COVID-19: enquanto resto do mundo inicia vacinação, Brasil segue sem previsões

 

Dezembro marcou o início da vacinação contra Covid-19 em cerca de 50 países em todo mundo. No Brasil, o início das imunizações segue sem qualquer previsão. Embora o governo divulgue o começo ainda no primeiro trimestre de 2021, vacinas não foram negociadas, e tampouco compradas seringas e agulhas.

De acordo com a Our World in Data, publicação especializada em pesquisas baseada na Universidade de Oxford, mais de 13 milhões de pessoas já foram imunizadas mundialmente até esta segunda-feira (4), o que não fica distante da população do estado do Rio Grande do Sul (pouco mais de 11 milhões de pessoas, segundo o IBGE). Com 10 vacinas aprovadas para uso e 6 com eficácia comprovada, a busca por doses não para de crescer.

O primeiro país ocidental a iniciar a vacinação foi o Reino Unido, em 8 de dezembro, e já imunizou cerca de 800 mil pessoas. Enquanto países como China – onde a vacinação se iniciou em meados de 2020 – e Estados Unidos têm os maiores números absolutos entre a população imunizada (ambos já vacinaram cerca de 4,5 milhões de seus habitantes), Israel desponta como o país que têm a maior taxa relativa: mais de 12% da população já recebeu uma dose.

Em 27 de dezembro, uma ação conjunta da União Europeia deu início a uma campanha unificada de vacinação na região. Já França e Holanda optaram por esperar: a primeira começou em 3 de janeiro e a segunda deve iniciar a imunização no dia 8 do mesmo mês. Na América Latina, México, Argentina, Chile e Costa Rica também estão vacinando suas populações. Na África, continente mais pobre do mundo, há pouca informação sobre o tema. Segundo apurou o site Poder 360°, Egito pretende começar a imunização em janeiro, enquanto África do Sul deve anunciar o programa de vacinação nas próximas semanas e Marrocos comprou 65 milhões de doses. Até agora, nenhum caso de transformação em jacarés foi registrado, como informa o Jacaré Tracker. Confira no infográfico como está a vacinação pelo mundo:

 

Brasil: incompetência e privatização

Enquanto, no resto do mundo, a vacinação torna-se uma realidade, no Brasil o que se vê é um “salve-se quem puder”. Com um Plano Nacional descreditado pelos próprios pesquisadores que ajudaram a construí-lo, sem compra de doses ou mesmo de seringas e agulhas, o presidente sabota a necessidade do uso das vacinas a cada declaração. Não há perspectiva animadora no horizonte.

Até dezembro de 2020, quase 200 mil pessoas morreram em função de complicações da Covid-19, de acordo com dados oficiais. Por enquanto, os maiores problemas estão ligados a falta de contratos com as fornecedoras de vacinas e às exigências da Anvisa para regular o uso das mesmas em território nacional. A transformação do tema em uma guerra ideológica por parte do governo, as declarações negacionistas do presidente em suas aparições públicas e a falta de um plano de imunização factível também pesam na balança.

A epidemiologista e reitora eleita da UFES, professora Ethel Maciel, é uma das profissionais que participaram da formulação do Plano de Vacinação. Ela comenta, em entrevista ao podcast No Olho do Furacão, que o documento apresentado sequer deveria ser chamado de plano. “A proposta do governo era que o plano coubesse dentro da quantidade de doses da AstraZeneca, e isso causou muito mal estar no grupo de pesquisadores”, conta, ressaltando que, nos esboços apresentados, o Ministério da Saúde não considerou a CoronaVac (produzida pelo Instituto Butantan) como possibilidade.

Com base na verdadeira bagunça instaurada pelo governo, representantes de clínicas privadas de vacinação organizaram uma viagem à Índia para adquirir doses do imunizante produzido lá. Atualmente, ele se encontra na fase 3 de pesquisas e depende de autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para ser utilizada no Brasil. Com isso, pessoas que não tiverem meios financeiros ficarão sem vacina, aguardando pelo governo federal. A livre iniciativa dos entes privados, somadas à incompetência do governo federal na gerência do assunto, aprofunda na saúde a desigualdade socioeconômica dos brasileiros – o que pode culminar com um verdadeiro genocídio da população empobrecida.

Nesta segunda-feira (4), a Anvisa aprovou pedido da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para a importação de 2 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, com o laboratório sueco AstraZeneca. A aprovação foi dada em caráter excepcional, porque o imunizante ainda não tem autorização de uso emergencial ou registro sanitário definitivo. A estratégia, segundo comunicado divulgado pela fundação, é contribuir com o início da vacinação ainda em janeiro, com doses importadas.