Servidores públicos e movimentos tomam as ruas de Porto Alegre em defesa das liberdades democráticas

Quase 2 mil pessoas tomaram as ruas de Porto Alegre nesta sexta-feira (01/04), em defesa das liberdades democráticas e dos serviços públicos. A manifestação, organizada pelo ANDES/UFRGS, ANDES-SN, Fórum dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (FSP) e diversas entidades e movimentos estudantis, marcou o encerramento do 40º Congresso do ANDES-SN, além dos 58 anos do golpe que instituiu o regime militar no país.

Durante a caminhada, que partiu da frente do Instituto de Educação Flores da Cunha e acabou na Esquina Democrática, os manifestantes receberam apoio de pedestres, moradores e motoristas que passavam pelo grupo. “Isso é o que mais dá sentido à mobilização: pensar que podemos ampliar o conjunto das pessoas que estão dispostas a fazer da sua indignação um motor de luta”, analisa Elisabete Búrigo.

“Governos reacionários e burgueses do Rio Grande do Sul, que se especializaram em reformas neoliberais para atacar os direitos da população. Mas assim como resistimos à ditadura militar, nós resistimos e resistiremos a esses governos. O ANDES-SN esteve durante essa semana no seu 40º Congresso, que definiu pautas importantes em defesa da educação, do serviço público, da qualidade de vida da população brasileira, contra a fome, a miséria e a carestia, contra o desemprego e por um projeto da nossa classe, consubstanciada na articulação de todas as forças do campo proletário popular para enfrentar Bolsonaro e a burguesia”, afirmou Milton Pinheiro, presidente em exercício do ANDES-SN.

Democracia universitária

Vinte e três universidades federais tiveram reitores interventores indicados pelo Planalto desde a posse de Jair Bolsonaro. Desde a nomeação de José Henrique Vilhena como reitor da UFRJ em 1998, Bolsonaro foi o primeiro presidente brasileiro eleito a desrespeitar os processos internos de escolha de dirigentes, afrontando a autonomia universitária.

“As intervenções de Bolsonaro nas instituições de ensino superior tiram proveito de uma legislação herdada da ditadura militar, e que até hoje não foi alterada pelo Congresso nacional”, explica a professora Elisabete Búrigo, diretora do ANDES/UFRGS, referindo-se à manutenção, na constituição federal, das listas tríplices nos processos de nomeação de reitores, cabendo ao presidente oficializar o nome definitivo.

“Esses resquícios da ditadura nos lembram que precisamos seguir enfrentando esse legado autoritário que ainda nos ameaça e constrange, e o melhor caminho para resistir a esses ataques é a mobilização, através da qual unificamos movimentos sociais e sindicatos, como fizemos hoje, e também convocamos a população para se solidarizar e se mobilizar”, acrescenta.

Durante os anos de chumbo da ditadura, mais de 40 docentes da UFRGS foram expurgados pelos militares. Por isso, o movimento também reforçou a campanha pela revogação dos títulos honoris causa de Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici, como uma reparação histórica relativa a crimes cometidos no passado, mas que seguem causando efeitos perversos.

“O ato foi um momento fundamental na luta pela democracia e pela afirmação de um estado com responsabilidade social. Com milhares de pessoas, caminhamos por Porto Alegre gritando ditadura nunca mais e fora Bolsonaro, pois precisamos combater o negacionismo e o processo de destruição do serviço público no país”, acrescenta Cesar Beras, professor da Unipampa e diretor da Regional RS do ANDES-SN.

Além do Sindicato Nacional, da Seção Sindical e do FSP, a manifestação foi convocada por entidades como a UNE, Assufrgs Sindicato, DCE-UFRGS, APG-UFRGS e Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas, que também defenderam a importância dos serviços públicos e da valorização dos servidores.

“As pautas econômicas levantadas durante a manifestação demonstram a necessidade de unidade entre a classe trabalhadora e a juventude para barrar os retrocessos dos últimos anos. A EC 95, a PEC 32, as privatizações e terceirizações fazem parte de um projeto de sucateamento dos serviços públicos em favor do lucro de alguns. Por isso é muito importante, também,  demonstrar para a sociedade que todos esses ataques neoliberais que precarizam a vida da população, tiveram nas ditaduras de segurança nacional da América Latina um laboratório experimental. O maior exemplo é a ditadura de Pinochet no Chile”, conclui Patrick Veiga, do DCE-UFRGS.