Luta contra o feminicídio mobiliza mulheres no Rio Grande do Sul e ao redor do mundo

O final de semana foi de protesto em Venâncio Aires, município localizado a 130 km de Porto Alegre. Mais de 1500 mulheres se reuniram no centro da cidade para protestar contra os frequentes atos de feminicídio – em especial, o mais recente ocorrido no local onde a assistente social Juliani Klamt foi assassinada pelo ex-namorado, na última terça-feira (7/1). Batizado de Amiga, te cuida, o evento criado nas redes sociais pelo grupo Meninas Livres também contou com o apoio de integrantes dos movimentos Negro e LGBTQ+ .

O caso de Juliani faz parte uma estatística triste e de difícil combate: a dos números de feminicídio. Em recente divulgação dos índices de criminalidade no ano de 2019, a delegada Nadine Anflor, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, apresentou dados pouco animadores: foram 100 casos nos últimos 12 meses ante 116 em 2018, decréscimo de 13,8%. As tentativas de feminicídio subiram 1,1%: de 355 para 359 casos. Como tradicionalmente há subnotificação de casos de violência doméstica, os números reais são ainda maiores.

De acordo com Nadine – que já atuou por sete anos coordenando a Delegacia da Mulher, mais de 70% das vítimas de feminicídios de 2019 são mulheres que não registraram ocorrência contra seus agressores ou que não haviam solicitado medida protetiva.

Apesar de existir uma legislação que auxilia – e muito – a proteger as mulheres, caso da Lei Maria da Penha, ainda é preciso avançar em alguns aspectos legais para garantir, por exemplo, que casos de perseguição que não envolvam vínculo afetivo possam ser enquadrados, dando suporte a mais pessoas e encorajando-as a fazer as denúncias.

 

Pelo mundo

O tema também foi bastante discutido em diversos países. Na Argentina, milhares de mulheres marcharam em junho pelo combate ao feminicídio e pela legalização do aborto, usando como palavras de ordem “Nos queremos vivas e livres”.  Um relatório publicado recentemente pela ONG Casa del Encuentro revela que, entre 2008 e 2019, foram registrados 2.952 feminicídios e feminicídios vinculados.

Em setembro, mulheres francesas foram às ruas pressionar o governo para buscar formas de combater este tipo de crime. Lá, uma mulher é vítima de feminicídio a cada três dias. Como resultado, foram anunciadas medidas de urgência, entre as quais, a partir de janeiro deste ano, a destinação de €$5 milhões para a criação de mil novos lugares em abrigos para vítimas de violência de gênero, além dos 5mil atualmente disponíveis.

Na Itália, elas também se mobilizaram por suas vidas. Em novembro, uma passeata em Roma reuniu milhares, que leram os nomes de todas as vítimas da violência na Itália.  De acordo com pesquisa de 2019 da “Isso não é amor”, o número de mulheres mortas por companheiros aumentou de 37% em 2018 para 49% entre janeiro e agosto deste ano.  Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher – comemorado em 8 de março –, as manifestações tendem a crescer em todo mundo.

Em Porto Alegre, diversos movimentos sociais e coletivos uniram-se para organizar um grande ato. Sua ideia é fazer no 8 de março um ato que tome as ruas da cidade e reafirme a disposição e capacidade das mulheres para a luta. Uma plenária de organização desse dia está sendo chamada para 15 de janeiro, às 18h30min. na sede do SIMPA. O convite é aberto a todas as mulheres.