O sufocamento das universidades públicas, agravado pelo governo Bolsonaro, rondou os debates da audiência pública promovida na sexta-feira (19) pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa gaúcha. O ANDES/UFRGS esteve presente e reforçou o repúdio à política de intervenção do Executivo e a importância do respeito à autonomia universitária.
Realizado a pedido do Coletivo Professores pela Democracia, o encontro foi convocado pelos parlamentares Sofia Cavedon (PT), Luciana Genro (PSOL) e Fernando Marroni (PT) para tratar das reformas administrativas implementadas arbitrariamente pelo Reitor interventor, Carlos Bulhões, mostrando que a sociedade gaúcha já manifesta preocupação com o projeto político de encolhimento do ensino público.
Gestão democrática não é favor
Bulhões, nomeado reitor em setembro de 2020 mesmo sendo o menos votado nas eleições internas, teve sua destituição aprovada em agosto pelo Conselho Universitário (Consun), depois de uma sequência de condutas autoritárias e em desacordo com o estatuto da UFRGS.
“A Reitoria, quem quer que esteja ocupando, tem que obedecer ao Conselho Universitário”, enfatizou o professor Dilermando Cattaneo da Silveira, que, representando a Seção Sindical na audiência, destacou o poder máximo de deliberação e normatização do Consun. “A gestão democrática não é um favor que se concede, e sim uma obrigação que temos que fazer cumprir”, reiterou.
O professor também criticou as mudanças estruturais da Administração Central e o descumprimento, pela Reitoria, do prazo para justificá-las, visto que foram responsáveis por “profundas implicações” no cotidiano, causando “um vácuo de gestão” dentro da universidade. “Talvez quem esteja fora não perceba, mas nós, que estamos no dia a dia, percebemos de forma muito nítida o quanto essas modificações impactaram”.
Assufrgs, Diretório Central de Estudantes, Associação de Pós-Graduandos, Coletivo Professores pela Democracia também se manifestaram denunciando os desmandos da reitoria interventora.
Educação não é mercadoria
A professora Elisabete Búrigo, diretora da Seção Sindical, apontou as motivações privatistas das intervenções federais e cortes de verbas das universidades. e demais afrontas à democracia em ambientes acadêmicos.
“O Brasil é sede das maiores empresas de ensino privado superior do mundo. Essas empresas estiveram no topo da bolsa por serem extremamente lucrativas, oferecendo um ensino de péssima qualidade a custos baixíssimos e com uma educação à distância muito precarizada. Então, colocar as universidades federais na situação em que estamos hoje é nos pressionar para oferecer o mesmo tipo de ensino precário e, com isso, deixarmos de ser uma referência e um obstáculo ao crescimento ilimitado desse ensino empresarial”, analisou a docente.
“O grande projeto é encolher a qualidade da universidade, porque a universidade pública é um grande elemento de resistência ao autoritarismo, de defesa do debate de ideias, da produção livre de conhecimento e da pluralidade”, acrescentou.
Acesse aqui a fala completa do professor Dilermando Cattaneo da Silveira
Acesse aqui a fala completa da professora Elisabete Búrigo
Acompanhe aqui a íntegra da audiência pública