Em nova arbitrariedade, Bulhões rebaixa  Relinter a órgão da Pró-Reitoria de Inovação 

Em mais uma atitude autoritária, o reitor interventor da UFRGS, Carlos Bulhões, extinguiu a Secretaria de Relações Internacionais da Universidade (Relinter). A intenção da Administração Central é vincular o órgão à irregular Pró-Reitoria de Inovação e Relações Institucionais, criada sem o aval do Conselho Universitário (Consun), em setembro de 2020.

Em ofício encaminhado no dia 30 de junho à Superintendência de Gestão de Pessoas (SUGESP), Bulhões também solicita a extinção da vice-Secretaria de Relações Internacionais, e que o Departamento de Mobilidade Acadêmica, da Secretaria de Relações Internacionais, seja transformado em Coordenação de Mobilidade Acadêmica – em substituição à Coordenação de Mobilidade Internacional com a América Latina, com retribuição de nível FG1.

A exoneração do professor Edison Pignaton de Freitas do cargo de Secretário de Relações Internacionais foi publicada em 7 de julho, sob alegação de que o docente não havia comparecido a uma reunião, ausência que já era prevista em função do cronograma de vacinação contra a Covid-19 do docente. “Parece pouco razoável que ela [exoneração] seja baseada na justificativa de eu ter faltado a uma reunião, conforme exposto no Ofício 43/2021/PROIR, reunião essa marcada no mesmo dia, poucas horas antes, principalmente sendo essa falta plenamente justificada em função da demora na fila de vacinação, e ainda informada a quem realizou o agendamento”, pontua o professor.

Pignaton também denuncia uma série de medidas de desvalorização praticadas desde a posse da Reitoria interventora, como o enfraquecimento da participação da UFRGS em fóruns internacionais e a retirada da Secretaria de espaços de decisão. “O secretário foi excluído da comissão que gerencia o programa PRINT da universidade, além da redução da Relinter ao escopo da graduação apenas, anulando por completo sua atuação em temas relativos à pós-graduação”, especifica.

Desmonte

A equipe de técnicos administrativos da Relinter elaborou um relatório do desmonte que vem ocorrendo no setor desde setembro de 2020, quando foi realizada a reforma administrativa na estrutura da UFRGS – a qual o Consun já determinou, em 12 de março, que fosse desfeita, o que aconteceu parcialmente com a separação das Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação.

“Em 22 de setembro de 2020, a equipe recebeu notificação por Whatsapp informando que deveria desocupar imediatamente as duas salas que ocupava no sexto andar da Reitoria. Uma das salas, utilizada como apoio da Relinter, teria sido cedida ao Setor de Convênios. A sala principal seria ocupada pela recém-criada Pró-Reitoria de Inovação e Relações Institucionais (Proir), já tendo sido agendada pela Proir a mudança e o serviço dos carregadores (…)”, informam os servidores.

A desocupação não foi tratada através de atos administrativos oficiais e, mesmo com processos no SEI solicitando reuniões e atribuição de novo local, a questão do espaço físico nunca foi resolvida.

“A Proir apenas ordenou que a sala fosse desocupada e não providenciou um local para a reinstalação dos móveis, computadores, material de expediente, arquivos e documentos, assim como não deu tempo para providenciarmos caixas para a mudança, que acabaram sendo trazidas de casa por outra servidora. Enquanto um servidor da Relinter encaixotava o material, um assessor e o Pró-reitor da Proir pressionavam a todo momento, solicitando agilidade na desocupação”, acrescentam os técnicos.

A equipe organizou um abaixo-assinado virtual para tentar reverter a mudança, que já conta com mais de 2,7 mil signatários. Para assinar, clique aqui.

Arbitrariedades

O relatório de desmonte destaca que, até setembro de 2020, era explícita no organograma da UFRGS a vinculação do órgão ao Gabinete do Reitor, inclusive para fins orçamentários, assim como o papel de cada um na gestão de órgãos internacionais sediados na Universidade – como o Instituto Confúcio, “cuja instalação na UFRGS demandou uma longa articulação política e diplomática da Relinter”.

“Após a posse da nova gestão, o Instituto Confúcio misteriosamente apareceu no site da Proir como parte desta Pró-Reitoria sem qualquer aviso prévio à Relinter e, muito mais grave, sem nenhum tipo de comunicado ao Instituto Confúcio e à instituição chinesa que o gere e financia (Instituto Hanban). Ou seja, em total desrespeito ao convênio de cooperação previamente assinado, um contrato que requer comunicação à outra parte para qualquer alteração”, repudiam os técnicos.

Além disso, o fim das duas estruturas só foi informado à equipe através do Diário Oficial, sem qualquer comunicado prévio aos exonerados, “nem questionamento a respeito das atividades que desenvolvemos e continuamos a desenvolver durante o período de trabalho remoto, nem preocupação com a interrupção dessas atividades, tampouco nenhum tipo de orientação para comunicação aos parceiros internacionais a respeito da suspensão de todas as atividades que estão em andamento”.

Prejuízos

A professora Liane Hentschke, que foi secretária de Relações Internacionais da UFRGS até 2013, enviou carta ao reitor interventor criticando a arbitrariedade. “O desmonte da Relinter, subjugando-a a uma posição de sub-setor, trará grandes prejuízos à cooperação internacional, tornando a UFRGS uma universidade paroquial e sem expressão no âmbito internacional. Uma universidade no século 21 deve ser um espaço multicultural, diverso e multilingue para preparar profissionais para um mundo globalizado”, lamentou a docente.

“A Relinter, através de seus técnicos-administrativos, possui um estoque de conhecimento construído ao longo dos anos. Vale ressaltar que, dentre as Universidades Federais, a UFRGS através de seus Reitores coordenou o Setor de Relações Internacionais na Andifes por três mandatos consecutivos”, acrescenta a ex-secretária, que explicitou ainda mais perplexidade pelo fato de Bulhões ter participado de projetos junto à Secretaria em sua gestão, “testemunhando assim a importância do setor para uma universidade internacionalizada”.