Uma das diversas atividades preparatórias para Fórum Social Mundial (FSM), que ocorre em 2021 no México, o Fórum Social das Resistências 2020 começou terça-feira (21) em Porto Alegre e na região metropolitana e segue até sábado (25), sob o lema “Democracia e Direitos dos Povos e do Planeta”. O evento congrega plenárias, seminários, assembleias e debates, imersos em um contexto em que a pauta neoliberal – historicamente confrontada pelo encontro – vem acompanhada pela ascensão da extrema-direita.
A agenda autoritária, associada a uma política econômica profundamente neoliberal, ocasiona a exclusão de minorias e retirada de direitos. Esses são alguns dos enfrentamentos que estão na ordem do dia dos movimentos sociais participantes. “Resolvemos fazer o fórum de 2020 entendendo que estaríamos fechando um ano de governo federal e abrindo um ano de eleições municipais. Os movimentos sociais brasileiros tinham e têm a obrigação de ter um encontro, de realizações de atividades, mas essencialmente é um processo de articulação política. O evento que acontece em Porto Alegre é apenas um momento do processo”, destaca o conselheiro internacional do FSM e integrante da diretoria executiva da Abong (Associação Brasileira de ONGs), Mauri Cruz, em entrevista ao programa Voz Docente. “Em Porto Alegre se define muito das agendas que vão acontecer após o evento. Se faz muita aliança, se constroem muitas alternativas, se consegue definir melhor a interpretação sobre o que está acontecendo para, a partir desse diálogo entre movimentos sociais, entre movimentos históricos, movimentos novos, lideranças e intelectuais, a gente pautar o processo”, acrescenta. Para ouvir a entrevista na íntegra, clique aqui.
Convidados nacionais e internacionais compõem a programação, que inclui assembleia de convergências e assembleia dos povos para a tradicional reunião do conselho internacional do FSM, além de diversas atividades em parques e praças para a troca de experiências e acúmulo de forças dos movimentos de todo o mundo, articuladas ainda com outras iniciativas internacionais. Na marcha de abertura, realizada no centro da capital, representantes de diversas organizações se concentraram no Largo Glênio Peres e seguiram até as proximidades da Usina do Gasômetro.
Na sexta-feira (24), às 10 horas, acontece o Diálogos sobre Educação Popular, organizado pelo Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe (Ceeal) no auditório do Centro de Assessoria Multiprofissional – Camp (Praça Parobé, 130). No mesmo horário, o Simpa vai sediar o debate “Porto Alegre cidade das resistências do povo: Construindo um território livre do fascismo a partir de experiências do passado e das utopias para o futuro, com participação popular”. A programação completa pode ser acessada aqui.
Um novo mundo é possível
Em 2017, mais de 5 mil pessoas participaram do encontro, que tem origem no Fórum Social Mundial e busca construir debates e articulações para enfrentamento ao sistema neoliberal. A experiência foi iniciada em 2001, contrapondo-se aos governos de Fernando Henrique Cardoso, no Brasil, Carlos Menem, na Argentina, e Alberto Fujimori, no Peru, por exemplo, que implantavam o modelo como o único possível, a despeito de todo o processo de pobreza e desigualdade.
Com o FSM, os movimentos sociais e a pauta de inclusão e desenvolvimento ganharam fôlego, constituindo-se como alternativa de diálogo inclusive com o Fórum Econômico Mundial em Davos.
“Os Fóruns Sociais, apesar de seus limites, seguem sendo espaços abertos, plurais, de encontros horizontais e debate democrático que já produziram iniciativas comuns e podem contribuir na formulação de propostas e na articulação de ações capazes de se opor ao domínio do capital e de todas as formas de dominação”, destaca o material de divulgação do evento, que busca induzir a realização de processos de convergência que possam contribuir para superar a histórica fragmentação e departamentalização das causas e das lutas sociais.
“A pauta política é explicitamente fascista, de não só retirada de direitos, mas de eliminação dos sujeitos e segmentos da área social, o que exige que os movimentos e organizações de resistência se reúnam e pensem estratégias que sejam eficazes para a defesa do direito à democracia, da vida e do meio ambiente, que são as pautas principais que estamos tocando”, avalia o conselheiro internacional do FSM.
A mexicana Rosy Zúñiga, secretária-geral do Conselho de Educação Popular de América Latina e Caribe (CEAAL), enfatiza a importância de congregar os movimentos sociais de resistência frente aos retrocessos que se vive na América Latina. “É muito benéfico nos juntarmos aqui para pensarmos juntos como vamos nos unir para sair dessa opressão. No Chile, o povo está mobilizado, pensando como querem ser, querem uma nova constituição. No entanto, as forças oficiais não querem escutar o povo. Então nesse momento precisa ter solidariedade com o Chile”, argumenta a militante.
“Temos a preocupação com o que passa na Bolívia, com o racismo, a discriminação sofrida por mulheres e povos indígenas. Também estão assediando muito os jovens, sobretudo no Brasil, os negros, e também as mulheres. Há uma preocupação muito grande com esse sistema patriarcal. É preciso derrotar todo esse sistema que normaliza a violência”, finaliza.