Greve docente e a enchente do Rio Grande do Sul

Ainda que o drama das enchentes e alagamentos no Rio Grande do Sul, especialmente na Região Metropolitana de Porto Alegre, não tenham cessado, é importante que as e os docentes da UFRGS estejam informados sobre o avanço da greve federal da educação. Hoje já são 57 instituições federais de ensino, entre universidades federais, institutos federais e CEFETs em greve – número que representa 68% das Universidades e 73% dos Institutos Federais e CEFETs.

Ao mesmo tempo em que nós, professoras e professores da UFRGS, precisamos resguardar nossa própria sobrevivência e reverter a mobilização para atividades de atenção aos abrigados e demais atingidos da catástrofe que nos atingiu a todos, milhares de colegas docentes e técnicos administrativos estão, nestas últimas semanas, lutando em nome de todos nós para um reajuste salarial justo para os próximos 3 anos, por recomposição orçamentária das instituições e pelo “revogaço” prometido durante a campanha eleitoral.

O governo arrastou as negociações por meses, quiçá esperando ‘vencer pelo cansaço’. Quando a categoria, num imenso esforço de mobilização, deflagrou a greve, o governo finalmente apresentou proposta e voltou a dialogar. Mas a luta estava só começando, pois, a proposta, mesmo que tenha avançado um pouco, está muito aquém das demandas alinhavadas pela categoria em dezenas de Assembleias, e agravava a condição da carreira, já bastante desequilibrada e desestruturada.

Dentre as instituições em greve, do total de 7 sindicatos que são base da federação cartorial Proifes, 4 aderiram ao chamado e estão paradas e, até o momento, apenas o Sindicato Municipal de Docentes das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre (Adufrgs) aceitou a proposta do governo em mais um passo triste na trajetória que continuamente se afasta de sua história de resistência à ditadura. Recomendamos a leitura dos documentos (inserir link https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/greve-docente-federal-20241) do Comando Nacional de Greve que explicam detalhadamente o desenrolar da luta.  Apontamos dois aspectos que, para nós, são definitivos para a não assinatura do acordo com a proposta do governo: a penalização indecente sobre a maioria dos professores ativos, que terão reajuste entre 12,8 e 16,5%, abaixo da inflação prevista para o período; e o aumento da discrepância entre ativos e aposentados, os quais, já este ano, foram penalizados com o aumento dos auxílios aos professores da ativa que apenas os incluiu marginalmente, no auxílio saúde. Para nós é inegociável a solidariedade entre as diferentes gerações de trabalhadores e a equiparação entre ativos e aposentados.

Ainda, o governo federal ofereceu reajustes a diferentes categorias neste ano: 77,15% para os policiais penais; 27,48% para a PRF; e 23% para o Banco Central. Ao final da carreira, um professor titular receberá 57% do salário de um/a delegado/a federal.

A greve não é um direito natural, mas uma conquista histórica dos trabalhadores, lograda à custa de muito sofrimento. Honrá-la é lutar ao lado de nossos colegas. A falácia de que a greve desestabilizaria o governo já foi superada. A greve é pela educação. Entretanto, nós, na UFRGS, estamos impossibilitados momentaneamente de nos somarmos à greve, absortos que estamos na luta contra as consequências da catástrofe climática provocada por políticas espoliadoras da natureza.

Nossa ação solidária nas cozinhas, nos abrigos, nos resgates é a forma possível concreta de sermos solidários à greve federal da educação superior, mas devemos nos manter informados sobre a luta de nossos colegas e dos técnicos administrativos pelo país afora. Afinal o Brasil é solidário com o Rio Grande do Sul submergido pelas águas e por políticas neoliberais que nos trouxeram a este caos. O necessário e justo socorro federal ao RS não compete em termos orçamentários com os recursos para os reajustes dos servidores da educação.

Cabe a nós, também em solidariedade com os que lutam, mantermo-nos informados e expressarmos a rejeição à proposta do governo. Esperamos que respeite a categoria, não encerre as negociações à revelia e traga, na próxima rodada da Mesa de Negociação no dia 27/5, uma proposta definitiva que atenda às nossas demandas.