Mesmo no pior contexto da pandemia até o momento, com 97,4% dos leitos de UTIs disponíveis ocupados e superlotação de 400% em prontos-atendimentos da cidade, a Prefeitura de Porto Alegre ignora as orientações de especialistas em saúde e manterá regras flexíveis de cogestão do distanciamento controlado.
No mapa de distanciamento controlado do governo do Estado, a Capital foi classificada em bandeira preta. No entanto, a manutenção do sistema de cogestão – autorizada pelo governador Eduardo Leite em meio à pressão de prefeitos – permite que governos municipais apliquem as regras da bandeira inferior, o que foi adotado na Capital.
O prefeito Sebastião Melo disse não ver relação entre a sobrecarga hospitalar e o funcionamento das atividades econômicas. “Nós vamos reduzir as UTIs pelo fato de fechar o comércio? Esse debate tem que vir com pé no chão, se tiver algum indicativo de que isso é a causa do aumento (da ocupação dos leitos) não tenho dúvida que eu mudo de opinião”, manifestou em reportagem do Correio do Povo.
Além de manter comércio não essencial aberto, Melo definiu que as aulas da Educação Infantil e dos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental das escolas municipais fossem retomadas na terça-feira (23), mesmo dia em que a Capital atingiu o novo recorde de 403 pacientes internados em terapia intensiva – 20 acima do teto de 383 vagas previsto pelo município para o novo coronavírus.
“Chegamos ao limite. A própria prefeitura tem um dado que aponta projeção de colapso completo do sistema em uma semana. E a gente não vê as pessoas fazendo coisas para evitar isso. Os gestores precisam ir até os hospitais, ver o que está acontecendo. Não é só olhar a planilha. É hora de chegar numa emergência, ver o que está ocorrendo. Vai ter impacto, não resta dúvida. A mortalidade vai subir muito. Os resultados do Rio Grande do Sul vão ser modificados. O quadro é grave. Chegam outros doentes, não só com covid-19. Estamos com dificuldades para acomodar os pacientes com outras doenças. É bastante desgastante”, alerta o professor da Faculdade de Medicina da UFRGS Alexandre Zavascki, que é chefe do setor de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, em reportagem do portal Gaúcha ZH.
Vacina para todos
Em nota, o Comitê Covid-19 da UFRGS reiterou a necessidade de ampliação de oferta de vacinas para proteger toda população e reduzir a circulação do vírus, assim como a importância da ampliação das ações de vigilância epidemiológica e da criação de estratégias de emergência no acolhimento da população na atenção básica, garantindo acesso aos cuidados e sua continuidade.
“Precisamos do comprometimento de cada um e da sociedade como um todo para manter o distanciamento físico entre os indivíduos, a redução de circulação das pessoas pela cidade, a higiene das mãos e o uso correto de máscaras, medidas fundamentais neste momento para a contenção da pandemia e em defesa da vida”, dizem os especialistas.
Em atendimento às recomendações do Comitê, a Administração emitiu Portaria suspendendo por 15 dias todas as atividades que não sejam estritamente essenciais. Por maioria, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) decidiu na reunião desta quarta-feira (24) não marcar a data do vestibular sem ouvir o Comitê.
Até agora, Porto Alegre registrou 100.362 pessoas vacinadas contra a doença. Isso equivale a 6,75% da população total da cidade, que ainda precisa da segunda dose para ser considerada imunizada.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, afirmou que o Rio Grande do Sul deve receber mais 200 mil doses nos próximos dias, e não descarta novas restrições no Estado para frear o contágio.
Sistema em xeque
A UPA Moacyr Scliar, na zona norte da cidade, já fechou as portas pelo do esgotamento da capacidade, e postos de saúde seguem superlotados, com filas de sintomáticos aguardando atendimento por horas. Até a tarde de terça-feira (23), 14 pacientes entubados nestes locais aguardavam transferência para hospitais.
Melo requisitou integração do Hospital Beneficência Portuguesa à rede de atendimento SUS para ampliar a oferta de leitos, o que deve ocorrer a partir de quinta-feira (25). Contudo, serão somente 10 novos leitos de UTI e 40 leitos clínicos, sendo que 46 pacientes que testaram positivo para o vírus aguardam espaço de UTI em emergências hospitalares.
RS em alerta
No Rio Grande do Sul, 87,2% dos leitos de UTI adulto estão ocupados, a maior taxa desde o início da pandemia. Destes, 1.220 são por Covid-19, e outros 173 aguardam confirmação. No total, o Estado contabiliza 3.597 internados pelo vírus, além de outros 927 casos suspeitos.
“A curva de crescimento de internações desta semana é inédita, e o número de internados teve um crescimento brutal [de 2.383 casos em 24/1 para 4.325 no dia 23/2]”, informa Bruno Naundorf, integrante do Gabinete de Crise da Secretaria da Saúde estadual. No total, mais de 612 mil casos da doença já foram registrados em território gaúcho.
Leia aqui recomendação do Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento à Pandemia do Governo do Estado do RS