“Os expurgos da UFRGS, Memória e História”, livro produzido pelo Coletivo Memória e Luta – UFRGS, foi apresentado, nesta terça-feira (29), no âmbito do 400. Congresso do Andes-SN, em Porto Alegre, durante a sessão de lançamentos. A obra, de 2021, resgata a memória da UFRGS nos anos da ditadura empresarial-militar e conta a história do projeto do grupo de 19 professores que, desde 2019, se reúne para encontrar formas de comunicar e refletir com a sociedade os graves acontecimentos daquele período, como o expurgo de professores.
“O livro homenageia os professores e resgata a memória da ditadura no país. Convidamos todos a conhecerem a nossa história e a buscarmos formar uma rede nacional de universidades que resgatam a própria história de expurgados”, diz a professora Patrícia Reuillard, do Instituto de Letras, que integra o coletivo.
Os chamados “expurgos” se caracterizaram pela exclusão de docentes da comunidade universitária após julgamentos devido à participação em mobilizações sociais contra o regime imposto. Os atingidos pela “Operação limpeza” foram humilhados publicamente e tiveram sua reputação atingida, ao ponto de alguns não conseguirem novos empregos e serem obrigados a mudar de estado para sobreviver. A UFRGS “expurgou” 18 professores em setembro de 1964, e pelo menos outros 23 em 1969.
Exposição
Outra maneira de conhecer o conteúdo do livro, a história dos expurgos e a memória da ditadura é na exposição “Memória – 50 anos dos Expurgos da UFRGS”, situada no térreo do prédio Branco, campus Centro. O professor da Faculdade de Arquitetura José Carlos Freitas Lemos, autor das 18 aquarelas que evocam os fatos relacionados à ditadura no país e os expurgos, conta que trabalhou 40 dias e noites imerso em informações do período, fotos e documentos. “Minha ira sobre o silenciamento dessas situações é grande, só não é maior que a das pessoas que sofreram na carne, foram perseguidas, assassinadas, e das suas famílias,” diz.
As imagens são monocromáticas e a última aquarela traz as cores da inclusão das diversidades: étnica, sexual, pessoas com deficiências, ou seja, o que não se encontrava na universidade até 2007, quando as cotas surgiram. “Não tínhamos alunos negros, além dos africanos. A política de cotas fez toda a diferença e, agora, os indígenas acabam de conquistar a promessa da UFRGS de implantar a casa do estudante indígena, o que é uma vitória política importante,” conclui o professor.
A exposição, lançada ao final de 2019, é acompanhada pela exibição de dois documentários com testemunhos dos professores Luiz Carlos Pinheiro Machado, Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Accurso e Carlos Jorge Appel. Ainda no campus Centro, perto da Faculdade de Educação (Faced), fica o Memorial de granito, a escultura de Irineu Garcia que também homenageia os professores afastados sumariamente.
Texto: Eliege Fante