Multidões de pessoas participaram, nesta sexta-feira (20), da Greve Mundial do Clima. No total, mais de 150 países, inclusive o Brasil, registraram mobilizações em defesa de ações concretas para a preservação dos recursos naturais do planeta, assim como para frear as emissões de gás carbônico e combater o aquecimento global.
Em Porto Alegre, a manifestação, ocorrida no Parque da Redenção, também repudiou o projeto da Mina Guaíba, na Região Metropolitana, que, se aprovado, será a maior mina de carvão do Brasil, ocupando 4,5 mil hectares e invadindo uma área de preservação ambiental no Delta do Jacuí. Representantes do Comitê de Combate à Megamineração – integrado pelo ANDES/UFRGS, entre diversas outras entidades – participaram do ato.
“Estes projetos vão desconfigurar totalmente o Rio Grande do Sul, porque onde existe mineração não se consegue ter agricultura, pecuária e piscicultura, que representam as principais economias do Estado”, lamentou a manifestante Ana Guimaraens, da Frente pelo Clima, em reportagem do Correio do Povo.
“Apesar de não ter sido massivo como em outras cidades, o ato foi um momento importante de conscientização acerca não só do problema do clima, mas também de outras pautas socioambientais urgentes, como a instalação da mina Guaíba em Eldorado do Sul e de outros projetos de mineração no Estado”, acrescenta o docente Rafael Kruter Flores, professor da Escola de Administração, que também participou. Os ativistas aproveitaram para divulgar importante audiência pública sobre a questão, que deverá ocorrer na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul no próximo dia 30, às 18 horas.
Protestos pelo Brasil
A Greve Global foi uma manifestação de alerta para as emergências climáticas e se inspirou na estudante sueca Greta Thunberg que, desde 2018, decidiu deixar de ir à escola todas as sextas-feiras para protestar em frente ao parlamento de seu país contra as mudanças climáticas. Suas ações vêm conquistando o apoio de jovens de diversos países europeus, motivo que levou à sua indicação ao Nobel da Paz em 2019.
No Brasil, as atividades foram impulsionadas pela Coalizão pelo Clima, frente da qual fazem parte 70 coletivos, organizações ambientais, movimentos sociais e centrais sindicais. Os protestos também se dirigiram à figura do presidente Jair Bolsonaro, que internacionalmente já é considerado um inimigo declarado dos movimentos que lutam pela causa ambiental.
Em São Paulo, a manifestação ocorreu no tradicional vão livre do Masp, onde também aconteceu uma aula pública sobre mudanças climáticas, conduzida por professores da USP, Unicamp e Universidade Federal do ABC.
Em Salvador, a frase “Não há um planeta B” foi o recado dos manifestantes. Em Recife, fotos tiradas por alunos da rede pública sobre a biodiversidade local foram espalhadas pela Praça da República com os estudantes fazendo, no final, um grande painel com todo o material exposto.
No Rio de Janeiro, estudantes ocuparam a escadaria da Assembleia Legislativa do Estado para pedir o fim das queimadas na Amazônia e medidas governamentais de proteção ao meio ambiente. Em Maceió também houve protesto contra as queimadas na Amazônia e no Centro-Oeste.
No mundo
Em Nova Iorque, uma grande marcha envolveu a cidade e culminou em ato público com a presença de Greta Thunberg. Na ocasião, a jovem liderança indígena brasileira Artemisa Xakriabá, de Minas Gerais, também se manifestou. Artemisa disse à imprensa que Bolsonaro, com o seu ceticismo em relação às questões ambientais, está matando as florestas, e frisou: “os jovens protestando aqui hoje estão ajudando o planeta e especialmente nós, os indígenas, estamos na primeira linha de luta”. Na segunda (23), a ONU abre na cidade a Cúpula para Ação Climática, que reunirá representantes de cerca de 60 países para debater a temática.
No Reino Unido, foram cerca de 200 manifestações em várias cidades. A principal foi em Londres, em frente ao parlamento britânico. Em Nova Delhi (Índia), a juventude ecoou pedidos de mudanças. No Quênia, foi levantada a bandeira da energia renovável.
Na Austrália, mais de 300 mil pessoas se reuniram em um só espaço para exigir maior atenção dos líderes globais ao meio ambiente, enquanto na Tailândia a ocupação da entrada do Ministério do Meio Ambiente por estudantes marcou fortemente o país. Na Alemanha, 500 cidades participaram da Greve Mundial.
Emergência climática
O Acordo de Paris, selado em 2015 para conter o aumento de temperatura em dois graus Celsius na comparação aos níveis pré-industriais, não impediu que as emissões e temperaturas tenham atingido níveis recordes recentemente, e que fenômenos meteorológicos extremos sejam cada vez mais frequentes. “É preciso fazer as pessoas entenderem que há uma emergência climática hoje, que o problema é de hoje, que a saúde pública está ameaçada hoje, que o mar está subindo hoje, que as temperaturas já estão provocando problemas muito graves”, enfatizou na semana passada o secretário-geral da ONU, António Guterres, em uma entrevista ao Covering Climate Now, um consórcio global de mais de 250 meios de comunicação voltado para fortalecer a cobertura informativa sobre a luta contra a mudança climática.
21 de setembro
No sábado (21), Dia da Árvore, o professor Paulo Brack, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da UFRGS, publicou artigo no jornal Sul21, denunciando as políticas de destruição e o descaso dos governos federal, estadual e municipal, que levam ao desmatamento e à extinção de espécies de árvores nativas: “Infelizmente, a negligência não é exclusiva das autoridades federais. Aqui no Estado, além do governo estadual e dos empresários promoverem a destruição do Código Florestal Estadual e do Código Estadual de Meio Ambiente, em favor das atividades econômicas convencionalmente degradadoras, em projeto de lei ainda sob sigilo do Piratini, vimos a situação de incerteza quanto ao Viveiro do Jardim Botânico. […] torna-se, portanto, imperioso e urgente que os governos, pressionados pela população do Estado e do município e cobrados pelo MPE, possam retomar o cuidado com seu acervo de plantas e da produção de mudas de plantas ameaçadas, destacando-se aquilo que os viveiros particulares não fazem: a produção de mudas de espécies ameaçadas com base nas matrizes locais, com rastreamento e mapeamento e a busca de eventuais espécies que possam ser incorporadas, e programas e planos de ação e de educação ambiental, com a produção de mudas nativas de espécies de uso estratégico como ornamentais, ameaçadas, frutíferas e de valor cultural, entre outros, com o acompanhamento e integração com universidades, centros de pesquisa e entidades ambientalistas.”