02 de setembro de 2019
A SINDUFFS/ANDES-SN, Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), emitiu nota neste final de semana repudiando a intervenção do governo federal na escolha do reitor da instituição. A nomeação do professor Marcelo Recktenvald, publicada na sexta-feira (31) no Diário Oficial, desconsidera o processo democrático pelo qual a comunidade universitária escolheu o reitor e a vice-reitora. O ANDES/UFRGS também condena mais essa intervenção praticada pelo governo federal, desrespeitando a autonomia universitária, e presta solidariedade à comunidade acadêmica da UFFS.
O dirigente nomeado sequer chegou ao segundo turno na votação, realizada no primeiro semestre deste ano: ficou com menos de 20% dos votos na consulta à comunidade, e no Conselho Universitário teve apenas 4 votos. “Uma afronta e um desrespeito, um riso sarcástico na cara de toda a UFFS. Não seremos coniventes com esta medida autoritária”, afirma a SINDUFFS, conclamando professores e professoras a se somarem nas mobilizações em defesa da democracia. Nesta segunda (02), às 16h, ocorre Assembleia Geral da categoria para deliberar sobre as próximas ações.
A Direção da UFF – Campus Erechim também criticou a medida em nota pública, apontando que a nomeação “não representa o projeto democraticamente legitimado pela Comunidade Universitária da Instituição”. O diretor, Luís Fernando Santos Corrêa da Silva, reafirmou o compromisso da instituição com a autonomia universitária “e com os preceitos democráticos que devem orientar o projeto institucional da UFFS, tendo em vista o seu caráter público, popular e de qualidade”. A posse de Recktenvald está agendada para quarta-feira (04), em Brasília.
A eleição
O processo de escolha de composição da lista tríplice para reitoria foi o segundo na história da UFFS, que tem campi em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. O primeiro turno, realizado em 29 de abril deste ano, contou com quatro chapas inscritas e participação de mais de 6 mil pessoas. Recktenvald teve 21,40% do total de votos, ficando em terceiro lugar.
O reitor nomeado por Bolsonaro não chegou a participar do segundo turno do processo, em 28 de maio – participaram as duas chapas mais votadas. O resultado foi Anderson André Genro Alves Ribeiro em primeiro lugar, com 54,1%, e Antônio Inácio Andrioli, com 45,9%.
Protestos e greve estudantil em defesa da autonomia universitária
(foto: Portal Desacato / Sinte Palmitos)
Cerca de 100 estudantes ocuparam a entrada da reitoria em Chapecó, no oeste catarinense, na noite de sexta-feira (30). No sábado, houve manifestação no centro da cidade. Estudantes de História, por meio do Centro Acadêmico, anunciaram greve do corpo discente do Departamento. “Não devemos, não podemos e nem sequer queremos compactuar com uma perspectiva política que visa o desmonte da educação superior pública e de qualidade”, destacam os alunos, que já suspenderam as atividades. Nova deliberação está agendada para a quarta-feira (04).
A Via Campesina, juntamente com movimentos de trabalhadores rurais, também está mobilizada. “Convocamos toda a população de Cerro Largo, Passo Fundo, Erechim, Chapecó, Laranjeiras do Sul, Realeza e regiões próximas, os sindicatos de trabalhadores das diversas categorias, as associações de moradores, as dioceses, as paróquias, e demais movimentos sociais e populares para se fazerem presentes nos campi da UFFS nos próximos dias para em conjunto construirmos a força necessária e impedir que tal decisão se consolide”, destaca o manifesto assinado em conjunto. “Desde sua criação a UFFS se propõe a ser uma instituição de ensino pública, democrática e popular, acessível aos filhos e filhas da classe trabalhadora, desenvolvendo ensino, pesquisa e extensão de qualidade, de forma a atender às demandas da comunidade regional dos territórios em que está inserida.”
Arbitrariedades em sequência na nomeação de reitores
Desde que assumiu a presidência, Jair Bolsonaro interveio em sete de 12 nomeações de reitores de universidades federais. Em agosto, a medida aconteceu na Universidade Federal do Ceará (UFC), surpreendida pelo Decreto Presidencial que nomeou para reitor o terceiro colocado da lista tríplice, o professor José Cândido Lustosa Bitencourt de Albuquerque.
Em nota, o ANDES-SN recriminou a conduta, classificada como “irrefutável desrespeito à decisão democrática da universidade, que elegeu o Prof. Custódio Luís Silva de Almeida”. Albuquerque obteve apenas 4,61% dos votos.
Na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ), a nomeação envolveu reitores que sequer integravam a lista tríplice das comunidades acadêmicas. Já nas Universidades Federais do Triângulo Mineiro (UFTM), do Recôncavo Baiano (UFRB), dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), assim como na UFC e na UFFS, foram nomeados docentes não escolhidos pela comunidade.