Em greve desde o dia 17 de agosto, os trabalhadores dos Correios cobram do governo a manutenção do acordo coletivo e a disponibilidade de equipamentos de prevenção contra a Covid-19, além de lutar contra a privatização da empresa. Esse último agravante vem desencadeando sucateamento da empresa e corte de direitos.
“É sempre bom lembrar que a greve não é por reajuste. Ela é fundamentalmente contra a retirada de 70 das atuais 79 cláusulas do Acordo Coletivo, reduzindo a renda da categoria em cerca de 40%, e necessária frente a intransigência da empresa que se nega a negociar, até mesmo com o TST, que apresentou uma proposta mediada, os trabalhadores manifestaram posição de aceitar, mas a empresa recusou”, esclarece o Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do RS (Sintectrs).
“Essa direção da fome não tem escrúpulos nem vergonha de agir ilegalmente, descumprir determinações judiciais, atropelar até o Tribunal Superior do Trabalho, tirar do bolso do trabalhador e da boca de seus familiares mesmo em plena pandemia”, acrescenta nota publicada pela Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect).
A entidade, juntamente com a Federação dos Trabalhadores em Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Fentect), denuncia que a investida do governo Bolsonaro sobre os direitos dos trabalhadores é uma tentativa de sucateamento e desmonte para justificar a privatização.
A categoria enfatiza ainda que o corte de direitos vem em um momento em que os Correios registram maior volume de rendimentos devido ao crescimento de entregas durante o isolamento social da pandemia do novo coronavírus.
Em todo o país cerca de 70 mil trabalhadores estão paralisados, o que representa 70% de adesão à greve.
Em defesa da vida
Segundo a Fentect, quase 100 trabalhadores já morreram em decorrência do novo coronavírus. “Nossa greve é (também) em defesa da vida dos trabalhadores. Já morreram muitos por consequência do serviço essencial, exposição na rua e falta de EPIs dos Correios. Enquanto você recebe as encomendas na sua casa, tem gente morrendo e a direção dos Correios não está fazendo nada, é indiferente, é só mais um”, lamenta o secretário-geral da Fentect, José Rivaldo da Silva, em reportagem do portal Brasil de Fato.
O acordo coletivo, concedido em outubro de 2019 pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) com vigência de 24 meses, foi revogado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) através de liminar em função de processo judicial aberto pela empresa. Desde 31 de julho, os trabalhadores estão sem cobertura.
“A direção militar da ECT quer impor a maior derrota da história aos ecetistas, com a destruição do Acordo Coletivo e o roubo de todos os direitos conquistados ao longo de 35 anos de lutas”, afirma a Findect. Uma audiência de conciliação está marcada para sexta-feira (11), no Tribunal Superior do Trabalho.
Militares nos Correios
Outro argumento da Fentect contra a falta de recursos alegada pelo governo federal é a contratação de militares para ocuparem cargos de alto escalão nos Correios e criação de novas assessorias especiais. De acordo com a organização, já são mais de 10 militares em posições estratégicas da direção dos Correios e suas subsidiárias ganhando salários de R$ 30 a R$ 46 mil.
“Tentamos de todas as formas não entrar em greve, mas o governo foi intransigente e nos atacou de forma voraz, nos deixando totalmente deixando desamparados. A última alterativa foi a luta, que está sendo feita em todos os estados brasileiros”, afirma Carlos Messala, servidor dos Correios no Rio Grande do Sul.
Ato em Porto Alegre
Nesta sexta-feira (11), a partir das 10h, trabalhadores dos Correios dos setores de Porto Alegre, região metropolitana, Vale dos Sinos e interior se reunirão em frente ao prédio Sede, no centro da capital, como parte de manifestação nacional da categoria.
Segundo Messala, a participação de outras entidades e organizações é importante para ampliar o alcance da mobilização. “Apesar de estarmos fazendo algumas atividades na rua, a pandemia nos impossibilita de fazer grandes atos”. Para ajudar, o sindicalista também orienta a divulgar a causa via internet, combatendo os ataques ideológicos que vêm sendo intensificados por partidários da Direita, e entrar em contato com o sindicato da região para integrar futuras agendas de protestos. No Rio Grande do Sul, a unidade pode ser acessada pelo e-mail sintectrs@sintectrs.org.br. O ANDES/UFRGS apoia a greve das e dos trabalhadores dos Correios e convida as e os docentes a apoiarem sua mobilização.