CSP- Conlutas e ANDES-SN repudiam carreatas em defesa da ditadura

 

O ANDES-SN e a CSP- Conlutas repudiaram as carreatas e manifestações ocorridas neste domingo (19) que exigiam o fim do isolamento social e defendiam explicitamente a volta da ditadura militar. Atos aconteceram em diversas cidades do país. Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro esteve presente, discursando sem qualquer medida de proteção à propagação do Coronavírus em frente ao Forte Apache, o quartel-general do Exército em Brasília. Essa foi a maior aglomeração provocada por ele desde o início da adoção de medidas contra a pandemia no Brasil.

Em Porto Alegre, pelo menos quatro pessoas foram agredidas por bolsonaristas vestidos de verde e amarelo. O ANDES/UFRGS repudia os atos pró-intervencão militar ocorridos neste domingo em Porto Alegre, e as agressões contra militantes anti-fascistas, transeuntes e profissionais da imprensa que registravam o ato.

“Em um momento de pandemia pela Covid-19, onde as mortes já atingem 2.462 pessoas no Brasil, contrariando as orientações das autoridades sanitárias no país e a OMS (Organização Mundial da Saúde), Bolsonaro promove aglomerações e participa de uma manifestação golpista em Brasília, que defendia o fechamento do Congresso e do STF (Superior Tribunal Federal) para impor uma ditadura e atacar as liberdades democráticas. Tais atos são absolutamente inadmissíveis”, pondera a CSP-Conlutas em nota pública.

“Prisões, torturas, assassinato, censura, repressão à liberdade de organização e manifestação são as tristes lembranças da ditadura militar no Brasil que ninguém quer de volta”, destaca a organização, que se soma às centenas de entidades democráticas, personalidades e partidos políticos que manifestaram seu repúdio aos atos.

“Frente à crise sanitária pela qual passa o país, o governo Bolsonaro tem, dia após dia, se mostrado um obstáculo para a defesa da vida do nosso povo. Com mais de 38.654 contaminados, 2.462 mortos, números estes subnotificados, Bolsonaro atua no sentido de ampliar a propagação do vírus, não garante a subsistência nem o emprego dos trabalhadores formais e informais, desempregados e dos mais pobres”, finaliza a Central, destacando que “Bolsonaro não pode continuar na presidência do país”.

“O governo Bolsonaro busca construir uma narrativa para impor sua agenda autoritária, reacionária e inimiga da classe trabalhadora. Um governo a serviço das armas e dos bancos! O Brasil, dessa forma, passa por um dos momentos de maior instabilidade política na sua história, o que exige dos partidos políticos, movimentos sociais, entidades civis, sindicatos e centrais sindicais uma resposta dura contra mais um ataque proferido por um presidente que deveria, ainda mais nesse momento, pautar uma agenda de combate à pandemia e em defesa da vida da população trabalhadora”, acrescenta o ANDES-SN, que conclama o campo democrático a construir uma unidade de ação necessária em defesa da vida humana, das liberdades democráticas e para dar um Basta a Bolsonaro/Mourão.

Poderes criticam conduta presidencial

Houve forte reação de representantes dos demais poderes à atitude do presidente da República. “É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever. Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons (Martin Luther King). Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso”, declarou o novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso, citado pelo Correio Braziliense.

Outros integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) também se manifestaram, como os ministros Marco Aurélio e Gilmar Mendes. Sem citar Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que também foi alvo dos protestos de domingo, escreveu nas redes sociais: “O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição. Para vencer esta guerra contra o coronavírus precisamos de ordem, disciplina democrática e solidariedade com o próximo. Defender a ditadura é estimular a desordem. É flertar com o caos. Pois é o estado democrático de direito que dá ao Brasil um ordenamento jurídico capaz de fazer o país avançar com transparência e justiça social”.

Governadores também criticam Bolsonaro

Governadores de 20 estados, incluindo Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, também criticaram a conduta de Bolsonaro em carta aberta. “Consideramos fundamental superar nossas eventuais diferenças através do esforço do diálogo democrático e desprovido de vaidades. A saúde e a vida do povo brasileiro devem estar muito acima dos interesses políticos”. Apenas sete líderes estaduais não assinaram a carta: Romeu Zema (Minas Gerais), Gladson Cameli (Acre), Wilson Lima (Amazonas), Ibaneis Rocha (Distrito Federal), Ratinho Júnior (Paraná), Marcos Rocha (Rondônia) e Antonio Denarius (Roraima).

Veja a íntegra do documento:

FÓRUM NACIONAL DE GOVERNADORES

CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA EM DEFESA DA DEMOCRACIA

“O Fórum Nacional de Governadores manifesta apoio ao Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e ao Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, diante das declarações do Presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a postura dos dois líderes do parlamento brasileiro, afrontando princípios democráticos que fundamentam nossa nação.

Nesse momento em que o mundo vive uma das suas maiores crises, temos testemunhado o empenho com que os presidentes do Senado e da Câmara têm se conduzido, dedicando especial atenção às necessidades dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios brasileiros. Ambos demonstram estar cientes de que é nessas instâncias que se dá a mais dura luta contra nosso inimigo comum, o coronavírus, e onde, portanto, precisam ser concentrados os maiores esforços de socorro federativo.

Nossa ação nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios tem sido pautada pelos indicativos da ciência, por orientações de profissionais da saúde e pela experiência de países que já enfrentaram etapas mais duras da pandemia, buscando, neste caso, evitar escolhas malsucedidas e seguir as exitosas.

Não julgamos haver conflitos inconciliáveis entre a salvaguarda da saúde da população e a proteção da economia nacional, ainda que os momentos para agir mais diretamente em defesa de uma e de outra possam ser distintos.

Consideramos fundamental superar nossas eventuais diferenças através do esforço do diálogo democrático e desprovido de vaidades.

A saúde e a vida do povo brasileiro devem estar muito acima de interesses políticos, em especial nesse momento de crise.”

Assinam a carta:

RENAN FILHO – Governador do Estado de Alagoas

WALDEZ GÓES – Governador do Estado do Amapá

RUI COSTA – Governador do Estado da Bahia

CAMILO SANTANA – Governador do Estado do Ceará

RENATO CASAGRANDE – Governador do Estado do Espírito Santo

RONALDO CAIADO – Governador do Estado de Goiás

FLÁVIO DINO – Governador do Estado do Maranhão

MAURO MENDES – Governador do Estado de Mato Grosso

REINALDO AZAMBUJA – Governador do Estado de Mato Grosso do Sul

HELDER BARBALHO – Governador do Estado do Pará

JOÃO AZEVÊDO – Governador do Estado da Paraíba

PAULO CÂMARA – Governador do Estado de Pernambuco

WELLINGTON DIAS – Governador do Estado do Piauí

WILSON WITZEL – Governador do Estado do Rio de Janeiro

FÁTIMA BEZERRA – Governadora do Estado do Rio Grande do Norte

EDUARDO LEITE – Governador do Estado do Rio Grande do Sul

CARLOS MOISÉS – Governador do Estado de Santa Catarina

JOÃO DORIA – Governador do Estado de São Paulo