Para marcar os 59 anos do golpe militar brasileiro, deflagrado em 1964, será realizado ato simbólico neste sábado (1º) , no Largo Glênio Peres, a partir das 15h. A mobilização encerra a Semana de Lutas por Memória, Verdade e Justiça, que contou com atividade na Faced na terça-feira (28) em homenagem ao estudante Edson Luís de Lima Souto, morto à queima roupa pela polícia durante um protesto em 1968.
Anos de chumbo
Organizada pelo ANDES/UFRGS, Assufrgs, Sindoif, DCE, APG e Fenet, a concentração do campus central foi seguida de caminhada até a Esquina Democrática, local clássico de protestos pela redemocratização, onde a comunidade relembrou as intensas mobilizações contra o regime militar brasileiro, cujo ápice da violência manifestou-se em dezembro de 1968, através do AI-5.
Fase de violenta censura e repressão, inclusive na Educação, os anos de chumbo também contaram com demissões e desligamentos sumários de professores, funcionários e estudantes sob a alegação de “práticas subversivas” nas universidades. Só na UFRGS, pelo menos 41 docentes foram expulsos pela “Operação limpeza”. Humilhados publicamente, muitos tiveram sua reputação atingida, ao ponto de não conseguirem novos empregos e serem obrigados a mudar de estado para sobreviver.
Expurgos
Resgatando a memória da UFRGS e dos seus expurgados pelo regime militar, o Coletivo Memória e Luta, composto por docentes, lançou, em 2021, o livro “Os expurgos da UFRGS, Memória e História”.
A obra integra o Projeto de Extensão Memória – 50 anos dos expurgos da UFRGS, que registrou o cinquentenário dos expurgos realizados na Universidade, promovendo, em seu lançamento, a inauguração de um memorial em frente à Faced (foto), a realização de rodas de conversas e debates, além de uma exposição de aquarelas e vídeos de testemunhos sobre a época.
Ainda em 2023, a mostra deve ser remontada no Colégio de Aplicação e no Campus Saúde, e um acervo digital de documentos está sendo organizado como futura fonte de pesquisa. “Atualmente, esse acervo está em papel e em lugares dispersos da universidade”, explica Pedro Costa, que integra o coletivo. “Precisamos de apoio da SEAD para desenvolver a tecnologia e podermos iniciar a digitalização a partir do segundo semestre. Será um grande repositório para pesquisa histórica”, acrescenta.
Não esqueceremos
Acatando uma reivindicação do coletivo Memória e Luta como forma de reparação histórica e defesa da democracia em tempos de ataques sucessivos aos direitos constitucionais, como os ocorridos no governo Bolsonaro, o Conselho Universitário da UFRGS (Consun) publicou, em agosto de 2022, uma resolução que revogou os títulos honoris causa dos ex-presidentes Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici, executores da ditadura no Brasil.
A iniciativa, que recebeu apoio de mais de 10 mil pessoas através de abaixo-assinado, também foi recomendação do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade, publicado em 2014, e indicação do Ministério Público Federal (MPF) em sua Recomendação PRDC/PR/RS Nº 1/2022. UFRJ e Unicamp já haviam tomado medidas do tipo, retirando as condecorações de Jarbas Passarinho e Médici, respectivamente.
“O processo de revogação traz novamente à tona a questão das arbitrariedades, centenas de vezes fatais, da ditadura militar 1964-1985 e tem uma dupla função: em primeiro lugar, os militares agraciados com esses títulos os receberam graças à pusilanimidade de certos setores da universidade, mas não fizeram por merecê-los, pois essa titulação é destinada àqueles que tenham contribuído de modo especial para a cultura, educação ou Humanidade. Médici e Costa e Silva fizeram o oposto disso, atacaram enormemente a universidade e não merecem essa honra. Em segundo lugar, essa revogação permite a retomada da história para que as novas gerações, mas também as anteriores, de memória volátil, relembrem essa tragédia que durou 21 anos e impeçam sua repetição”, destaca a professora Patrícia Reuillard, membro do coletivo Representação Autônoma Docente (RAD), que capitaneou a iniciativa no Consun.