Fiocruz defende medidas de Supressão ou Bloqueio para frear pandemia no Brasil

Diante da situação extremamente crítica de hospitais e postos de saúde no Brasil em virtude da pandemia de Covid-19, a Fundação Osvaldo Cruz divulgou, na quinta-feira (11), boletim reforçando a necessidade de ampliar e fortalecer as medidas de Supressão ou Bloqueio como método de frear a doença no país. Conforme a entidade, esse tipo de conduta é capaz de reduzir a transmissão em até 80%.

“As medidas de Supressão ou Bloqueio demandam certo tempo para que produzam efeitos na redução da transmissão e casos e por conseguinte na redução das taxas de ocupação de leitos hospitalares para Covid-19 e óbitos. Para redução das taxas de transmissão em cerca de 40%, resultados de pesquisas apontam a necessidade de pelo menos 14 dias de adoção das medidas, exigindo-se o monitoramento diário para acompanhar seus impactos na redução de casos, taxas de ocupação de leitos hospitalares e óbitos”, alerta a Fundação.

Além das medidas de distanciamento físico e social, o uso de máscaras em larga escala deve ser ampliado e estimulado, acrescenta a Fiocruz. “Máscaras de pano multicamadas podem diminuir entre 70%-80% o risco de infecção. Com 80% ou mais da população utilizando há uma redução muito acentuada da transmissão. Se somente 50% da população utilizar máscaras, a redução será mínima”, elucida o boletim, defendendo a divulgação de campanhas relacionadas ao tema e a distribuição gratuita do EPI.

A Fiocruz insiste na construção de uma agenda nacional, mobilizando não apenas Executivo, Legislativo e Judiciário em todos os níveis, mas também empresas, instituições e organizações da sociedade civil para o enfrentamento ao novo coronavírus, que, até segunda-feira (15), foi responsável por mais de 278 mil óbitos no Brasil.

“No momento atual, em que a situação é gravíssima, torna-se necessário enfatizar ainda mais a necessidade de manutenção de um conjunto de medidas não-farmacológicas como principal medida de controle e redução da transmissão e número de casos, buscando reverter ou evitar colapsos no sistema de saúde, reduzindo drasticamente os níveis de transmissão e, consequentemente, o número de mortes evitáveis”, frisa a entidade, mencionando a restrição da circulação e das atividades não essenciais. “Passo importante nesta direção foi expresso no Pacto Nacional em Defesa da Vida e da Saúde, lançado pelo Fórum Nacional de Governadores, em 10 de março”.

No documento citado pela Fundação, 21 governadores propõem “expansão da vacinação, com pluralidade de fornecedores, mais compras e busca de solidariedade internacional, em face da gravidade da crise brasileira”, além de uso de máscaras, desestímulo a aglomerações e apoio aos Estados para manutenção e ampliação de leitos.

Colapso

Assim como diversos estados brasileiros, o Rio Grande do Sul vive uma situação de colapso no sistema de saúde, que mantém todas as regiões do estado em bandeira preta há mais de duas semanas.

“O número de pacientes confirmados com a doença em UTIs era de 800 há um mês. Agora, são 2,5 mil. É uma pressão muito forte. Isso vai significar que o Estado entre provavelmente o mês de abril com bandeiras pretas”, informou o governador Eduardo Leite nesta segunda-feira (15). Ele lembrou que o Estado já tem cerca de 1,2 mil mortes decorrentes da doença por semana, mais que o dobro registrado no momento mais crítico da pandemia em 2020, que era de 500. “E isso infelizmente vai aumentar”, antecipou.

Mesmo assim, o governo pretende retomar o sistema de cogestão, que permite que prefeituras e associações regionais adotem regras menos restritivas, a partir do dia 22 de março.

Porto Alegre nos dói

Em Porto Alegre, dos 17 hospitais monitorados pelo painel da Prefeitura, dez estão com lotação esgotada em UTIs Covid. Os setores de Emergência de pelo menos três grandes hospitais também já anunciaram fechamento por falta de estrutura para novos pacientes: Santa Casa, Hospital das Clínicas e Conceição.

Enquanto isso, diversos pontos de aglomerações seguem ocorrendo em parques e praças da cidade.
No último domingo, enquanto emergências hospitalares estavam fechadas e havia fila para registro de óbitos na cidade, Porto Alegre foi palco de uma carreata contra o isolamento social. No mesmo dia, 244 pacientes aguardavam vagas para tratamento intensivo na capital gaúcha.