Greve Nacional da Educação mobiliza multidões no país

A Greve Nacional da Educação, construída em unidade por entidades sindicais e movimentos estudantis, mobilizou milhares e milhares de pessoas em todos os estados nesta terça-feira (13). Em Porto Alegre, as atividades aconteceram em diversos horários e locais, com um ato unificado na Esquina Democrática no final da tarde e caminhada rumo ao Campus Central da UFRGS, maior universidade pública do Rio Grande do Sul.

Durante a marcha, frases como “tira a tesoura da mão e investe na educação”, “não vou trabalhar até morrer” e “a juventude chegou forte, esse é o tsumani que vai barrar os cortes” eram entoadas. Motoristas buzinavam em apoio, e moradores de prédios do entorno piscavam a luz para prestar solidariedade ao protesto.

A pauta da paralisação foi protestar contra os ataques à educação pública, intensificados em 2019 com os sucessivos cortes de verbas e com o anúncio do Programa Future-se, proposto pelo governo Bolsonaro como uma nova forma de financiamento às instituições de ensino superior. Se aprovado, o projeto mudará 18 itens da Constituição Federal.

Na UFRGS, houve paralisação de aulas e de atividades em várias unidades. Na Faculdade de Educação, a paralisação foi total. Durante a manhã, o encontro entre estudantes, técnicos e docentes da Faculdade aconteceu do lado de fora do prédio. Os estudantes organizaram um espaço acolhedor e quem ali chegava podia tomar um café em meio a produtivas discussões sobre o futuro das universidades públicas, relata a professora Eunice Kindel.

Aula pública na UFRGS critica consulta forjada pelo MEC

O professor Antônio Gonçalves, presidente do ANDES-Sindicato Nacional, participou da mobilização na capital. Pela manhã, representou a entidade  no painel O Futuro das Universidades e Institutos Federais no Brasil, no salão nobre da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), e depois ministrou uma aula pública em frente à Faculdade de Educação (Faced). “A educação superior é pretensiosa porque ela busca emancipar o homem, a mulher, todos nós. Isso incomoda o capital, e por isso esse projeto precisa ser destruído”, ressaltou, acrescentando que esse tipo de proposta não pode estar descolada da crise estrutural do sistema econômico.

O docente orientou que a comunidade não participe da consulta pública a respeito do Future-se, que está sendo realizada em um site não-oficial e não abre espaço para manifestações consistentes. “Você só pode dizer se o texto está claro, pouco claro ou completamente claro”, critica, destacando que o espaço serve apenas para reunir dados a respeito de quem está combatendo a privatização do ensino. “Não é possível, diante da concepção de educação pública, fazermos a disputa a partir daquela consulta. Mas é possível fazer em diversos outros espaços”, apontou, lembrando a importância de as entidades representativas se posicionarem.

 

Cidades mobilizadas

Segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), houve atos em 204 cidades brasileiras, reunindo 900 mil pessoas. Em Brasília (DF), mais de dez mil pessoas participaram do ato que teve início pela manhã. A manifestação contou com o reforço da 1º Marcha das Mulheres Indígenas, organizada com o objetivo de dar visibilidade e reconhecimento à luta das mulheres indígenas e contra as mudanças na política da saúde indígena.

No Rio Grande do Sul, ocorreram manifestações em várias cidades. Em Pelotas, A a população ocupou o largo do Mercado Central em defesa da educação pública e contra a Reforma da Previdência. Em Rio Grande, o Ciência na Praça foi realizado à tarde, no Largo Dr. Pio, e em seguida houve passeata no centro da cidade.

A UFSM, assim como centenas de instituições educacionais do país, também aderiu à greve. Desde o início da manhã, manifestantes se postaram no arco de entrada do campus de Santa Maria, fechando uma das vias por 5 minutos – momento em que era fechada a entrada, ocorria a distribuição de panfletos e diálogo com motoristas e pedestres – e liberando por outros 5. No fim do dia, ato em Defesa da Educação Pública lotou a região central.

Em Passo Fundo, manifestantes caminharam até a 7ª Coordenadoria Regional de Educação. Eles denunciam a situação das escolas do município e reclamam do parcelamento de salários.

Alegrete, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul e Santo Ângelo também tiveram atividades contra os ataques à educação. Em outras cidades, como Alvorada, Palmeira das Missões, Bento Gonçalves e Capão da Canoa, instituições aderiram à paralisação e não tiveram aulas.