Mais uma universidade pública entrou na lista das instituições em que o candidato a reitor mais votado não tomou posse por interferência do governo Bolsonaro. Na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), foi nomeado o professor Roberto de Souza Rodrigues – terceiro colocado na lista tríplice encaminhada ao MEC.
O caso é semelhante ao ocorrido na UFPel, já que Rodrigues também integrava a chapa mais votada pela comunidade acadêmica – mas não era quem encabeçava o grupo, cujo candidato a reitor era Ricardo Berbara, que já ocupava o cargo na gestão anterior e foi novamente o 1º indicado pelo conselho máximo.
A chapa “UFRRJ é a gente” venceu com 55% dos votos, sendo o nome de Rodrigues sugerido ao cargo de Pró-Reitor de Planejamento, Avaliação e Desenvolvimento Institucional, o qual já ocupava.
“Enquanto aguardava a nomeação do novo reitor, tomei conhecimento de uma ação contra nós enviada ao MEC e à Casa Civil”, escreveu o reitor reeleito em suas redes sociais. “Quando observei este documento, percebi que ocorreria um veto à minha nomeação em virtude de minha atuação política antes mesmo de ser reitor da Rural e durante o nosso mandato, quando denunciamos o golpe, as ações de extermínio praticadas por forças policiais nas comunidades, a violência no campo, sobre o meio ambiente e as conquistas locais”.
Reitor eleito, reitor empossado
Na quarta-feira (31), mesmo dia da nomeação, uma plenária virtual reuniu 390 pessoas da UFRRJ. Os participantes entenderam que o reitor nomeado não é um interventor, mas que a ação do governo representa um ataque à autonomia da instituição.
Por isso, vão continuar em campanha para que Berbara assuma a reitoria. Até lá, exigem que o docente participe da nova gestão. “Desde o início, o governo Bolsonaro não está nomeando o primeiro nome da lista ou simplesmente coloca um interventor”, argumentou o professor Marcelo Fernandes, diretor da Adur, seção sindical do ANDES-SN.
A Consulta Pública à comunidade Ruralina sobre a gestão 2021-2025 ocorreu de forma virtual nos dia 24, 25 e 26 de novembro. Berbara ficou em primeiro lugar com 3.993 votos, seguido pelo professor José Antônio Veiga, que somou 3.182 votos e reconheceu a vitória do concorrente. A lista tríplice, então, foi montada com integrantes da chapa vencedora, eleita no Conselho Universitário e enviada ao governo em dezembro.
Governo das intervenções
Conforme apuração da AdufPel, o governo Bolsonaro já interferiu em 22 IFEs, além do Cefet-RJ, onde a arbitrariedade foi derrubada no dia 29 de março, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou inconstitucional um trecho de decreto do presidente Jair Bolsonaro que permitia ao ministro da Educação a indicação de interventores nos Institutos Federais de Educação, como já noticiamos no Boletim InformANDES na UFRGS.