O final de semana foi marcado por manifestações pela preservação da floresta amazônica em diversas cidades do país e do mundo. Em Porto Alegre, milhares de pessoas se reuniram no Parque da Redenção para protestar contra a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Os atos, convocados por movimentos sociais, são uma resposta ao trágico e exponencial aumento na quantidade de queimadas na Amazônia nas últimas semanas, que vem preocupando a comunidade internacional e colocando em xeque a postura do governo brasileiro.
Na capital gaúcha, a concentração teve início no sábado (24) por volta das 15h. Munidos de cartazes – alguns pedindo a saída do ministro Salles – e entoando palavras de ordem que denunciavam o desmonte das políticas de preservação ambiental, os manifestantes saíram em caminhada pela avenida João Pessoa.
Seguiram pela Perimetral e pela Osvaldo Aranha, retornando à Rua José Bonifácio e ao Parque para finalizar o ato. Desde a sexta-feira (23), ações como esta ocorreram em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus, Ribeirão Preto, São Carlos, Natal e Porto Velho.
Embaixadas brasileiras em Londres (Reino Unido), Madri (Espanha), Berlim (Alemanha) e no Consulado Brasileiro em Genebra (Suíça) foram tomadas por manifestantes pedindo alguma atitude para salvar a Amazônia. Em Nova Iorque, manifestantes pediram que as Nações Unidas cancelem a ida de Jair Bolsonaro à Assembleia-Geral da ONU, marcada para setembro.
Dia do Fogo
Segundo reportagem da Globo Rural, no dia 10 de agosto aconteceu em Altamira a maior queimada da história do Pará, chamada na região de “Dia do Fogo”. Mais de 70 pessoas – de Altamira e Novo Progresso — entre produtores rurais, comerciantes e grileiros, teriam combinado através de um grupo de whatsApp incendiar as margens da BR-163, rodovia que liga essa região do Pará aos portos fluviais do Rio Tapajós e ao Estado de Mato Grosso. O site Brasil247 afirma que três dias antes do incêndio, o Ministério Público Federal (MPF) do Pará enviou um ofício ao Ibama, órgão do Ministério do Meio Ambiente, alertando para o planejamento do ato criminoso. Segundo a mesma fonte, a Força Nacional de Segurança, subordinada a Moro, também foi alertada, mas não houve nenhuma reação do governo.
Crise Mundial
O aumento das queimadas em território amazônico ganhou contornos de crise internacional após o presidente Bolsonaro fazer declarações minimizando o problema e criticando a atuação das ONGs.
No dia 7 de agosto, o físico Ricardo Galvão foi exonerado da direção do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, após semanas de confronto com o presidente, que criticou o então diretor por ter divulgado dados mostrando que o desmatamento na Amazônia cresceu 88% em junho, em comparação com o mesmo período no ano passado.
No sábado (10), a Alemanha anunciou que suspenderá repasses a projetos de proteção da Amazônia enviados ao Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente alemão. A embaixada diz que a decisão “reflete a grande preocupação com o aumento do desmatamento na Amazônia brasileira”. No dia 15, foi a vez da Noruega anunciar o fim dos repasses.
Na segunda-feira (19), uma nuvem negra que escureceu a cidade de São Paulo, por volta das 15 horas, mobilizou a atenção da população para o fenômeno das queimadas, que já vinha sendo monitorada pelo Inpe e outros institutos, como o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Especialistas da agência norte-americana Nasa também se pronunciaram.
Líderes mundiais passaram a se pronunciar sobre o tema. O presidente francês, Emmanuel Macron, levou a questão para o encontro do G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo), que ocorreu durante o final de semana em Biarritz.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, declarou profunda preocupação com os incêndios, e o prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, usou suas redes sociais para lembrar que, durante os oito meses de governo de Bolsonaro, o desmatamento cresceu 67% na Amazônia.
Efeitos ainda desconhecidos
Pesquisadores acreditam que vai demorar até se conhecer a extensão exata dos prejuízos que as queimadas das últimas semanas trarão para o ambiente. É possível que os danos sejam irreversíveis. De janeiro a agosto de 2019, o aumento no número de focos de queimadas no Brasil foi de 82% em relação ao mesmo período de 2018. O mês de agosto já é o pior dos últimos nove anos: são quase 26 mil pontos registrados somente na Amazônia.
De acordo com pesquisa do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a resposta ao fogo pode ser abrupta. “Em anos de seca, a mortalidade pode chegar a 90% das árvores, principalmente na borda da floresta”, diz um estudo científico publicado recentemente, mencionando os impactos das queimadas.
Nessas condições, o fogo pode varrer do mapa a floresta densa que já ocupou a área atingida. “Nove anos depois dos experimentos, vimos uma degradação prolongada. A gente continuou observando a mortalidade das árvores grandes. A expectativa de vida das árvores foi encurtada bastante”, diz o pesquisador sobre os efeitos irreversíveis.
Em áreas onde houve uma certa recuperação após o fogo, a análise mostrou que florestas da Amazônia degradadas levam pelo menos sete anos para recuperar a capacidade de bombear água para a atmosfera e absorver carbono.