Depois de muitos entraves e disputas políticas, finalmente a Ciência venceu e o Brasil começou a vacinação contra a Covid-19 em um cenário de mais de 209 mil mortes pela doença e de um governo federal que segue menosprezando a gravidade da pandemia. Graças à dedicação e ao trabalho de pesquisadores, servidores e instituições públicas, as fórmulas produzidas por Instituto Butantan (CoronaVac/Sinovac) e Fiocruz (Universidade de Oxford/AstraZeneca) já receberam autorização de uso.
Mais de 40 milhões de doses já foram aplicadas em todo o mundo. No Brasil, somam-se 155 pessoas vacinadas desde domingo (17), data em que a Anvisa autorizou o uso emergencial.
Dias depois de o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter ironizado a crise sanitária, afirmando que a vacina começaria no “Dia D e na Hora H”, finalmente a Pasta anunciou a distribuição do primeiro lote, com cerca de 6 milhões de doses, nesta segunda-feira (18). Ao Rio Grande do Sul, foram destinadas 311.680 unidades ao grupo prioritário, e outras 30.120 à população indígena, num total de 341.800 doses.
O uso emergencial não permite que essas vacinas sejam comercializadas, mas apenas distribuídas na rede pública de saúde. Portanto, os critérios de aplicação estão restritos ao calendário federal, que, num primeiro momento, vai priorizar trabalhadores da saúde, idosos a partir dos 75 anos e pessoas com 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência (como asilos e instituições psiquiátricas).
Profissionais da educação, que chegaram a ser incluídos nos grupos prioritários, foram retirados do plano atualizado, segundo o qual não deverão receber a vacina menores de 18 anos, gestantes e pessoas que apresentaram reação anafilática confirmada a qualquer componente das fórmulas autorizadas. Veja aqui o seu lugar na fila da vacina.
Negra, mulher, chefe de família e trabalhadora é a primeira a ser imunizada
Mulher, negra e trabalhadora, Mônica Calazans, moradora do estado de São Paulo, foi a primeira pessoa a ser imunizada no Brasil. Ela trabalha na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e está na linha de frente de combate ao novo coronavírus.
Voluntária da terceira fase dos testes clínicos da CoronaVac, tinha recebido placebo. “Fui muito criticada. Eu recebia piadinhas, memes, mas não dei sequer importância. Me falaram que eu era cobaia de uma pesquisa de vacina”, declarou a enfermeira, que é viúva, mora com o filho e também cuida da mãe, em reportagem do G1.
“Quantas pessoas têm receio de chegar próximas às outras? Eu tomo ônibus, metrô, as pessoas têm receio de chegar perto de você. Então, povo brasileiro, é nossa grande chance. Estou falando agora como brasileira, mulher negra, que [você] acredite na vacina. Vamos pensar nas vidas que perdemos”, acrescentou.
O Brasil precisa respirar
Em meio ao descaso do governo Bolsonaro com a crise do novo coronavírus, o Amazonas protagoniza cenas aterrorizantes de colapso sanitário. Sem oxigênio desde a última quinta-feira (14), o estado ultrapassou os 6 mil óbitos – número que deve ser bem maior, dada a lentidão em atualizar os dados nos sistemas oficiais.
Ofício encaminhado pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) aponta que governo federal sabia do problema dez dias antes de a crise estourar, mas nada foi feito. O documento diz ainda que, no dia 8 de janeiro, o Ministério da Saúde foi informado sobre a iminente escassez de oxigênio para os hospitais de Manaus, que só começaram a receber ajuda após mobilização de artistas brasileiros para envio de cilindros. Há dois dias, o número de enterros na capital amazonense é superior a 200, maior que o registrado no primeiro pico da doença, entre abril e maio do ano passado.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu uma apuração preliminar para analisar a conduta do Executivo junto ao estado, e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Amazonas também iniciou investigação sobre o caso.
Enquanto a maior parte da população sofre e morre nos corredores hospitalares lotados e sem ar, os mais ricos de Manaus estão pagando até R$ 170 mil em UTIs aéreas privadas para se tratarem em cidades como Brasília, São Paulo, Goiânia e Cuiabá. Na rede pública, como não há UTI aérea; somente pacientes que estejam fora de UTIs poderão ser transferidos.
“É importante ressaltar que todo o sofrimento que o povo amazonense vem vivenciando, sobretudo as famílias de menor poder aquisitivo e as populações indígenas e ribeirinhas, com um alto índice de contaminações, internações e mortes, chegando ao cúmulo do esgotamento do estoque de oxigênio nos hospitais do estado (insumo vital para o tratamento contra a doença), têm responsáveis diretos: a necropolítica negacionista, desarticulada, incompetente e criminosa do Governo Federal, chefiada pelo atual presidente da República, o genocida Jair Messias Bolsonaro. O pior mandatário da história do Brasil, na pior crise sanitária dos últimos 100 anos”, lamenta o ANDES-SN em nota.