16 de maio de 2019
Os sucessivos cortes de verbas destinadas às universidades federais já geram consequências na UFRGS. A conta de energia elétrica referente a abril venceu na sexta-feira passada (10), mas, conforme reportagem do portal Gaúcha ZH, a instituição não conseguiu pagá-la por falta de dinheiro.
O valor total das faturas era de R$ 1,99 milhão, mas só foi possível pagar R$ 154 mil. Segundo o pró-reitor de Planejamento e Administração, o professor e economista Hélio Henkin, não há previsão de quando será possível colocar as contas em dia, porque a universidade depende da “liberação de novos limites para empenho” por parte do governo federal.
O atraso no pagamento é revelador das dificuldades financeiras que a universidade vem enfrentando – antes mesmo dos efeitos do bloqueio de 30% do orçamento de 2019, anunciado recentemente pelo Ministério da Educação (MEC).
A UFRGS informou já ter vivido duas situações, desde 2016, em que atrasou o pagamento da luz por um curto período. ” Já cortamos eventuais gorduras, depois, viemos cortando na carne e, agora, estamos chegando no osso”, lamenta o pró-reitor.
Em 2017, já houve queda expressiva dos recursos destinados ao custeio. De R$ 184,5 milhões em 2016, a verba caiu para R$ 166,8 milhões no orçamento de 2017. Em 2018 e 2019, com o congelamento imposto pela Emenda Constitucional 95/2016, o montante se manteve nesse patamar mais baixo de R$ 166 milhões e, se os cortes deste ano se confirmarem, o dinheiro disponível não chegará nem perto dessa previsão. Ficará em R$ 116 milhões.
Ao mesmo tempo em que os repasses do governo federal foram minguando, as despesas cresceram, em parte por causa da inflação. O custo anual com energia elétrica, por exemplo, saltou de R$ 18,4 milhões em 2015 para R$ 23,7 milhões em 2018. Neste ano, deve ficar em torno de R$ 25 milhões.
Com orçamentos abaixo do necessário ano após ano, a UFRGS reduziu gastos em várias áreas. Houve redução em serviços terceirizados como limpeza e segurança. Obras foram interrompidas e a falta de manutenção dos prédios e das instalações gera condições muito precárias de trabalho e de estudo em várias unidades.
Empurra nas contas vira bola de neve
Uma das estratégias que a UFRGS passou a adotar foi, ao final de cada ano, empurrar para o início do ano seguinte o pagamento de despesas para as quais faltou dinheiro, usando para saldar a dívida o orçamento subsequente. O problema dessa estratégia é que todo ano aumenta o valor rolado para o exercício seguinte. Essa bola de neve contribuiu para a universidade não conseguir arcar com a fatura da CEEE que vencia na semana passada.
Embora a universidade venha fazendo ajustes para gastar o mínimo, o Pró-Reitor Henkin estima que os 70% do orçamento com que pode contar permitem manter a normalidade até agosto. Depois disso, e se os bloqueios forem confirmados, a situação deve ficar caótica.