A poucos dias do início do semestre 2020/2, a comunidade universitária da UFRGS ainda não conhece os resultados do Ensino Remoto Emergencial (ERE), instituído como meio para dar seguimento às aulas durante a pandemia de Covid-19. Não foram publicados dados sobre matrículas de discentes, desistências, aprovações, ou sobre a polêmica aplicação do registro NI. Não houve nenhum processo de avaliação do ERE envolvendo docentes, discentes e técnicos. Além disso, apesar de a Reitoria ter lançado publicado um questionário sobre o tema, não há previsão para a apresentação das respostas obtidas.
Tiago Martinelli, diretor do ANDES/UFRGS e chefe de Departamento no Instituto de Psicologia, relata reclamações dos docentes relativas a dificuldades técnicas com as plataformas virtuais e com a adaptação dos conteúdos presenciais para o formato remoto, o que vai ao encontro das declarações feitas na Roda de Conversa docente promovida pelo ANDES/UFRGS em novembro.
Sobre o questionário de avaliação – ferramenta prevista na Resolução do CEPE sobre o ERE, publicada em julho de 2020 – o professor conta que foram feitas duas consultas: uma pela Administração Central, iniciada em 22 de dezembro, e outra pelo Grupo de Trabalho Atividades Práticas e de Estágios Profissionalizantes (Estágios obrigatórios e não obrigatórios) e de Docência dos Cursos de Graduação.
O objetivo deste segundo questionário é auxiliar o GT a identificar pontos comuns e subsidiar reuniões com grupos de Comgrads e Departamentos para um planejamento futuro, levantando os problemas e buscando soluções.
“Ou seja, tivemos diferentes instrumentos sendo exigidos ao final do período letivo, no final do ano e no fechamento dos processos de planejamento para o semestre letivo de 2020/2, que ocorrerá em 2021”, ressalta o professor, reforçando que não houve retorno sobre os resultados de nenhum deles. Martinelli considera que algumas das perguntas deveriam ter sido feitas antes do início do ERE – principalmente aquelas sobre as condições de ambiente de trabalho, equipamentos e serviços – para que fosse proporcionado suporte adequado aos docentes. Já as questões sobre “prática pedagógica” durante a experiência do período letivo 2020/1, ele acredita que possam trazer algum elemento para o processo de trabalho no 2020/2, embora os planos de ensino tenham sido elaborados muito antes, no início de dezembro. “No entanto, não vejo perspectivas de melhoras, ainda que a Universidade oferte capacitações para o uso de plataformas durante o ensino remoto emergencial.”
Retorno com pouco apoio
Com o reinício das atividades marcado para a próxima segunda-feira (25), a comunidade ainda aguarda posicionamento da Reitoria. A vice-reitora interventora, Patricia Pranke, enviou, na última quinta-feira (14), o que chamou de “material com orientações sobre Recursos, Ferramentas e Ações de Aperfeiçoamento para Docentes”. O e-mail contém uma apresentação que lista uma agenda de cursos e um plantão de duas horas em sala da plataforma Mconf para sanar dúvidas, sem informações contextualizadas sobre a experiência anterior.
A falta de dados prejudica, por exemplo, saber qual foi o percentual de cancelamentos das disciplinas do ERE. Também não é possível aprimorar os mecanismos para o semestre que se inicia, garantindo mais condições de trabalho e estudo para docentes, técnicos e alunos.
A instituição não sabe nem mesmo qual foi o tipo de modelo adotado nas diferentes áreas, se prevaleceu a interação síncrona ou assíncrona, se e como ocorreu adaptação de disciplinas práticas para o modo remoto, como os docentes lidaram com o impedimento de acesso às bibliotecas, arquivos, laboratórios, campos de estágio e outros espaços fundamentais para o ensino.
Faculdade de Educação realiza levantamento interno
Enquanto os dados não são divulgados pela Administração Central, a Faculdade de Educação (Faced) realizou um estudo próprio, com o objetivo de subsidiar ações no novo período. De acordo com a técnica administrativa e co-coordenadora da Comissão ERE/Faced, Sibila Binotto, os trabalhos começaram em agosto, com o estímulo do Conselho da Faced, o Confaced. “Precisávamos de dados mais científicos para contrapor achismos e entender como o ERE funcionou na prática”, comenta. A Comissão foi formada de maneira paritária, contemplando, inclusive, discentes de pós-graduação e educação no campo, garantindo um panorama completo.
Os resultados parciais (o relatório aguarda os dados da pós-graduação) foram apresentados em meados de dezembro. Para as três categorias, os principais desafios foram o excesso de trabalho e a pouca familiaridade com as mídias, além da falta de um espaço adequado para desenvolver as atividades.
Em relação a professores(as), a grande maioria relatou cansaço pelas longas horas em frente a telas e, para aqueles desacostumados com EaD, a necessidade de aprender a usar várias plataformas, aperfeiçoar as aulas síncronas e propor atividades diferentes, tais como combinação de indicação de filmes/vídeos ou bibliografia com fóruns, aulas em formato Podcast e diário com reflexões sobre as leituras, além de transformar conteúdos aplicados em aulas presenciais para o formato remoto. Também alertaram para a dificuldade dos discentes para acompanhar as atividades, e a falta de suporte para melhorar esses acessos.
Na unidade, 72% dos docentes que participaram da pesquisa informaram terem recebido pedidos de desistência dos estudantes em alguma disciplina. Os problemas de estrutura aparecem como segunda justificativa mais recorrente para o não-acompanhamento das atividades. Os resultados parciais estão disponíveis no site da Faced, e devem ser apresentados em breve durante reunião do CEPE.