Para marcar os avanços nas políticas afirmativas para diminuir a desigualdade racial no ensino superior público e também o Dia da Consciência Negra, várias atividades foram realizadas nesta quarta-feira (20) nos diversos campi da UFRGS. Promovidas pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos (NEAB) em conjunto com diversas unidades acadêmicas e administrativas, grupos de estudo e coletivos da universidade dentro da programação do Novembro Negro, as ações seguem até o final do mês.
Entre as atividades, ocorreu a já tradicional foto coletiva, que reuniu pelo terceiro ano estudantes, docentes, técnicos-administrativos e trabalhadores terceirizados negros em frente à Reitoria. Se, na primeira edição, 50 pessoas participaram do registro, desta vez o número foi bem maior: 400 participantes estiveram presentes. “Certamente, este aumento se deve à continuidade das ações afirmativas dentro da Universidade. Antes delas, não seria possível”, afirma o docente do departamento de História Marcus Vinicius de Freitas Rosa. Para ele, as políticas como as cotas – que garantem o ingresso tanto de estudantes quanto de docentes negros nas universidades públicas – auxiliam a desconstruir a desigualdade racial que existe na sociedade brasileira: “Os jovens negros seguem sendo os que mais morrem, e os trabalhadores negros também são os que ganham menos”.
Dados e mudança de cultura
Segundo relatório divulgado em 2018 pela Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas da UFRGS (CAF), 19.264 mil estudantes ingressaram no ensino superior pela política de cotas entre 2008 e setembro de 2018. Desses, 3.849 ingressaram na modalidade reservada para autodeclarados pretos, pardos ou indígenas egressos de escola pública, e 2.096 entraram pela modalidade voltada para autodeclarados pretos, pardos ou indígenas com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo.
A pesquisadora Priscila Goulart dos Santos apurou que, antes de 2007, havia 1% de estudantes negros na UFRGS; hoje, cerca de 13% dos estudantes são negros. Autora da dissertação de Mestrado “Ecoa o grito da resistência que derrubou barreiras e tomou o que é nosso: dez anos de ações afirmativas na UFRGS”, ela mesma entrou na universidade pela política de cotas.
Em entrevista ao portal Sul21, Priscila comenta que, apesar do avanço, ainda há pontos que precisam ser repensados. “Há questões subjetivas dentro da política, no momento que é pressuposto que todas as pessoas são iguais, uma injustiça já é produzida. Colocar todos no mesmo parâmetro é uma injustiça.”
Para o professor Marcus Vinicius Rosa, um dos desdobramentos positivos das políticas de cotas é o impacto epistemológico provocado pela entrada de docentes e alunos negros no mundo acadêmico. “Há uma renovação de temas, de linhas de pesquisa, de necessidade de busca por novos autores. Em um ambiente de conhecimento e inovação, isso é fundamental”, reflete.
Exposição Negras e Negros que constroem a UFRGS, UFCSPA e IFRS
Nesta quinta-feira (21), às 17h no saguão da Faced, acontece a vernissage da 2ª Edição da mostra “Negras e Negros que constroem a UFRGS, UFCSPA e IFRS”.
A mostra tem como objetivo a valorização dos Servidores Negros e Negras da base da Assufrgs Sindicato e está aberta para visitação até o dia 22 de novembro, entre 07h e 22h, no saguão da Faced – UFRGS.
A proposta original da exposição era fotografar os Técnico-Administrativos em Educação, porém durante a sessão de fotos, professores, terceirizados e estudantes também foram fotografados.
A mostra é itinerante; após a passagem pela Faced, irá circular por outros campi da base da Assufrgs.
ANDES-SN lança sua Cartilha de Combate ao Racismo
Elaborado pelo Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, questões Étnico-raciais, Gênero e Diversidade Sexual do Sindicato Nacional (GTPCEGDS), a cartilha soma-se às estratégias de enfrentamento a opressões, como as agendas de luta contra a LGBTTfobia e os assédios moral e sexual. “Tais agendas, bem como os materiais de formação com essas temáticas, são fundamentais para combater as opressões nos espaços educacionais”, frisa a entidade, lembrando que uma das formas mais sutis do racismo é dizer que ele não existe.