Docentes questionam adesão a plataformas Google e Microsoft para atividades remotas 

O Comitê de Governança Digital da UFRGS enviou, nesta terça-feira (23), mensagem aos docentes da Universidade informando sobre o processo de adesão institucional às plataformas de webconferência Microsoft Teams (Microsoft Office 365) e Google Meet (G-Suite Education). A adesão a essas plataformas de grandes corporações, que vem sendo encaminhada em universidades públicas, tem sido questionada por entidades docentes e pesquisadores da área de Tecnologias da Informação e da Comunicação.

Na contramão do software livre

Em debate promovido pelo ANDES-SN nesta terça-feira (23), o professor Marcio Moretto (USP) observou que a adesão às tecnologias de nuvem vai na contramão dos esforços que vêm sendo realizados para o desenvolvimento de softwares livres desde o início dos anos 2000. As universidades perdem a oportunidade de desenvolver autonomia perante as grandes corporações e um corpo técnico capaz de desenvolver esses recursos; além disso, as instituições abrem mão da soberania dos dados.

“É uma grande oportunidade de negócio para as grandes empresas”, alerta o professor Nelson Pretto, da Faculdade de Educação da UFBA, acrescentando que a tendência de instituições de ensino superior aderirem a esse tipo de plataforma é preocupante. O professor aponta um retrocesso em relação aos esforços realizados pelo movimento de software livre que buscou não só soluções tecnológicas desenvolvidas de forma coletiva e cooperativa mas também ter os servidores alocados no Brasil e não em outros países, com outros marcos legais.

“Plataformas capitalistas chupa-dados” ou “big five” – Google, Amazone, Facebook, Apple e Microsoft – conseguiram ao longo do tempo adentrar várias universidades e secretarias de educação”, lamenta Nelson Pretto. “Agora essas plataformas e os grandes grupos empresariais no campo da educação encontram na pandemia um terreno fértil para sua expansão”. Frente aos cortes de verbas, ao invés de trabalharem em uma perspectiva federada, as universidades começam a se desresponsabilizar pelo setor de TI, e passam a terceirizar essa solução. “As soluções performáticas construídas por essas plataformas envolvem riscos de grandes interferências das corporações na vida do país, como aconteceu nas eleições dos Estados Unidos e no Brasil.”

ANDES/UFRGS questiona submissão à iniciativa privada

Na visão do ANDES/UFRGS, a implementação das plataformas Microsoft Teams e o Google Meet traz diversos riscos à autonomia científica, além de desconsiderar estruturas gratuitas de código aberto já consolidadas na Universidade, como o Moodle e o Mconf, usados para EAD, videoconferências, e suporte virtual para atividades presenciais. As plataformas das grandes corporações internacionais não contemplam a lógica Open Source, que disponibilizam os mesmos serviços através de softwares livres, e contribuem para a subordinação da educação pública à iniciativa privada.

“Existe uma preocupação a respeito da disponibilização de informações de pesquisa e ensino para essas empresas, assim como de uma invasão ampliada da lógica de mercado para a universidade”, analisa o professor Guilherme Dornelas Camara, diretor da Seção Sindical, em entrevista ao Voz Docente desta semana.

Conforme o professor, a perda do livre pensamento e a entrega do conhecimento produzido para uma corporação privada, que não está comprometida com a garantia da Educação como direito constitucional, mas com acumulação de riqueza para o capital, é outro ponto a ser analisado, assim como a eventual possibilidade de controle ideológico por parte dessas plataformas.

“Ainda que essas corporações não tenham cobrado pela oferta dos serviços, auferem os lucros a partir dos dados de usuários que acessam a plataforma. Milhares de pessoas acessando via UFRGS chancelam o produto frente ao mercado, em uma relação que valoriza o capital a partir da universidade pública”, avalia. O Moodle e o MConf oferecem código aberto, são utilizadas por centenas de universidades no Brasil e no mundo, de modo personalizado e autônomo. Com a adesão às plataformas privadas, a UFRGS vai na contramão da democratização do acesso à informação e à tecnologia, oferecendo a essas empresas fatia significativa de mercado no contexto da pandemia.

Por que é um problema a universidade pública aderir ao Google Education e similares? 

 

A Sesunila, Seção Sindical do ANDES-SN na Unila, de Foz do Iguaçu, lançou uma campanha virtual contra o uso de programas internacionais para atividades remotas acadêmicas. “A adesão a serviços privados corporativos representa uma adesão dissimulada ao Programa Future-se”, alerta o material, reforçando a defesa do fortalecimento da tecnologia pública de informação e comunicação. Veja aqui a campanha.