Apresentação de Relatório do ERE é marcada por contestações em relação aos dados

 

Em sessão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFRGS realizada na última quarta-feira (7), a Comissão de Acompanhamento do Ensino Remoto Emergencial (ERE) apresentou seu relatório de avaliação do modelo referente ao período letivo 2020/1, com dados questionáveis a respeito da experiência dos usuários. Além de críticas sobre a composição do grupo, que não é paritário, conselheiros contestaram várias conclusões do estudo, que aparentam ser representativas de  uma minoria da instituição.

“O primeiro ponto que me chamou a atenção foi o fato de o ERE ser voltado para regular a graduação, e a pesquisa ter considerado respostas dos alunos da pós-graduação. Assim, concluo que percentual de respondentes ao questionário seja inferior aos 22% relatados, o que também compromete os resultados qualitativos”, analisa Patrícia Brito, representante dos Técnicos Administrativos em Educação.

Segundo a conselheira, outro ponto bastante comentado foi o fato de não serem considerados indicadores de raça/etnia, gênero, situação socioeconômica e maternidade, entre outros fatores de exclusão.

“Muito por força das ações afirmativas, a universidade é povoada por pessoas pertencentes a grupos e realidades heterogêneas que merecem ser consideradas  em qualquer pesquisa para que os seus resultados possam servir de suporte à qualificação das políticas de permanência”, pondera.

Patrícia lembra, também, que trabalhando em contato constante com estudantes, acompanha as dificuldades de mães que estão assumindo de forma integral os cuidados com os filhos, além de outras situações agravadas pelas questões sanitárias. “Não acredito que para estas pessoas o formato do ERE esteja funcionando tão bem”, previne a servidora.

Positivo para quem?

A pesquisa foi realizada em outubro de 2020, com o objetivo de colher indicadores sobre as condições pedagógicas e as circunstâncias pessoais de estudo e trabalho da comunidade. Foram contempladas as impressões de 41% dos 2.906 docentes, 22% dos 44.341 alunos(as) – incluindo graduação e pós-graduação – e de 19% entre 2.549 técnicos(as) administrativos em educação ativos(as).

Conforme o levantamento, a avaliação geral de professores e professoras foi positiva, a adaptação às atividades de ensino foi adequada e a participação discente possibilitou a conclusão das atividades. “A maioria dos docentes (74%) julgou que estava parcialmente preparado para as atividades remotas, 22% estavam preparados e 4% não estavam preparados para este tipo de atividade”, diz o documento.

“Ora, como falar de adesão quando apenas um quarto do segmento respondeu ao próprio questionário, instrumento priorizado para a avaliação?”, pontua a professora Sandra Longuercio, representante docente no CEPE, que reforça a inconsistência do material.

“Como houve adesão se o relatório traz a informação de que a exclusão de matrículas aumentou em 74% se comparada a semestres anteriores? O que dizer da quantidade de registros NI, que constituem um preocupante problema tanto para discentes, que ficam presos a disciplinas sem tê-las cursado efetiva ou adequadamente, quanto para professores, que terão de tratar, paralelamente a suas atividades habituais, os casos de cada estudante em tal situação?”, acrescenta.

Contradições

A percepção dos discentes manifestada pelo documento também aparece como positiva. “Em todas as perguntas a porcentagem de estudantes satisfeitos com o ERE foi maior do que os insatisfeitos, e na avaliação geral cerca de 81% consideraram a experiência com o Ensino Remoto durante a pandemia no mínimo regular”, informa o relatório.

Contudo, mesmo dentro da pequena amostra, 13% excluíram a matrícula em uma ou mais Atividades de Ensino devido à falta de equipamentos necessários.

“Caminhar na direção do conformismo irremediavelmente leva à conclusão de que o Ensino Remoto Emergencial é um sacrifício sem sentido, além de algo inviável sob condições mínimas pra um trabalho saudável”, opina Jean-Jacques, representante discente suplente, que avalia os dois semestres remotos como um “caos”.

“Para além desses dados do relatório, o que de fato tem acontecido com aqueles que concluem as disciplinas e são aprovados sem um efetivo e qualificado acompanhamento docente, afrouxado pelas mais distintas razões, que vão desde orientações do próprio regulamento até a consideração da extrema fragilidade física e mental em que se encontra a comunidade universitária, sem contar a própria tentativa de evitar o NI?”, reflete a professora Sandra.

“Na prática, muito provavelmente a universidade esteja voltando a ser reduto de uma classe privilegiada, e isso não pode ser naturalizado”, analisa.

ANDES/UFRGS defende diálogo

O ANDES/UFRGS, que desde a suspensão das atividades presenciais vem chamando a Administração Central à reponsabilidade sobre as implicações do sistema remoto, destaca que as dificuldades e os problemas relatados na Avaliação não podem ser minimizados. “A Comissão de Acompanhamento escolheu consultar docentes e técnicos por meio de questionário, um instrumento que não valoriza o diálogo nem a diversidade”, lamenta a Seção Sindical em nota.

“É preciso tratar dessas questões com a comunidade acadêmica, para corrigir e aperfeiçoar os próximos planejamentos e, ainda, para conhecer as limitações e contradições do Ensino Remoto Emergencial. É preciso construir espaços de avaliação com a participação de toda a comunidade”, enfatiza a entidade, criticando a postura da Universidade de sequer ter mencionado uma política de apoio em relação à estrutura remota da comunidade.  “Ainda em 2020, o ANDES/UFRGS solicitou à Administração Central atenção a essa questão, demanda para a qual ainda não obtivemos resposta”.