Greve da educação unifica estudantes, técnicos e docentes na UFRGS e no país

A Greve Nacional da Educação mobilizou os estudantes, professores e técnicos das universidades e dos institutos federais de todo país nos dias 2 e 3 de outubro, que foram às ruas para dialogar com a população, mostrar o que se faz nas instituições e protestar contra os cortes de verbas e ameaças de privatização da educação pública.

 

Na UFRGS, a agenda unificada dos dias 2 e 3 foi construída em Assembleia da Comunidade, realizada no dia 26 de setembro, convocada por DCE, APG, ANDES/UFRGS e ASSUFRGS. Para a quarta-feira (2), foi planejada a mostra “UFRGS na rua”, no Glênio Peres, com cartazes e atividades diversas de interação com a população. Na quinta-feira (3), a mobilização culminou com um grande ato em defesa da Ciência e da Educação, na Esquina Democrática, com a participação de milhares de estudantes, professores e técnicos, seguido de caminhada pelo centro de Porto Alegre.

A Greve na UFRGS

Na quarta-feira (2), os prédios da Faculdade de Educação e da Faculdade de Arquitetura amanheceram fechados. O Colégio de Aplicação, os Institutos de Letras, de Psicologia e de Filosofia e Ciências Humanas e a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação também tiveram suas atividades paralisadas. Em outras unidades, como a Escola de Administração, o Instituto de Artes e o Instituto de Matemática, as atividades usuais foram bem reduzidas.

Pela manhã, foram realizados debates nas unidades e preparativos para a mostra da tarde. No Colégio de Aplicação, os professores se reuniram para debater o programa Future-se com o professor Carlos Alberto Gonçalves, do ICBS. Em frente à Faculdade de Educação, estudantes, técnicos e professores organizaram uma roda de conversa sobre o programa Future-se e os diversos ataques à educação.

Em frente à Faculdade de Ciências Econômicas, a professora Rosa Chieza, em uma atividade organizada pelos centros acadêmicos DAECA e CERI, explicou o caráter regressivo do sistema tributário brasileiro, que incide principalmente sobre o consumo, penalizando os mais pobres, e que aplica as mesmas alíquotas a faixas de renda muito díspares, desobrigando os mais ricos de contribuírem com uma fatia maior de impostos. Apresentou as propostas do Instituto de Justiça Fiscal e defendeu a necessidade da luta por uma reforma tributária que promova a distribuição de renda e viabilize a oferta de serviços públicos de qualidade.

No Campus Litoral Norte, em Tramandaí, estudantes, professores e técnicos se reuniram em uma roda de conversa sobre a Universidade. Os estudantes dos cursos de Biologia Marinha e do Bacharelado Interdisciplinar organizaram uma exposição de trabalhos em frente ao Museu de Ciências Naturais, no Ceclimar.

No Instituto de Artes, depois de um café coletivo, estudantes organizaram uma oficina de produção de faixas e cartazes.

Na tarde da quarta-feira (2), aconteceu a exposição UFRGS na Rua, no Largo Glênio Peres. Estudantes, professores e técnicos apresentaram à população trabalhos desenvolvidos na universidade.

Quem passava pelo local podia fazer exames como medição de pressão e glicemia, e também conhecer algumas das pesquisas feitas dentro da UFRGS com o objetivo de aproximar a população da universidade.

“Vamos dialogar com a sociedade, trazer para rua nossas ações, e mostrar à comunidade a importância da universidade. Mostrar que o remédio que o idoso toma só existe de graça porque tem pesquisa”, exemplificou a presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE/RS), Gerusa Shaiana Domingues Pena, em reportagem do Correio do Povo. “Tudo o que a gente produz dentro da universidade é para o desenvolvimento do país e para a população. Com os cortes que estão acontecendo, isso não poderá mais ser realizado”, completa Ana Paula de Souza dos Santos, estudante de Matemática e coordenadora do DCE- UFRGS, em entrevista ao Sul21.

Professores de várias unidades participaram das atividades, junto com os estudantes e expondo cartazes da campanha “A verdade sobre a Universidade”.

Com apoio da Assufrgs, o ANDES/UFRGS montou um estande que foi usado como ponto de distribuição de panfletos sobre o programa Future-se e de outros materiais. Balões em formato de zebra, em referência irônica às declarações do ministro Weintraub, e faixas com os dizeres “Educação sim, ele não” marcavam a presença do movimento docente na atividade.

A greve de 48 horas culminou com um grande Ato em defesa da Educação e da Ciência.

A partir das 17 horas, estudantes, técnicos e professores da UFRGS, do IFRS e da UFCSPA reuniram-se em frente à Faculdade de Educação (Faced/UFRGS) e de lá saíram em caminhada pela avenida perimetral, com percussão e gritando palavras de ordem: “A juventude chegou forte, tem greve geral para barrar os cortes”; “Que contradição, tem dinheiro pra milícia mas não tem pra educação”; “Trabalhador, vem apoiar, a nossa luta é para o teu filho estudar”. Na avenida Borges de Medeiros, os manifestantes foram saudados com buzinas e aplausos da população que estava nos pontos de ônibus. Após as falas de representantes das entidades, explicando os motivos da greve e do ato, na Esquina Democrática, milhares saíram em caminhada pela avenida Julio de Castilhos e túnel de Conceição, de volta até o campus central da UFRGS.

Universidades do Rio Grande do Sul mobilizadas

Em Rio Grande, houve caminhada com participação de professores, estudantes, técnicos e terceirizados da Furg e do IFRS, além de assembleia ampliada da comunidade. Em Pelotas, UFPel e IFSul paralisaram todas as atividades. Também foi realizado um almoço em frente ao Campus Pelotas do IFSul, na quarta-feira (2), uma roda de conversa sobre lutas e debates. “As três categorias da UFPel e do IFSul estão muito dispostas a dizer não ao Future-se, a dizer não aos cortes, e a defender a Universidade com todos os seus cursos, com os projetos de extensão que ela desenvolve em todas as diversas áreas. A gente sente que este é um momento de fortalecimento da luta em defesa da educação e da Universidade Federal de Pelotas”, afirma a vice-presidente da ADUFPel-SSind, Angela Vitória.

Na UFSM houve suspensão total ou parcial dos atendimentos em bibliotecas e em laboratórios, e o Centro de Convenções ficou lotado para reunião extraordinária do Conselho Universitário (Consu) sobre a minuta do Future-se. Depois de intervenções ao longo de toda manhã, não apenas de conselheiros, mas de representações das entidades e também da comunidade universitária, foi aprovada uma nota de rejeição ao programa. O DCE da instituição declarou greve por tempo indeterminado.

No campus de Erechim, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) promoveu uma série de aulas públicas. Em Uruguaiana, alunos da Unipampa realizaram protesto na BR-472, com bloqueios parciais da rodovia.

No Instituto Federal Rio Grande do Sul (IFRS), a quarta-feira foi dia de eleição para reitor e diretores do campi. Na quinta-feira, estudantes, técnicos e professores aderiram à Greve Nacional.

Brasil em defesa da educação

A paralisação, nacional, foi convocada pelo ANDES-SN juntamente com as entidades Fasubra, Ubes, UNE, Fenet, ANPG e Sinasefe, com apoio de demais entidades estudantis. Apurações dos organizadores apontam para a realização de atos em pelo menos 20 estados e no Distrito Federal.

Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), foi realizado um julgamento simbólico do Future-se, condenado por ameaçar o futuro da educação superior no Brasil, além de aula pública sobre o desmonte da educação. Aulas foram suspensas em Campo Grande e no interior do estado, assim como nas federais UFPE e UFRPE, em Pernambuco.

Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o primeiro dia de greve teve apresentações culturais e rodas de conversa no campus Pampulha. Em frente ao campus Saúde, a calçada virou consultório e sala de aula durante a maior parte do dia no “Universidade na Praça”, que promoveu testes gratuitos de HIV, glicemia e pressão, assim como apresentações de trabalhos acadêmicos de estudantes da pós-graduação.

Segundo a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Uberlândia (Adufu), os maiores blocos de aulas da instituição foram fechados. A paralisação dos docentes e técnicos administrativos refletiu no funcionamento da Escola de Educação Básica (Eseba), onde não houve aulas nem atendimento.

No Rio de Janeiro, os manifestantes aproveitaram a mobilização para protestar também contra a política genocida adotada pelo governador Wilson Witzel. Em frente ao palácio da Guanabara, foram dispostos uniformes de escola municipal com tinta vermelha, em referência aos jovens mortos desde o início do ano na região.

Em Alagoas, ocorreram manifestações em Maceió, Arapiraca, Viçosa, e Penedo, com concentração na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), onde também houve palestras, oficinas e cines-debate.