Breque dos Apps: precarização acelerada precisa de um freio

Além da pandemia de Covid-19, o mundo tem vivenciado uma das mais poderosas crises do capitalismo moderno, afetando principalmente pobres, minorias e a classe trabalhadora. Especificamente no Brasil, o problema se potencializa com o avanço das políticas neoliberais, que alavancam o desemprego e fragilizam ainda mais as condições de vida e trabalho.

É neste cenário que vem ganhando forma o chamado “Breque dos Apps”, movimento de entregadores que, buscando fugir da exploração promovida pelas companhias responsáveis por aplicativos de entrega – como IFood, UberEats, Rappi, entre outras –, tenta se organizar de forma independente e efetivamente autônoma.

A rede, que já organizou paralisações nacionais e contou com apoio de milhares de consumidores, planeja montar uma cooperativa que ofereça o mesmo serviço das grandes empresas, mas cuja renda seja efetivamente revertida a quem operacionaliza o serviço.

“Durante a  pandemia, enquanto as empresas dobraram o lucro pelo aumento da demanda, os entregadores tiveram impactante redução nos valores recebidos porque aumentou muito o volume de cadastros na plataforma – consequência do desemprego de uma juventude que já era precarizada”, contextualiza Tirza Drumond Ferreira, que é entregadora, além de coordenadora Geral do DCE da UFRGS. De acordo com a estudante, o enorme e inesperado crescimento da operação de entrega prejudicou não apenas quem já atuava, como aqueles recém-integrados. “É importante que os clientes saibam que não recebemos qualquer tipo de suporte ou vínculo, o que deixa as condições de trabalho degradantes. A atividade por si só já é brutal, pois passamos muito tempo na rua, sem acesso a banheiro, estrutura, alimentação. A maioria mora longe do centro, tornando inviável retornar em casa para fazer uma refeição. E raramente se tem dinheiro para comer fora”, aponta.

Precarização sobre rodas

As contratantes se definem como empresas de tecnologia – e não de delivery – sem vínculo com os trabalhadores. Os entregadores não recebem remuneração mínima nem plano de saúde, assumindo para si todos os riscos da atividade laboral.

Em plena pandemia, ainda desempenha sua função sem custeio de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nem “benefícios” como vale-refeição e seguro contra roubo e acidente.

De acordo com pesquisa elaborada por membros da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho), da Unicamp, quase 60% dos entregadores tiveram queda nos ganhos durante a epidemia do novo coronavírus no Brasil. 26,7% dos entrevistados afirmaram ganhar acima de dois salários mínimos. Antes da pandemia, eram mais da metade (51%). Agora, 34% disseram receber até um salário mínimo por mês. Apesar das péssimas condições, Tirza enfatiza que, graças a muita ajuda voluntária, os entregadores têm evoluído rumo à reorganização, incluindo auxílio técnico e de logística. “A tecnologia é uma modernidade interessante, mas, dentro do sistema capitalista, acaba não melhorando a vida da classe trabalhadora, e sim explorando ainda mais. Por isso esse movimento tem sido muito legal, mostrando que se pode usar isso justamente numa relação em busca de garantir melhor qualidade de trabalho para quem precisa.”

Para contribuir com a mobilização, que também pretende criar um fundo para auxiliar os/as entregadores em emergências e imprevistos, pode-se fazer doações através do link https://apoia.se/entregadoresantifascistas.