A Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande (Aprofurg – SSind) sediou, entre 29 de novembro e 1º de dezembro, o “Seminário de História e Memória do movimento docente: lutas por autonomia e liberdade, ontem e hoje”. O evento, organizado pelo ANDES-SN, faz parte do Curso Nacional de Formação de 2019 do Sindicato Nacional, que tem como tema “Reorganização da classe trabalhadora e os desafios para o movimento docente”.
Além do Rio Grande do Sul, participaram da atividade representantes de 17 seções sindicais oriundos de uma dúzia de unidades federativas: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Paraíba, Bahia, Distrito Federal, São Paulo, Goiás, Santa Catarina, entre outras.
Resgate da história do ANDES-SN
A mesa de abertura foi formada pelo presidente da Aprofurg, Cristiano Engelke, pelo representante do Sindicato do Pessoal Técnico-Administrativo da Furg (APTAFURG), Celso Carvalho, e pelo integrante da diretoria do ANDES-SN, Guinter Leipnitz. “Um evento nacional, aqui na Aprofurg, é muito importante para todos nós. Sobretudo o tema deste evento, que é sobre a história que vai nos ensinar muito. Hoje nós temos um problema, uma ruptura com a história. Temos que correr atrás e apresentar a história dos movimentos nas universidades para um conjunto de trabalhadores e trabalhadoras que chegam meio que fora dessa história e sem entender um pouco do movimento sindical”, afirmou o representante da APTAFURG.
Já o professor e representante da diretoria do Sindicato Nacional, Guinter Leipnitz, lembrou que o seminário é uma deliberação do 38º Congresso do ANDES-SN, realizado em Belém no início de 2019. “O resgate é da história do sindicato e de toda a luta que foi construída ao longo desses quase 40 anos. Houve uma série de momentos históricos bastantes específicos, como a pauta pela redemocratização, a pauta pela defesa da educação pública e pelo projeto de educação na constituição de 1988”, salientou, ao lembrar da motivação que levou o Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente (GTHMD) do ANDES-SN a organizar o seminário.
Roda de conversa
A primeira roda de conversa prevista na programação tratava sobre o movimento docente na ditadura empresarial-militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985. Participaram da discussão os docentes Roberto Leher (ex-reitor da UFRJ), Ana Maria Ramos Estevão (Unifesp) e Cléverton Oliveira (membro da Comissão da Verdade da Aprofurg).
“Lembro que, no início de abril de 1964, logo depois do início do golpe, houve um incêndio e a depredação da sede da União Nacional dos Estudantes no Rio de Janeiro, e foi por aí que começou a repressão aos movimentos ligados ao ensino. Logo após também foi invadida a Universidade de Brasília, que depois se tornou um dos ícones da resistência”, apontou Ana Maria.
O segundo a se manifestar foi o professor Roberto Leher, lembrando uma particularidade que não deve ser comemorada pelos brasileiros. “A interpelação da história é extremamente importante para pensarmos a realidade brasileira hoje. O Brasil, na América Latina, se particulariza por ser um país que não trabalhou de forma sistemática a memória e o que foi a ditadura no nosso país. Não há imagens do que aconteceu”, ressaltou, salientando, ainda, que o país está vivendo um contexto em que uma situação muito perigosa ronda a democracia brasileira.
Para finalizar os debates do primeiro dia do evento, o historiador e membro da comissão da verdade da Aprofurg, Cléverton Oliveira, deu um panorama dos elementos locais da história da ditadura e da relação do período com a Furg. Também contou um pouco da história da cidade do Rio Grande, através de fotografias e explicações, para dar contexto a professores e professoras que não conheciam o município.
Outros temas
Ainda foram debatidos os temas “Da ANDES ao ANDES: a organização do movimento docente”, que contou com a participação de Kênia Miranda (UFF), Robert Ponge (professor da UFRGS e 2º secretário da Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN), Sadi Dal Rosso (professor da UnB e presidente da ANDES-SN nos biênios 1988-1990 e 1990-1992) e Roberto Kanitz, 3º secretário do ANDES-SN; “A organização do(as) trabalhadore(as), sindicatos e luta de classes”, com Sâmbara Paula Francelino Ribeiro (UECE), Aldrin Castelucci (UNEB) e Luiz Blume, 1º vice-presidente da Regional Nordeste III do ANDES-SN; e “A memória histórica do ANDES-SN na luta por mais direitos para a classe trabalhadora”, com Ana Maria Ramos Estevão, 3ª vice-presidente do ANDES-SN, Carlos Alberto Pires, 1º vice-presidente da Regional Rio Grande do Sul, Roseni Ximenes, responsável pelo Centro de Documentação (CEDOC) do Sindicato Nacional, e Cristiano Engelke (FURG). A última mesa, apresentada pelo professor Amauri Fragoso (UFCG) e por Rodrigo Medina, 1º vice-presidente da Regional São Paulo, tratou da concepção sindical do ANDES-SN.
Avaliação do evento
“A temática do Seminário repassou e analisou momentos, aspectos e dimensões da história de nossa entidade nacional, desde seus primeiros tempos até os dias de hoje. As falas das mesas municiaram os presentes com dados e avaliações, instigando à reflexão e convidando ao debate”, relata o professor Robert Ponge, que abordou a emergência e o fortalecimento do movimento docente nos anos 1970 e 1980 na mesa “Da ANDES ao ANDES: a organização do movimento docente”.
Na visão do docente, as intervenções foram pertinentes e qualificadas. “O evento se debruçou sobre o passado para jogar luzes sobre o presente e ajudar a compreendê-lo. Fiquei muito satisfeito em ter tido a oportunidade de participar do encontro. Deve-se também parabenizar a diretoria da Aprofurg-SeçSind e a coordenação do GTHMD pela impecável organização das atividades”, aponta Ponge.
“Para docentes que, assim como eu, chegaram há pouco tempo no sindicato, o seminário foi muito importante para dar uma dimensão histórica da constituição do ANDES”, avalia o professor Guilherme Dornelas Camara, 1º vice-presidente do ANDES/UFRGS, que representou a Seção Sindical na atividade. O docente destaca também que o resgate histórico permite perceber que a luta do Sindicato Nacional se construiu independentemente de partidos, governos e reitorias. “O ANDES-SN esteve ligado aos momentos históricos marcantes do País, e outra questão importante é a manutenção da Comissão da Verdade instituída pelo Sindicato, que precisa receber subsídios das seções para manter viva a história dos militantes que tanto contribuíram e lutaram pela democracia e que muitas vezes tiveram suas vidas ameaçadas. A construção de uma memória do período de luta é importante para que essa história nunca mais se repita”, frisa Camara.