Greve dos petroleiros paralisa 20 mil trabalhadores no Brasil

 

A paralisação nacional dos petroleiros já mobiliza cerca de 20 mil trabalhadores de 92 unidades do Sistema Petrobras em 13 estados, segundo informações do SindiPetro RS. Na última sexta-feira (7), a greve completou uma semana com um ato em frente ao Edifício Sede da estatal, no centro do Rio de Janeiro.

Sindicatos de diversas categorias, parlamentares e lideranças políticas se juntaram à manifestação, denunciando os prejuízos das privatizações em curso no governo de Jair Bolsonaro e a importância de defender a soberania nacional.

Nesta segunda-feira (10), a Federação Nacional de Petroleiros (FNP), o Sindipetro-RJ, o Sindicato dos Moedeiros – RJ e outras entidades, incluindo o ANDES-SN, convocam plenária de organização da luta unificada às 17h, no centro do Rio de Janeiro.

A categoria protesta contra mais de mil demissões na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) e o descumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), em uma paralisação que já é considerada a mais forte do setor nos últimos anos. As demissões estão previstas para começar na próxima sexta-feira (14).

Conforme a Federação Única dos Petroleiros (FUP), neste domingo (09), mais três plataformas aderiram ao movimento, junto com o Terminal Aquaviário de Vitória. Já são 40 plataformas, 18 terminais, 11 refinarias e mais outras 20 unidades operacionais, além de três bases administrativas afetadas.

Negociação

A adesão à greve ocorre sem piquetes, em cumprimento a uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que também autorizou bloqueio das contas bancárias dos sindicatos e contratação de funcionários temporários.

“A contradição da gestão evidencia o tratamento político que a direção da Petrobrás está dando à greve dos petroleiros ao apostar na tentativa de criminalização do movimento. Para isso, coloca em risco a segurança dos trabalhadores e das próprias unidades ao anunciar a contratação de ‘fura-greves’”, denuncia texto no site da FUP, questionando a negação da empresa de dialogar com a Comissão Permanente de Negociação, que segue em plantão de 24 horas dentro da sede da Petrobras, buscando interlocução.

“Os petroleiros são os mais interessados na manutenção da segurança do ambiente de trabalho e na continuidade das operações após a greve. Quem quer fechar fábricas é a direção da Petrobras”, lamenta a entidade, frisando que cinco dirigentes sindicais estão desde 31 de janeiro aguardando reunião no andar onde funciona a gerência de Recursos Humanos da estatal.

Adesão alta, repercussão velada

O movimento, que tem enfrentado ameaças de punições, assédio moral e outras arbitrariedades, não tem recebido destaque da grande imprensa. Ao mesmo tempo, pelo menos três decisões de Justiça já consideraram a ocupação legal, apesar dos recursos da empresa para a aplicação de multas ao sindicato.

Conforme a deputada Jandira Feghali (PCdoB), a Procuradoria da Câmara vai interpelar a Petrobras por ter impedido a entrada de parlamentares no prédio da estatal no início da semana passada.

Na quinta-feira (06), a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) publicou uma carta aberta ao presidente da República, Jair Bolsonaro, criticando a promessa feita pelo governo federal aos estados, de acabar com o imposto federal sobre combustíveis caso o ICMS estadual também fosse zerado.

“Em uma briga de responsabilidades entre os poderes, quem sai perdendo é sempre o povo que amarga um crescimento descomunal nos preços da gasolina, gás de cozinha e diesel nos últimos anos. Se o senhor está realmente comprometido com a baixa dos preços dos combustíveis “na bomba do posto” ou no preço do botijão – que afeta ainda o preço de diversos produtos como os alimentos –, o senhor deveria mudar a política da paridade de preços da Petrobras”, afirmam os grevistas.

Os petroleiros lembram que a política dos combustíveis privilegia os concorrentes estrangeiros em detrimento da Petrobras. “Por ter um custo de produção baixo, a Petrobras pode garantir um preço abaixo do mercado internacional e ainda ter um enorme lucro. Mas, ao contrário do que diz, o senhor e seu indicado para a presidência da Petrobrás, Roberto Castello Branco, têm praticado uma política anti-nacional. As refinarias brasileiras diminuíram sua produção de derivados do petróleo, que hoje estão em torno de 70% de sua capacidade, enquanto a importação de derivados do petróleo cresceu de 147 para 197 milhões de barris (bep) ao ano de 2015 a 2019 (Fonte: ANP)”, previne a carta, acrescentando que a prática de vender o petróleo bruto para o exterior para depois importar mais caro os derivados, quando essa produção poderia ser local, vai tornar o Brasil cada vez mais dependente das variações do mercado internacional.

“O desafio, então, está lançado. Se o senhor, Bolsonaro, está realmente preocupado com o preço dos combustíveis para os brasileiros, mude a política de preços da Petrobras, pare as privatizações das refinarias e fábricas de fertilizantes e aumente a produção nacional de derivados do petróleo. Só assim o senhor estará sendo, de fato, e não só em palavras, nacionalista”.

Manifestação em Porto Alegre

Em Porto Alegre, manifestação foi realizada nesta segunda-feira (10), na Esquina Democrática, dialogando com a população sobre os motivos da paralisação e denunciando a privatização da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, prevista para agosto – o que aumentará os preços dos combustíveis e do gás de cozinha.

Na última segunda-feira (03), foi realizado ato em frente à Refap, apoiado por trabalhadores de diversas categorias que também condenam a provável privatização da refinaria e alertam para os riscos que atingirão toda a sociedade. “A greve tem o papel macro de demonstrar à sociedade os desmontes e os ataques que estão acontecendo ao povo brasileiro , e não só aos trabalhadores e trabalhadoras”, explica Miriam Cabreira, diretora do Sindipetro RS, destacando que, caso haja privatização no setor, a conta vai ficar ainda mais cara para a população brasileira.  “A Petrobras deixou de cumprir seu papel de empresa estatal que serve o povo desde 2016”, denuncia a manifestante.