Na segunda-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro nomeou mais uma interventora para comandar uma universidade federal. O reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Valter Joviano, foi destituído do cargo e substituído por Liliádia Barreto. Com isso, já são 17 instituições com autonomia atacada pelo governo federal nos últimos dois anos.
O ANDES-SN manifestou seu repúdio a mais essa intervenção.
Golpe interno precedeu a intervenção
O processo democrático na UFS já estava fragilizado desde julho, quando o reitor Valter Joviano encabeçou a lista tríplice encaminhada ao MEC sem a realização de consulta à comunidade acadêmica.
Uma consulta paritária, organizada pela ADUFS, SINTUFS, DCE e AAU – entidades representativas de docentes, técnicos e estudantes – foi organizada para ocorrer em março de 2020. Quatro chapas se inscreveram e participaram dos debates e campanhas, durante meses. A consulta foi cancelada dois dias antes da data prevista para sua realização, devido à pandemia de Covid-19.
A Comissão Eleitoral, então, solicitou ao reitor que cedesse o uso do SIGEleição para que a Consulta se consumasse via eletrônica, online, o que foi negado pelo senhor reitor. Ao invés disso, o Reitor Angelo Antoniolli convocou um Colégio Eleitoral Especial que elaborou uma lista tríplice composta por docentes que não haviam se candidatado à consulta e, segundo a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (ADUFS- Seção Sindical do ANDES-SN na UFS), nem eram conhecidos da comunidade acadêmica. Valter Joviniano, que encabeça a lista, era vice-reitor desde dezembro de 2019.
A ADUFS classificou a medida como “o maior golpe antidemocrático” na UFS. “Pela primeira vez nos últimos 40 anos se elege uma lista tríplice, antigamente sêxtupla, sem que seja dada à comunidade acadêmica (discentes, técnicos e professores) o legítimo direito de a eleição informal, paritária e legítima que sempre balizou as decisões do CEE” (Colégio Eleitoral Especial)”, afirmou a Seção Sindical em nota.
Assembleia Docente delibera pela autonomia
Em assembleia docente realizada no mesmo dia da publicação da intervenção, foi deliberada, por unanimidade entre os participantes, a defesa da autonomia e democracia universitárias. Professoras e professores também se posicionaram pela manutenção da Consulta Pública para a Reitoria.
Após mais de duas horas de discussão, a Assembleia aprovou, por maioria, que a Diretoria da ADUFS solicite uma reunião com a reitora pró-tempore. Foi ressaltado que esse pedido não significa reconhecer a intervenção, mas ouvir da nomeada pelo MEC se há disposição em formar uma lista tríplice respeitando a Consulta Pública.
De acordo com o presidente da ADUFS, professor Airton Paula Souza, a intervenção é reflexo do que está ocorrendo desde o início do atual Governo Federal em relação às universidades e institutos federais. “Essa é a política de desestruturação do conhecimento e da educação pública. É um processo autoritário e que intranquiliza toda a comunidade acadêmica”, declarou o professor.