Com abstenção recorde de 51,5%, o Enem 2020 foi marcado por um cenário caótico de desorganização e risco de transmissão do novo coronavírus. O exame foi mantido pelo governo federal mesmo com a pressão de diversos setores da Educação e da sociedade em geral.
O primeiro dia de provas presenciais ocorreu neste domingo (17), com inúmeros os registros de estudantes impedidos de entrar por conta de lotação de salas de aula, além de filas, aglomerações e muita desorganização.
Entidades de Saúde e Educação, além de docentes, estudantes, pais e secretários de governo, insistiram na necessidade de transferência de data como medida de segurança sanitária, e a Defensoria Pública da União (DPU) pediu à Justiça Federal o adiamento, que foi negado. No Rio Grande do Sul, o DCE UFRGS e a APG UFRGS ingressaram com ação local solicitando nova data.
Além de anunciarem uma ação judicial no Ministério Público Federal (MPF) e mobilizarem os estudantes a denunciar individualmente o calendário no site do MPF, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) também reforçaram a campanha #AdiaEnem nas redes sociais, cujo abaixo-assinado já soma mais de 365 mil nomes – quase 99% da meta. O ANDES-SN se uniu à ação, e convoca toda a categoria a participar da iniciativa acessando aqui.
Mesmo com tantos apelos e campanhas direcionadas ao Ministério da Educação (MEC), o ministro da Pasta, Milton Ribeiro, atribuiu a ausência de 2.842.332 inscritos não só ao medo do contagio, mas a um suposto “trabalho de mídia contrário” ao Exame. Ribeiro ainda comemorou a vitória da pasta nas quase 20 ações movidas na Justiça contra a realização do Enem, com exceção do Amazonas (saiba mais abaixo).
O próximo dia de provas do Exame está agendado para domingo (24).
Caos e descaso
Nos lugares onde a prova foi aplicada, os relatos apontam locais com pouca ventilação, filas e salas com mais de 50% da capacidade (máximo apontado como seguro pelo Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Estudantes de estados como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul relataram não poder entrar por decisão das equipes locais. “Cheguei super cedo no lugar, mas quando entrei na fila pra entrar me disseram que não tinha lugar pra todo mundo na sala”, conta Tayna Guedes Bampi, em reportagem do G1.
Segundo a estudante, funcionários teriam dito que ela realizaria a prova em outra data, em 24 e 25 de fevereiro, sem qualquer comprovante. “Só marcaram com caneta no meu nome”.
A mesma data prometida à estudante foi anunciada pelo Inep para o Exame no Amazonas, onde decreto suspendeu as provas devido ao colapso sanitário. Apesar disso, o governo federal, que insiste em ignorar a gravidade da pandemia, chegou a recorrer, por meio de ação da Advocacia-Geral da União (AGU), para tentar manter as provas no estado, mas a Justiça determinou que a suspensão siga enquanto durar o estado de calamidade pública.
Vestibular da UFRGS
Ainda sem data em função da pandemia, o Vestibular 2021 da UFRGS também é motivo de preocupação. Em dezembro, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFRGS (CEPE) definiu regras excepcionais para o período de emergência decorrente da pandemia.
As alterações aprovadas na Resolução N° 46/2009 reduzem o tempo de duração do certame de 4 para 2 dias, e o número de questões em cada prova de 25 para 15. A Pró-Reitoria de Ensino (PROENS) argumenta que a redução permitirá, sem custos elevados, aumentar o número de salas locadas, de modo a garantir uma ocupação máxima de 50% da sua capacidade, viabilizando o distanciamento necessário entre os vestibulandos.