No terceiro dia do ciclo de debates Autonomia e Financiamento das universidades públicas, promovido pela Reitoria em comemoração aos 85 anos da UFRGS, representantes de sindicatos e movimentos estudantis nacionais foram à mesa para tratar do tema que é um dos mais importantes do contexto atual nas instituições de ensino superior. Na parte da manhã, o professor Fernando Lacerda representou o ANDES-SN. À tarde, a presidente do ANDES/UFRGS, Rubia Vogt, falou em nome da seção.
Na abertura do evento, o reitor da UFRGS, Rui Oppermann, destacou a inauguração do Memorial em homenagem aos expurgos da Universidade, agendado para esta quinta-feira (28) no campus Centro. “Para lembrarmos de nossa história e para que ela não se repita”, enfatizou.
O professor Lacerda acrescentou que o fato de a UFRGS comemorar 85 anos de história, especialmente através da homenagem àqueles que foram perseguidos pela ditadura cívico-militar dos anos 1960 no Brasil, evidencia que a construção de uma instituição de ensino superior não é uma ação simples, pois se realiza através de muita luta. Nesse sentido, trazendo para a realidade atual brasileira, com a tentativa de promulgação de projetos como o Future-se, o professor destacou a necessidade da unidade entre todas as entidades representativas de trabalhadores e de estudantes.
“As discussões mostraram como os cortes na educação e as incursões do governo federal que violam a autonomia universitária estão sendo extremamente prejudiciais para a universidade pública e, particularmente, para a UFRGS”, analisou o representante do Sindicato Nacional, enfatizando que ficou clara a preocupação das entidades em construir a unidade na luta e nas ruas para barrar os ataques do presidente Bolsonaro e do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Rúbia Vogt, por sua vez, reforçou que somente com uma construção conjunta e que leve em conta todos os segmentos da sociedade pode-se chegar a uma saída para o atual momento de ofensiva às universidades. “O ataque que se coloca hoje é do capital para a Educação. A autonomia necessita de financiamento, mas também de democracia”, sintetiza a docente.
Riscos do Future-se
“Nós da Assufrgs reivindicamos uma maior amplitude da autonomia para diferentes setores e áreas das instituições de ensino. É essa ampliação que vai garantir que a gente vai exercer o ensino, a pesquisa e a extensão de uma forma autônoma”, colocou Mariane Quadros, da Coordenação Geral do sindicato dos servidores técnico-administrativos, indicando a necessidade de garantir o financiamento público para que as universidades possam exercer o seu papel e devolver o resultado do investimento público para a comunidade.
Para Tirza Ferreira, do DCE, o projeto Future-se consolida a privatização da Ciência e da Tecnologia, retirando a autonomia política das universidades públicas, prevista na Constituição Federal de 1988. “O debate de financiamento universitário e o debate de autonomia universitária são sobre democracia, pois dizem sobre a ampliação da participação dos estudantes, dos técnicos, dos docentes, terceirizados e da comunidade em volta da universidade ”, ressaltou.
“A autonomia é muito cara para os pós-graduandos, pois é ela que proporciona o espaço de livre pensar, de livre conhecer, de livre fazer acadêmico-científico”, pontuou Jaqueline Silinske, da APG. Na visão da estudante, o programa trará a precarização do trabalho dos pós-graduandos, por haver uma maior exigência na quantidade de papers em detrimento da qualidade, e concorrência nos espaços da universidade, que formatarão projetos de pesquisa que sejam rentáveis financeiramente para o mercado.
Defesa da Universidade e dos servidores
A representante da ATENS lembrou que alguns mitos vêm sendo difundidos com o objetivo de desacreditar a universidade pública gratuita e de qualidade, especialmente voltados à figura do funcionalismo público. “Estão difamando o serviço público,” reforçou.
“Estabilidade não é só um direito do trabalhador, mas defesa do direito ao que é público”, argumentou no debate da manhã a representante da Fasubra, Bernadete Menezes, que também integra a Coordenação Geral da Assufrgs. Segundo a servidora, essa é uma das conquistas que a Universidade acumula ao longo dos anos e que contribui para a autonomia da instituição. “Defendemos a Universidade não porque somos corporativos, mas porque ela tem compromisso com a sociedade”, acrescentou.
Em nome da UNE, a presidente Gerusa Domingues Pena parabenizou a UFRGS pela promoção do debate e comentou que diariamente a instituição dá respostas aos ataques que vem sofrendo. De acordo com ela, para fazer frente às atuais agressões sofridas pelas IFEs, é necessário que a sociedade saiba o que é realizado dentro delas. A estudante de Direito, que integra o sistema de cotas, é primeira mulher negra a presidir a entidade, e recebeu aplausos quando comentou sobre conquistas como as ações afirmativas. “Esses avanços incomodam a casa grande.”
Também compuseram as mesas de quarta-feira o presidente do Proifes, Nilton Brandão, o presidente da Adufrgs-Sindical, Lucio Vieira, o representante da seção sindical ATENS UFRGS, Marco Schuck, e a representante da ATENS (Sindicato Nacional de Técnico-Administrativos de Nível Superior das IFES), Ângela Lobo Costa.