Entidades repudiam ataques do governo à formação na área de Humanas

29 de abril de 2019

Depois de mais um ataque do governo Bolsonaro à Educação, desta vez anunciando que pretende descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia, diversas entidades relacionadas ao setor se manifestaram publicamente em repúdio. Para o ANDES-SN, que emitiu nota ainda na sexta-feira (26), o presidente pretende reduzir o campo de possibilidades para a formação humana daquelas e daqueles que dependem única e exclusivamente da educação pública e gratuita,  e aplicar o projeto da extrema direita de um ensino cada vez mais restrito, que não permita a compreensão da realidade social.

“O ataque contra a filosofia, a sociologia e outras áreas das ciências humanas é parte da suposta ‘guerra cultural’ alimentada pelo presidente, por gurus obscurantistas e fundamentalistas religiosos, que hoje buscam uma educação domesticadora, tecnicista e anti-intelectual”, denuncia o Sindicato Nacional, lembrando que a fala da Presidência acontece ao mesmo tempo em que o presidente prometeu R$40 milhões para verba de emendas parlamentares para quem votar a favor da Reforma da Previdência, justificando o ataque contra cursos de ciências humanas no ensino superior por um suposto respeito ao contribuinte. “Segundo o presidente, cabe à educação garantir apenas o aprendizado da leitura, da escrita e de fazer contas matemáticas”, lamenta a entidade, reforçando que formar indivíduos autônomos, que se apropriam do patrimônio cultural, artístico e científico historicamente produzido pela humanidade, envolve uma formação humana em que a filosofia, a sociologia e outras ciências estejam presentes. “Não existe emancipação humana sem educação pública de qualidade!”

A Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF), juntamente com mais de 50 entidades nacionais e internacionais, também criticou o anúncio do governo. “As declarações do ministro e do presidente revelam ignorância sobre os estudos na área, sobre sua relevância, seus custos, seu público e ainda sobre a natureza da universidade. Esta ignorância, relevável no público em geral, é inadmissível em pessoas que ocupam por um tempo determinado funções públicas tão importantes para a formação escolar e universitária, para a pesquisa acadêmica em geral e para o futuro de nosso país”, diz o documento, que já está assinado por diversos sindicatos, associações, sociedades e fóruns de educadores e pesquisadores.

“Uma das maiores contribuições dos cursos de humanidades é justamente o combate sistemático a visões tacanhas da realidade, provocando para a reflexão e para a pluralidade de perspectivas, indispensáveis ao desenvolvimento cultural e social e à construção de sociedades mais justas e criativas”, acrescenta a manifestação.

Consun emite moção

O Conselho Universitário da UFRGS, reunido também no dia 26, emitiu moção em defesa do direito do estímulo à produção científica em filosofia, sociologia e demais ciências humanas, enfatizando que permaneçam abrigadas pelas universidades para que se assegure esse patrimônio cultural às gerações futuras. “No contexto em que se questiona a validade e a legitimidade desses conhecimentos, o Consun reafirma que a finalidade estatutária da UFRGS é a produção de conhecimento filosófico, científico, artístico e tecnológico, integrados no ensino, na pesquisa e na extensão”, finaliza o documento.