HOMENAGEM: Além de toda troca e aprendizado durante o Seminário Nacional ‘60 anos do Golpe de 1964’, o último dia foi de emoção e homenagem, ao sempre presente professor e pesquisador, Enrique Serra Padrós, que nos deixou em 2021 precocemente, aos 61 anos, vítima de câncer.
Padrós foi docente do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação (PPG-História) da UFRGS, uruguaio de nascimento, dedicou sua carreira à denúncia de violações de direitos humanos, em especial durante os períodos das ditaduras na América Latina. Sua militância, ética, respeito e trajetória se fazem presente, mantendo sua memória viva a partir do compromisso com a verdade, o que sempre permeou sua trajetória pessoal e profissional.
O professor ministrava as disciplinas das áreas de Ensino de História e de História Contemporânea, além de orientar estudantes de mestrado e doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em História. Foi coordenador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do RS entre 2011 e 2012 e integrou o Conselho Científico da Rede de Estudo dos Fascismos, Autoritarismos, Totalitarismos e Transições. Sua tese de doutorado “Como el Uruguay no hay… Terror de Estado e Segurança Nacional – Uruguai (1968-1985): do Pachecato à Ditadura Civil-Militar” é considerada uma referência sobre o tema das ditaduras recentes na América Latina e sobre o conceito de terrorismo de Estado.
Sereno até os últimos segundos, ao perceber que chegava no fim desta jornada, Padrós deixou uma mensagem, reafirmando os seus valores – e sabendo ou não – o legado que deixaria como defensor dos direitos humanos: “E diante de um momento tão único da minha existência — e até porque é tempo de luta — reafirmo as minhas convicções: tenho orgulho de ser funcionário público, de ter sido aluno e ser docente da UFRGS, de pesquisar e denunciar os crimes de lesa humanidade do Terrorismo de Estado e, sobretudo e principalmente, de ser um historiador marxista e um educador freiriano”.
Durante o seminário realizado pelo ANDES-SN, entre os dias 21, 22 e 23 de novembro deste ano, Claudia Bruno, professora da rede municipal de Porto Alegre e companheira de Padrós até o fim da vida, agradeceu a homenagem e todas as manifestações de carinho, lembrando que ela e Enrique se conheceram durante uma greve, e que “também nos movimentos de luta é possível conhecer os afetos e os estabelecer por um longo período da vida”, disse.
A homenagem durante o seminário contou com a exibição do clipe da música “Por que cantamos”, com a poesia do escritor Mario Benedetti, interpretada por Daniel Viglietti, além de trechos do “Seminário Nacional da Comissão da Verdade”, realizado em 2015, no mesmo auditório deste ano, onde Padrós contribuiu para a caracterização do golpe como empresarial-militar.