Nem os cuidados necessários por causa da pandemia têm segurado a onda de manifestações antirracistas em diversos países. A mobilização ganhou maior expressão após o assassinato de George Floyd por policiais norte-americanos, em 25 de maio. No Brasil, além da denúncia ao racismo, a pauta também é contra o governo Bolsonaro, que vem intensificando a agenda ultraliberal, conservadora, autocrática, fundamentalista e obscurantista. Cerca de 20 capitais registraram manifestações de rua no final de semana.
Em Porto Alegre, cerca de duas mil pessoas se reuniram e manifestaram com os lemas antifascista e antirrascista neste domingo (7), repudiando a conduta autoritária e conservadora do governo federal e de seus apoiadores. “Antifascista pela democracia. Contra a violência racial”, “Fora Bolsonaro”, “Unidade Popular”, diziam algumas das faixas sustentadas pelos participantes, que gritavam frases como “Fascistas, fascistas, não passarão”, “Recua fascista, recua, que o poder popular está nas ruas”, “Somos o povo e Bolsonaro nós vamos derrubar”.
Usando máscaras e mantendo distância entre si, os manifestantes realizaram uma caminhada pelo centro da capital, com palavras de ordem pelo afastamento de Bolsonaro da presidência da República. Uma parte dos manifestantes se reuniu na Praça Brigadeiro Sampaio, enquanto outro grupo partiu da Esquina Democrática. Ambos se encontraram na rua Riachuelo, atrás do Teatro São Pedro. Ao longo do trajeto, receberam apoio de moradores que, das janelas, bateram panelas e repetiram as palavras de ordem entoadas na rua. Em outras regiões, como Bom Fim e Rio Branco, os panelaços foram intensos durante a tarde. A caminhada terminou no Largo Zumbi dos Palmares, às 16h.
Diferentemente do que aconteceu em semanas anteriores, apoiadores de Bolsonaro não foram para a frente do Comando Sul do Exército, também no centro, mas promoveram pequena panfletagem no Parque Moinhos de Vento.
O mundo não está conseguindo respirar
Nos últimos dias, as mobilizações contra o racismo floresceram na Europa, especialmente na Espanha e França – onde quase 20 mil pessoas foram às ruas de Paris na terça-feira (2) – e em outros países, até se tornarem um fenômeno global que agrega reivindicações locais, como acontece no Brasil.
Em Washington, dezenas de milhares de pessoas gritando “Não consigo respirar” e “Mãos para cima, não atire” reuniram-se no Lincoln Memorial e marcharam rumo à Casa Branca, no maior protesto dos 12 dias de manifestações locais desde a morte de Floyd.
Em Madri, aproximadamente cerca de 3 mil pessoas reuniram-se em frente à embaixada dos Estados Unidos e repetiram as últimas palavras de Floyd: “Não consigo respirar”. Em Roma, milhares de jovens ficaram ajoelhados em silêncio e de punhos erguidos, por quase nove minutos – tempo que o policial manteve o joelho pressionado no pescoço de Floyd, até ele sufocar.
No Reino Unido, repercutiu a imagem de um grupo de manifestantes derrubando, durante um protesto em Bristol, uma estátua em homenagem a Edward Colston, traficante de escravos e membro do Parlamento britânico que viveu no século 17. Mais de 10 mil participavam do ato, também no domingo (7).
Em São Paulo, milhares de pessoas protestaram no Largo da Batata, na Zona Oeste, enquanto, em Brasília, parte da Esplanada dos Ministérios foi ocupada pela manhã.
“No Brasil, terra da ‘democracia racial’, as estatísticas registram a morte de um preto a cada 23 minutos. Isso, no mesmo espaço-tempo em que a Covid-19 leva embora uma pessoa por minuto; 54,8% dos óbitos registrados são de negros, muito embora 51,4% dos hospitalizados sejam brancos”, lamenta o ANDES-SN, em editorial. Na semana passada, a triste morte do menino Miguel, filho de uma empregada doméstica em Recife, tornou-se simbólica das desigualdades vividas no país – especialmente em tempos de pandemia.
“Quem se surpreende de ver a questão racial se erguer como fio condutor da crise do capital no século XXI não estava prestando a devida atenção ao desenrolar dos fatos, ou então encarando com o habitual pouco caso um tema central e estruturante da sociedade brasileira e mundial”, acrescenta o Sindicato Nacional, frisando que os negros estão resgatando sua enorme tradição de lutas, a exemplo de Zumbi, Dandara, Negro Cosme. “Não há luta antifascismo sem que a mesma seja também antirracismo, anti-lgbttfobia, antimachismo. E por isso mesmo, estão nas ruas dizendo basta de racismo, basta de Bolsonaro/Mourão”, finaliza o ANDES-SN.