Estudantes da Unipampa e da UFSM estão em greve contra ataques à educação

Estudantes da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) estão em greve contra os cortes no orçamento da Educação Federal e o Programa “Future-se”. Na Unipampa, a paralisação, no campus Jaguarão, começou em 17 de setembro, enquanto em Santa Maria, os alunos efetivaram a medida em 02 de outubro.

Desde a deflagração da greve, os estudantes têm se mobilizado para dialogar com a população sobre a grave situação em que se encontram as universidades. Além de ações externas pautando a luta em defesa da educação e reforçando a universidade como um lugar que deve ser acessado pelo povo, os alunos têm debatido em plenárias abertas, junto aos técnicos e docentes, as demandas do movimento e as deliberações.

 

Unipampa

Uma das reivindicações do movimento grevista é de que o reitor Marco Hansen e os pró-reitores de Planejamento e Infraestrutura e de Assuntos Estudantis e Comunitários compareçam ao campus para dialogar abertamente com a comunidade universitária sobre os impactos dos bloqueios de verbas. A política de sucateamento do governo Bolsonaro representou um corte de 34% do orçamento originalmente previsto para a instituição em 2019.  

Segundo dados da universidade, a restrição orçamentária impôs limites para capacitação de servidores, programas de formação continuada dos docentes, manutenção de laboratórios e compra de insumos necessários para as práticas acadêmicas. Além disso, afetou o pagamento dos contratos de terceirizados, de energia elétrica, telefonia, água e saneamento, entre outros.

De acordo com Guinter Tlaija Leipnitz, 1º secretário da Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN, a greve estudantil tem ocorrido de forma autônoma e chamado a atenção da população sobre os ataques enfrentados pela universidade. “No contexto de ataques à universidade e educação públicas, é fundamental a solidariedade da categoria docente com os estudantes, buscando, sempre que possível, o diálogo com o movimento estudantil e a realização de ações unificadas”, pontuou, lembrando que os impactos dos cortes ganham uma maior dimensão na Unipampa, dada a estrutura interiorizada e multicampi da instituição.

O professor Guinter ressalta que parte dos docentes do campus tem se solidarizado ao movimento, suspendendo atividades. O Conselho do Campus emitiu nota no dia 25 de setembro, apoiando a mobilização estudantil com a suspensão do calendário acadêmico e o direito de terem as aulas repostas no futuro.

 

UFSM

Os acadêmicos da UFSM têm construído, desde o início do mês, diversas ações para dialogar com a comunidade acadêmica e a sociedade sobre a importância da universidade e a necessidade de mobilização contra os cortes de recursos e o Future-se. O reflexo do enxugamento orçamentário na instituição já inclui medidas de racionamento como redução no consumo de energia, fim do transporte intracampus, corte de bolsas e severos comprometimentos à assistência estudantil.

Os docentes aprovaram apoio irrestrito ao movimento, e a Seção Sindical dos Docentes (Sedufsm) encaminhou, conforme deliberado em assembleia, uma nota às coordenações de curso e direções de centro no sentido de sensibilizar a categoria e reforçar a importância da luta empenhada pelos estudantes grevistas.

Para a aluna de Pedagogia Luize Biscuby, membro do Comando Local de Greve, não há outro caminho senão a batalha em defesa da educação. “A gente precisa dar as mãos e reivindicar. Sobretudo, não deixar que os nossos filhos tenham o mesmo futuro que a gente. Não por não quererem, mas por essa ser a única opção deles”, enfatizou.

“Ter acesso à educação é um direito básico do ser humano. É para todo mundo, não para uma camada elitizada apenas. Todo mundo deve ter acesso à educação e ela precisa ser de qualidade”, acrescenta Anderson Prestes, que também cursa Pedagogia e integra o Diretório Acadêmico do Centro de Educação.

Luiz Gustavo Dartora, aluno de Comunicação Social da UFSM e diretor de combate ao Racismo da União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul (UEE – RS), enfatiza a necessidade de ação. “O funcionamento da universidade como um todo está em jogo, mas antes disso acontecer, muitos estudantes terão que largar seus cursos. Esses estudantes são os que vêm de família pobre, que só conseguem ficar o dia todo aqui por causa do RU, que pode vir a fechar. Alunos pobres de todo o país que, se não fosse a Casa do Estudante, não conseguiriam acessar a universidade. O que está em jogo é a permanência de quem é pobre”, lamenta.

A mobilização já teve resultados: a partir da demanda de estudantes e técnicos, realizou-se uma sessão aberta do Conselho Universitário para discutir o Future-se, assim como foi aprovada, no mesmo Conselho, uma nota contra a adesão ao Programa na UFSM.

 

Greve estudantil da UFSC completa um mês

A mobilização estudantil não está restrita ao Rio Grande do Sul. A greve dos alunos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que atinge pelo menos 50 cursos, já dura mais de 30 dias. Nova deliberação está programada para quinta-feira (17), em assembleia, e a Reitoria já organiza revisão do calendário acadêmico – sem penalizar os manifestantes.

As lutas de alunos ganharam peso a partir de maio, com o anúncio do corte de 30% nas verbas de universidades e institutos federais. Houve protestos nos dias 15 e 30 daquele mês, seguidos por ações nos dias 14 de junho, 13 e 30 de agosto, 7 de setembro e a recente greve de 48 horas, nos dias 2 e 3 de outubro, convocada por diversas entidades do setor – entre elas, o ANDES-SN.