Desligamentos de trabalhadores por morte aumentam 89%  em 2021

Os desligamentos por morte de trabalhadores com carteira assinada cresceram 89% no Brasil na comparação entre os quatro primeiros meses de 2021 e igual período do ano anterior. O levantamento foi feito pelo Dieese, que somou mais de 33.125 mil situações do tipo entre janeiro e abril deste ano.

A Educação está entre os setores de maior elevação, chegando a 1.479 contratos encerrados por morte de docentes, faxineiros, porteiros, entre outros vinculados a instituições de ensino. O número é 128% superior ao do mesmo período do ano passado (650) e sobe para 163% se forem contabilizados apenas professores e professoras.

Curva pandêmica

Os dados foram extraídos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Apesar de não apontarem as causas de morte, mostram comportamento semelhante aos observados em gráficos da Covid-19.

Entre enfermeiros e médicos, por exemplo, a ampliação dos desligamentos por óbito chegou a 116% e 204% no primeiro trimestre, respectivamente.

“É possível fazer uma associação, inclusive porque existiu um número grande de mortes em setores que permaneceram abertos, tidos como prioritários, como a educação”, esclarece Rosângela Vieira, economista técnica do Dieese.

“Quando a gente observa o caso do Amazonas, onde começou a segunda onda, temos também a mesma proporção, porque lá o número de desligamentos por mortes de trabalhadores se deu de forma mais acentuada entre janeiro e fevereiro de 2021”, acrescenta. No estado nortista, um dos que mais colapsaram na pandemia, o crescimento relativo do número de desligamentos por morte (437,7%) foi três vezes maior do que o registrado no Brasil (71,6%).

Falta de políticas sanitárias

“A maior quantidade de desligamentos por morte aconteceu em setores considerados como atividade essencial. Esse conjunto de atividades inclusive foi crescendo com os decretos do próprio governo. É um demonstrativo do quanto a pandemia se abateu sobre os trabalhadores”, analisa o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, em entrevista à Rede Brasil Atual.

O diretor técnico destaca que, se considerassem também os óbitos dos trabalhadores informais, esses números seriam ainda maiores, o que se pode atribuir à falta de políticas públicas de combate à pandemia – especialmente por parte do governo federal que, além de dificultar a vacinação e o isolamento, suspendeu o auxílio emergencial no início deste ano.

Em números absolutos, São Paulo lidera o número de contratos encerrados devido à morte de trabalhadores da educação. Foram 7.864 casos no primeiro trimestre, que representam aumento de 153% na comparação com os mesmos meses de 2020. No Rio Grande do Sul, a alta foi de 99,8%, totalizando 1.666 casos.

Os dados estarrecedores indicam os riscos da volta ao trabalho presencial sem que haja a vacinação prévia de todas e todos.