Assembleia Docente delibera pela resistência à intervenção

 

Nesta quinta-feira (17), às 16h,em Assembleia Geral convocada pelo ANDES/UFRGS, docentes se reuniram para tratar do ponto de pauta “Intervenção na nomeação para a reitoria da UFRGS”. A assembleia aconteceu virtualmente, em razão do necessário distanciamento social durante a pandemia, o que está legalizado em caráter excepcional enquanto durar a calamidade pública.

Além de docentes, estiveram presentes representações da Assufrgs e da APG-UFRGS. Vanessa Dias, coordenadora da APG, em uma saudação às e aos professores afirmou que a entidade “repudia essa intervenção e a nomeação do professor Bulhões”.  Outro ponto trazido por Vanessa foi o peso desigual no voto de estudantes e técnicos-administrativos em educação: “nessas eleições, além da falta de paridade, nós tivemos o fato redutor que diminuiu ainda mais a votação dos estudantes. Eleições precisam ser paritárias, sem lista tríplice, e que se encerrem na própria instituição”.

As atividades foram conduzidas pela Presidenta do ANDES/UFRGS, Rúbia Vogt, professora do Colégio de Aplicação. A docente ratificou a posição do Sindicato “pelo voto universal ou paritário, sem o mecanismo da lista tríplice, que se manteve, herdada da ditadura”. A UFRGS é a décima quinta universidade brasileira com alguma parte do seu processo desrespeitada ou desconsiderada. Rúbia destacou que “nem todos os casos são iguais, mas em todos a gente vê a mão do governo Bolsonaro na escolha de alguém que tenha algum alinhamento com o governo”. Dentre os elementos comuns aos interventores nomeados por Bolsonaro, estão ideias da escola sem partido, que na verdade é uma escola com mordaça, e maior aproximação entre as universidades e as empresas, colocando aquelas a serviço destas.

Autonomia e paridade em questão

Dentre as falas, ficou claro que não se trata de defender a nomeação de um nome específico enviado na lista tríplice, mas de denunciar e fazer resistência à intervenção do governo federal  que nomeia um professor que foi o menos votado tanto na consulta à comunidade, quanto no colégio eleitoral. As e os presentes apontaram a necessidade de defender a democracia na Universidade e de lutar pela constituição de um colegiado paritário para que possamos ter mais vozes e mais igualdade nos processos de escolha na Universidade.

Quanto à paridade na UFRGS, que é uma bandeira histórica da Seção Sindical, foi lembrado que  fizemos, na última consulta, a entrega do resultado paritário para o Consun. Além de reforçar a defesa da paridade, foi apontado que o processo na UFRGS tem algumas contradições e não é fácil discernir as questões internas. Afinal, em uma concorrência de três chapas, uma que foi a mais votada na consulta à Comunidade Universitária, a outra que ganhou no Consun e uma terceira, que não ganhou nem na consulta, nem no Consun, mas foi nomeada pelo governo Bolsonaro.

Histórico antidemocrático

A intervenção do governo federal, ao nomear Carlos André Bulhões como Reitor, culmina uma sequência de momentos antidemocráticos que a UFRGS vive. A nomeação do professor Bulhões não representa a vontade da comunidade em nenhum cenário.

Docentes manifestaram desconforto na defesa de um processo de consulta marcado por votações secretas, cerceamento de falas e redução dos pesos dos votos de estudantes e técnicos-administrativos em educação.

Outra preocupação apontada por colegas docentes são os processos de escolha de diretores de unidades, que devem acontecer nos próximos meses. Com um reitor que não foi eleito, não há garantias de  que a vontade da comunidade das unidades na escolha de seu dirigente seja respeitada. Em 2016, os processos de escolha de diretores de algumas unidades que foram realizados com paridade já haviam sofrido interferência da atual administração central, que devolveu os processos às unidades exigindo que a consulta cumprisse o percentual de votos 70-15-15.

O contexto, que está marcado pela Reforma Administrativa, já em tramitação na Câmara dos Deputados, e pelo PL do Future-se, que pode entrar em tramitação na Câmara de Deputados em breve, torna a nomeação de Bulhões mais um elemento do ataque às universidades.

Encaminhamentos

A Assembleia Geral contou com presença muito expressiva de docentes, um sinal da preocupação da categoria que ficou chocada pela nomeação autoritária e antidemocrática de Bolsonaro.

Como resultado da deliberação, foram aprovados os seguintes encaminhamentos:

– Dia 30 de setembro: participar do ato chamado pela Fórum dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul, que terá concentração às 11h, saindo do entorno do HPS até o Campus Centro;

– Caracterizar como intervenção do governo federal a nomeação do prof. Bulhões como reitor;

– Lutar pela reversão da nomeação do último colocado na consulta à Comunidade e na votação do Consun, Prof. Bulhões;

– Considerar o professor Bulhões de Reitor interventor;

– Buscar a unidade com estudantes e técnicos na resistência à intervenção na UFRGS;

– Buscar unidade com setores de fora da UFRGS contra a intervenção na Universidade;

– Levar o tema das intervenções para o 9º Conad Extraordinário, buscando organizar a luta nacionalmente.