RS libera aulas presenciais mesmo tendo a 4ª maior taxa de mortalidade por Covid-19 no país

 

Em meio ao aumento de mortes pela Covid-19 no Rio Grande do Sul, o Governo estadual anunciou mudanças que incentivam a permanência de aulas presenciais mesmo em regiões em bandeira vermelha. Em Porto Alegre, o aumento de internações já provocou restrição nos atendimentos em um dos hospitais de referência no tratamento à doença, o Moinhos de Vento.

Alexandre Zavascki, chefe do Serviço De Infectologia do Hospital e professor de infectologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, avalia que o relaxamento das restrições no estado ocorreu quando o número de casos ainda se mantinha num patamar muito elevado, principalmente na comparação com outras regiões, que apresentavam declínios mais consistentes do número de casos.

“As reaberturas foram feitas em momentos muito semelhantes, às vezes, até antes no Rio Grande do Sul, mesmo com maior taxa de transmissão comunitária”, explica o médico, em reportagem do Sul 21. “Infelizmente, o impacto em casos, hospitalizações e óbitos também chega precocemente.”

O professor do Instituto de Ciências Básicas da Saúde Carlos Alberto Saraiva Gonçalves, diretor do ANDES/UFRGS, lembra que a situação nos hospitais sempre reflete a contaminação ocorrida nos 15 dias anteriores – ou seja, a saturação que se vê hoje é consequência de um cenário de ainda menos aglomerações do que os vividos neste momento. “Até que tenhamos a vacinação, não teremos segurança. Isolamento, distanciamento, assepsia e antissepsia é o que temos como armas até que isso aconteça”, pontua.

Em nota, a Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI) manifestou não ser hora de relaxar os cuidados sanitários. “A flexibilização das regras fez com que muita gente voltasse às atividades de rotina. Mas lembre-se que ainda estamos vivendo novos picos de casos no País e no exterior”, reitera a entidade.

4º estado do Brasil em  taxa de mortalidade

O Rio Grande do Sul é, atualmente, o quarto Estado do Brasil com a maior taxa de óbitos acumulados na última semana. São 2,49 mortes para cada 100 mil/habitantes – o estado fica atrás apenas de Goiás (2,58), Espírito Santo (3,16) e Rio de Janeiro (3,23). Veja os dados aqui.

A situação levou o governador Eduardo Leite (PSDB) a fazer um alerta nesta segunda-feira (23), destacando que o número de pacientes internados simultaneamente pelo novo coronavírus em leitos clínicos atingiu o pico de 1.002 pacientes neste domingo (22). O recorde anterior, registrado em 29 de julho, era de 995. Na média móvel dos últimos sete dias, o número de novas internações aumentou 18% em relação à semana anterior.

Mesmo assim, Leite anunciou que regiões em bandeira vermelha poderão ter aulas presenciais nas próximas rodadas do Distanciamento Controlado. “Passados oito meses de atividades com níveis de restrição, todos aprendemos a lidar melhor com o vírus e identificamos o quanto é importante mantermos as escolas funcionando com rigorosos protocolos sanitários”, disse o governador na terça-feira (24).

Atividades presenciais na UFRGS

Na UFRGS, o Comitê Covid-19 da Universidade, do qual a Seção Sindical participa, trabalha numa normativa para execução de trabalho presencial restrito, para casos específicos, particularmente envolvendo a Pós-Graduação.

“De forma alguma está se pensando no retorno pleno ou parcial. E mais importante, de forma alguma esta possibilidade de atividade restrita, que ainda está em estudo, pode servir para pressionar setores ou pessoas a voltar sem adequadas condições de segurança”, pondera o professor Carlos Alberto, que representa o ANDES/UFRGS no Comitê. “Precisamos trabalhar para melhorar as condições para o trabalho e estudo de maneira remota. Qualquer pressão para voltar é assédio, e precisa ser denunciada.”

Segunda Onda

Pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia Campus Salvador (IFBA), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e da Universidade de Brasília (UnB) divulgaram nesta segunda-feira (23) uma nota técnica afirmando que o país vive o início de uma 2ª onda da doença. O grupo, formado por cientistas de diferentes universidades públicas, atribui  o “aumento explosivo” ou “manutenção da grande circulação do vírus” a pelo menos três fatores: falta de testagem sistemática com rastreamento de casos, falta de uma “política central coordenada, clara e eficaz de enfrentamento da situação” e “afrouxamento das medidas de isolamento sem evidências empíricas”.

Os docentes frisam que “gestores públicos devem basear suas decisões na melhor evidência científica disponível” e que “políticas de isolamento e distanciamento social devem ser intensificadas o quanto antes, até atingir um controle efetivo da pandemia”.