos movimentos sociais marca abertura do 40º Congresso do ANDES-SN, em Porto Alegre

Em clima de muita emoção e de celebração da resistência aos ataques do governo Bolsonaro, teve início neste domingo (27), em Porto Alegre, o 40º Congresso do ANDES-SN. Mais de 600 docentes, provenientes de universidades federais e estaduais, institutos federais e Cefets de todo o país, estão reunidos no encontro, primeiro evento presencial deliberativo do Sindicato Nacional desde o início da pandemia de Covid-19.

Na plenária de abertura, os componentes da mesa reforçaram a importância da unidade de todas as categorias afetadas pelos sucessivos ataques à Educação e ao serviço público em geral, saudando a atuação do Sindicato Nacional em diferentes mobilizações contra o governo Bolsonaro.

“Nosso tema hoje é ‘A Vida acima do Lucro’, traduzindo o que nosso contexto exige: a luta pela vida, mas não qualquer vida. A vida sem exploração, descriminação de qualquer ordem”, afirmou a professora Magali Mendes, presidenta do ANDES/UFRGS.

Fora Bolsonaro e fora interventores

A política genocida e autoritária do governo Bolsonaro foi mencionada por todos os integrantes da mesa, focados na necessidade de derrubar o governo federal.

“Vivemos um momento muito tenso onde o povo brasileiro e a classe trabalhadora foram abatidos em diversos momentos pela insanidade negacionista desse governo, pela incapacidade de ter políticas públicas para combater a pandemia da covid-19 e muitas vidas foram abatidas”, convocou o professor Milton Pinheiro, na função de presidente do ANDES-SN.

“Essas pautas precisam se materializar no cotidiano de nossas vidas”, pontuou a professora Rivânia Moura, presidenta afastada do ANDES-SN, que emocionou os participantes ao falar como convidada durante sua licença-maternidade, acompanhada de sua companheira e do filho Gael, de apenas dois meses.“Estar aqui é um ato coletivo”, esclareceu.

Pinheiro também reforçou a importância da luta contra os interventores empossados arbitrariamente por Bolsonaro em mais de 20 instituições de ensino – inclusive na UFRGS, onde acontece o encontro nacional.  “Aqui, em Porto Alegre, está representado o que tem de pior do neofascismo brasileiro que afeta as liberdades democráticas e a autonomia da universidade”, acrescentou.

“Fora Carlos Bulhões”, convocou Cesar Beras, 1º Secretário da Regional no Rio Grande do Sul, frisando que o Sindicato Nacional não aceita qualquer intervenção em universidades públicas. O professor lembrou da revogação da demissão da professora Letícia de Faria Ferreira, que passou a sofrer perseguição após denunciar, em 2015, irregularidades em um concurso público da instituição do qual era componente da banca de seleção, no Campus de São Borja. “Nossa luta também tem vitórias”, frisou.

O Tsunami da Educação, movimento de retomada das ruas iniciado em 2019 para exigir a derrubada de Bolsonaro, foi apontado por Ana Paula Santos, coordenadora do DCE-UFRGS, como marco na mobilização contra o governo federal. “Educação é a chave para a transformação da sociedade, mas infelizmente temos um governo que só retirou direitos”, lamenta Tamyres Filgueira, coordenadora da Assufrgs, destacando a importância do Congresso como espaço de debate, luta e, principalmente, posicionamento.

Vida acima dos lucros

Com o tema central “A vida acima dos lucros: ANDES-SN 40 anos de luta!”, o 40º Congresso segue até quinta-feira (31) para debater e deliberar sobre as ações e pautas que irão orientar as lutas da categoria no próximo período. “Esse é um momento importante, delicado, que exige reflexão e capacidade de luta e orientação para vencer. Temos muitos desafios nessa direção e no conjunto da nossa base, que está aqui presente no maior congresso já realizado pelo ANDES-SN”, analisou Milton Pinheiro.

“Sejam bem-vindos ao território indígena. Nosso povo sofre há muito tempo, aqui em Porto Alegre são 250 anos de invasão e genocídio do povo indígena”, declarou Woia Paté Xokleng, representante do Coletivo dos Estudantes Indígenas da UFRGS, aplaudido pelos presentes.

O cacique frisou a necessidade de reivindicar não apenas a permanência na universidade, como nas terras pertencentes aos povos ancestrais. “São 500 anos de resistência e luta. Dormimos lutando e acordamos lutando. Nós, povos indígenas, lutamos desde a invasão do Brasil em 1500. Lutamos e sobrevivemos. Estamos lutando também para acessar e permanecer na universidade. Essa é uma demanda antiga, são mais de 15 anos lutando para ter a casa do estudante indígena, porque não basta apenas garantir a entrada de estudantes indígenas nas universidades, também é preciso garantir a sua permanência. Além disso, precisamos demarcar as terras indígenas. Muitos falam que é muita terra para pouco índio, mas é pouco índio para preservar a natureza para esse mundo inteiro. A nossa luta é de todos”, ressaltou.

Covid-19

Antes da abertura oficial do Congresso, o Sindicato Nacional prestou uma homenagem a todos os professores e professoras mortos pela pandemia de Covid-19, especialmente ao funcionário da entidade, Marcos Goulart de Souza, analista de sistemas do ANDES-SN.

“Para cada nome, há uma família sofrendo. Cada um desses nomes: uma morte que poderia ter sido evitada.  Estes são nomes de docentes que não voltarão a dar aulas. Para cada um desses nomes, há uma sala de aula vazia, um projeto interrompido. Não são apenas nomes. Até quando?”

Ato pelas liberdades

Na sexta-feira (01), um grande ato em defesa das liberdades democráticas e do serviço público simbolizará o encerramento do Congresso. A manifestação terá início às 10h, com concentração em frente ao Instituto de Educação Flores da Cunha, e contará com a participação de diversas entidades do funcionalismo público e do movimento estudantil. “Temos a tarefa política de caminhar até a Esquina Democrática, um local simbólico de construção da democracia”, convocou Cesar Beras, da Regional RS do ANDES-SN.

Apresentação artística

A plenária de abertura foi precedida por show da artista porto-alegrense Pâmela Amaro, que também é professora de teatro e sambista. Na apresentação, a cantora saudou a importância de valorizar a ancestralidade, o poder popular e a formação de novas e novos líderes, invocando o poder transformador das e dos docentes.

A mesa de abertura também foi composta por Amauri Fragoso e Regina Ávila, 1º tesoureiro e secretária geral do ANDES-SN, Leonardo de Carvalho, da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet), Antonio Gonçalves, da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde e ex-presidente do ANDES-SN, Erico Correa, do Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas, David Lobão, coordenador geral do Sinasefe, Rejane Oliveira, representante da CSP-Conlutas e Maria Caridad Corder, da Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC), convidada especial do 40º Congresso.