A posse dos novos integrantes da Câmara de Vereadores de Porto Alegre ocorreu em meio a manifestações contra o racismo do Hino Rio-grandense. Quatro vereadoras negras e um vereador negro – maior representação já obtida na história do legislativo municipal – permaneceram sentados durante a execução da música, se recusando a cantá-la.
Em meio a críticas de colegas, Matheus Gomes, eleito pelo PSol, historiador e mestrando na UFRGS, defendeu a ação da bancada negra, explicando que “temos obrigação nenhuma de cantar um verso que diz: ‘povo que não tem virtude acaba por ser escravo’”. Gomes ainda questionou a obrigatoriedade da execução do hino em cerimônias oficiais, já revertida em diversas instituições, como a própria Universidade. “A Universidade Federal, uma das mais importantes do nosso estado, fruto da luta de muitos de nós aqui, já reconhece a não obrigatoriedade das pessoas terem que tocar o hino devido a esse conteúdo racista dele em solenidades oficiais, e acho que seria muito importante a Câmara de Porto Alegre também começar a se perguntar sobre esse tema”.
A repercussão gerou manifestações de apoio nas redes sociais e discussões sobre a supressão da estrofe racista da composição. Esta não seria a primeira vez que o hino sofreria modificações. Criado em 1933, as letras do hino já passaram por mudanças, a versão atual sendo a terceira, definida e tornada oficial em 1966, durante a ditadura cívico-militar, quando foram retirados versos que faziam menção a Atenas, gregos e romanos em luta contra tiranos.
A Câmara de Porto Alegre é formada por 36 vereadores; destes, 31 são brancos e 29, homens. Em uma atitude antidemocrática, partidos governistas firmaram acordo que excluiu a oposição da mesa diretora, indo contra o regimento interno da instituição.