Entidades repudiam desmonte e descaso da política de ciência e tecnologia no Brasil

25 de julho de 2019

A diminuição de investimentos em Ciência e Tecnologia, intensificada com o governo de Jair Bolsonaro, foi repudiada em nota divulgada na quarta-feira (24) pela Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) e por diversas entidades de educação e pesquisa. Conforme as entidades, a postura do Executivo vai desmontando silenciosamente as condições de produção e internacionalização no Brasil.

“Historicamente e em todos os países com boa produção científica, a pesquisa com diálogo nacional e internacional se faz com regularidade e planejamento. As inscrições para seleção de bolsas especiais no país e exterior significam protocolos entre universidades, diálogo com supervisores no Brasil e no exterior. Não é possível produção científica quando pesquisadores não podem planejar suas ações e ao inscrever-se em um edital não sabem se ele existirá até o final”, denuncia a nota.

No mesmo dia, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) havia suspendido a divulgação dos selecionados para a segunda fase de um edital de concessão de bolsas de pesquisa científica de pós-graduação no Brasil e no exterior, afirmando estar sem recursos financeiros.

“A gravíssima situação do CNPq tem sido reiteradamente denunciada pelas entidades”, pontua o documento, assinado, também, pelas Associações Brasileira de Currículo (AbdC), Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnbio), Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (Abrapec),  Nacional de História, Nacional de Pesquisadores em Financiamento da Educação (Fineduca), Nacional de Política e Administração Escolar (Anpae), Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof), pelo Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes), Fórum dos Coordenadores Institucionais do Pibid e do Residência Pedagógica (Forpibid- Rp), Fórum Nacional de Diretores de Faculdades, Fórum Nacional dos Coordenadores Institucionais do Parfor/Forparfor, Movimento Nacional Em Defesa do Ensino Médio, pelos Centros de Educação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras (Forumdir), e pelas Sociedades Brasileiras de História da Educação (SBHE) e do Ensino de Química (SBEnQ). Todas lamentam  o “desmonte da política de investimento na ciência e tecnologia,  que tem como objetivo construir um novo país, assentado na ignorância e na submissão de seu povo.”

Ataques ao Inpe geram críticas

Dias antes, a diretoria e o conselho da Sociedade Brasileira de Física (SBF) se manifestaram sobre recente ataque de Jair Bolsonaro ao diretor-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais  (Inpe), Professor Ricardo Galvão, a respeito dos dados de satélite que mostram aumento de 68% no desmatamento da  Amazônia em relação a julho/2018. O presidente da República, em mais um discurso polêmico e leviano, colocou em dúvida não apenas os dados científicos como  também a idoneidade do diretor do Instituto.

Em sua manifestação, o Conselho da SBF esclareceu: “O Inpe tem hoje competência adquirida e reconhecida internacionalmente nas  áreas de atividade de Ciências Espaciais e Atmosféricas, Ciências  Ambientais e Meteorológicas, e Engenharia e Tecnologias Espaciais.  Ricardo Galvão, diretor-presidente desde 2016, é professor livre-docente do Instituto de Física da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências, ex-diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas  Físicas (CBPF), e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF). O professor Galvão é reconhecido tanto no Brasil como no exterior por  sua qualificação acadêmico-científica bem como por sua competência e seriedade como gestor”, esclarece o órgão.

O Conselho do Instituto de Física da UFRGS também criticou a conduta de Bolsonaro, manifestando publicamente seu apoio ao professor Ricardo Galvão e destacando que o docente, com doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, tem sólida reputação como cientista, demonstrada por anos de trabalho em produção de conhecimento e gestão. “Além do respeito devido a cada cidadão brasileiro, o professor Galvão merece o respeito ao conhecimento que ele representa”, frisa nota emitida pelo Conselho.