Estudantes e docentes protestam contra reitor em formatura da UFC

Durante colação de grau de formandos da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizada nesta terça-feira (14), estudantes e docentes protestaram contra o reitor Cândido Albuquerque, nomeado por Jair Bolsonaro em agosto passado mesmo sendo o menos votado da lista tríplice.

Em vídeo publicado pelo jornal O Povo, grupos de estudantes e de professores aparecem subindo ao palco da Concha Acústica da UFC sob os gritos de “Fora interventor”, referindo-se à nomeação arbitrária – prática que marcou o primeiro ano do governo Bolsonaro. Em seguida, seguranças retiram os militantes do local, que saem aplaudidos pela plateia que participava da cerimônia, que englobou cursos das Faculdades de Medicina, Farmácia, Odontologia e Enfermagem, juntamente com formandos das áreas de Cultura e Arte, Instituto de Educação Física e Esportes, do Instituto UFC Virtual e do Instituto de Ciências do Mar.  Além disso, faixa e camisetas estampam a frase “Fora interventor, não elegemos, não reconhecemos”.

A UFC divulgou texto criticando a iniciativa e afirmando que a ação ameaçou a segurança dos participantes, o que foi rebatido pelo Diretório Central dos Estudantes em nota pública em sua página no Facebook: “Nós REPUDIAMOS que a cerimônia tenha sido abreviada, sem podermos ouvir as palavras dos formandos e dos professores oradores. Sabemos o quão memorável esse momento é em nossas vidas e de nossas famílias”, afirma a entidade, acrescentando que  “aproveitamos a oportunidade pra denunciar a Reitoria, que durante nossa passagem pacífica pela cerimônia, nos fiscalizou com seguranças à paisanas, que tiraram fotos e nos coagiam como se fôssemos pessoas estranhas à Universidade, além de termos sido ‘avisados’ de que se tentássemos atrapalhar de qualquer forma a cerimônia ‘sofreríamos as consequências’”.

A Adufc também divulgou texto em que destaca que os próprios formandos apoiaram a manifestação, incorporando-se ao protesto e aplaudindo.  “Queremos reafirmar nosso inteiro compromisso com o evento memorável da colação de grau. Ouvimos de muitos estudantes acerca do incômodo de estar em cerimônia conduzida pelo interventor. A intervenção, sim, era uma sombra em momento tão especial. O protesto não diminui, ao contrário, recupera o brilho desse grande evento coletivo, ao mostrar que podemos, juntos e juntas, fazer viver a democracia”.

Candidato com menos votos

A nomeação de Cândido Albuquerque, anunciada em edição extra do Diário Oficial da União em 19 de agosto de 2019, contrariou a preferência de estudantes, professores e servidores tanto em consulta pública, quanto na elaboração da lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário (Consuni).

O reitor escolhido por Bolsonaro foi o terceiro colocado na consulta pública realizada com estudantes e professores.  O mais votado, o então vice-reitor da UFC, Custódio Luís Silva de Almeida, recebeu 7.772 votos, enquanto Albuquerque ficou com apenas 610. O segundo colocado, Antônio Gomes de Souza Filho, chegou a receber 3.499 votos.

Já na listra tríplice elaborada pelo Conselho Universitário para ser encaminhada à Presidência da República, Cândido Albuquerque foi o segundo mais votado, depois da desistência de Souza Filho. Custódio recebera 25 votos, contra nove de Albuquerque e oito da diretora do Campus de Crateús, Maria Elias Soares.

Governo das intervenções

Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro já interveio em mais da metade das eleições para reitores(as) em universidades brasileiras. No mesmo mês em que nomeou Albuquerque, que obteve apenas 4,61% do total de votos, também indicou o terceiro nome da lista tríplice da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Antes, já havia escolhido o segundo e terceiro colocados, respectivamente, para as federais do Triângulo Mineiro (UFTM) e do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Na UFFS, que possui campi no Rio Grande do Sul, Paraná e em Santa Catarina, empossou um candidato que sequer chegou ao segundo turno na consulta, realizada no primeiro semestre deste ano. Em setembro, após intensa pressão da comunidade acadêmica, o Conselho Universitário da instituição (Consuni) aprovou pedido de destituição de Marcelo Recktenvald. A proposição oficial foi entregue à Presidência em novembro.

Já na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ), as nomeações envolveram reitores que sequer integravam a lista tríplice das comunidades acadêmicas.

Em 24 de dezembro, o governo publicou a Medida Provisória 914/2019, que propõe regulamentar autorização à Presidência da República para desconsiderar o resultado das listas tríplices oriundas das consultas acadêmicas, além de extinguir a aplicação da paridade nas consultas e definir que Diretores Gerais (de unidades acadêmicas e de campi nos Institutos Federais) sejam autocraticamente nomeados pelas Reitorias. A Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS já manifestou sua oposição a essa MP, repudiada pelo ANDES-SN.